Por Mariana Mendes, Jornalista -SP

mariana.mendes@mulheresjornalistas.com 

Editora Chefe: Letícia Fagundes 

As adaptações necessárias feitas por atletas e organizações universitárias após o cancelamento de competições.

“Acho que o primeiro pensamento de todas as pessoas do mundo foi ‘Em 15 dias estamos de volta, vamos nos preparar para quando voltar tudo, treinos e demais atividades da Atlética’. Porém, após o segundo mês sem aulas e em casa, nós tocamos que aquilo seria muito maior do que esperávamos”, diz Arthur Mantovani, estudante da USP.

A extensão da pandemia afetou diversas áreas em todo o mundo e uma delas foi o esporte universitário. Com cerca de 4 mil atléticas universitárias no Brasil, organizações dentro das faculdades criadas pelos alunos para incentivar o esporte e a cultura, o isolamento de mais de um ano afetou os alunos que praticam esportes e organizam as competições.

Arthur foi presidente da atlética da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP (FEA) em 2020 e conta como foi a adaptação da associação após os acontecimentos. “Para os times, sabíamos que a chance de nos afastarmos deles durante a pandemia era gigantesca, e que em qualquer atlética, isso nunca pode acontecer. Com isso, ficou a cargo principalmente dos nossos diretores gerais de esportes de 2020, que tiveram suas funções em grande parte diminuídas pela falta do presencial, manterem a relação com os times próximas, e pensar em formas de proporcionar a eles, qualquer coisa que ainda instigasse o sentimento de pertencimento com o time e com a faculdade”.

Este afeto com a instituição de ensino é algo destacado nos relatos dos alunos em relação a consequência da pandemia. Para Felipe Gomes, diretor de esporte geral da AAA Jesse Owens, atlética da Faculdade Cásper Líbero, o primeiro sentimento com os adiamentos de atividades e aulas online foi a frustração. “Todo mundo já estava preparado o ano passado. Os times já estavam treinando há quase dois meses, já estava com o cronograma organizado e do nada, tudo foi interrompido. Primeiro, os nossos jogos foram adiados para o fim do ano, então tentamos manter nossos times treinando de forma online, sempre com a esperança de que tudo melhorasse.”, diz.

Entretanto, com a perspectiva de melhora diminuindo a cada dia, as atléticas precisaram se renovar. Arthur conta sobre algumas das ações feitas pela Atlética FEA para manter os alunos engajados com a organização. “Para os calouros, tentamos sempre aproximá-los do que é a nossa faculdade e dos trabalhamos da nossa atlética, como funcionam os treinos, apresentação dos times, histórias de atletas e ex atleticanos, programa de associados para os alunos, literalmente tudo que é importante e essencial na cultura da FEA foi difundido de alguma forma para atingir esse público que não iria viver nada no presencial.”, comenta.

“Além dessa parte mais voltada para nossas tradições, realizamos também lives esportivas com grandes atletas brasileiros, como Cafu e Fofão, e lives beneficentes com artistas nascidos na FEA que hoje tem um grande nome no brasil, como os Ventura.”, completa Arthur.

Felipe também conta sobre as primeiras ações da A.A.A. Jesse Owens.  “Primeiro, procuramos manter os atletas focados com os treinos online. A atlética também organizou treinos abertos e atividades diferentes como yoga e dança para manter os alunos e atletas mais integrados com a gente. Isso funcionou por um bom tempo, mas depois os treinos online foram cansando. Quando se tinha um objetivo – treinar online e pensar no campeonato – era uma coisa. Com a situação piorando e os campeonatos cancelados, foi se mostrando cada vez mais difícil manter a motivação de todo mundo.”, explica.

A importância da Atlética na vida universitária não acontece apenas no incentivo do esporte, mas faz parte de toda a experiência dos anos de formação. Para Victor Garcia, 21 anos, aluno da Faculdade Cásper Líbero, o distanciamento do esporte universitário afetou a relação com a faculdade. “Acredito que a pandemia arruinou os planos de muitos universitários que, assim como eu, frustraram-se ao saber que não poderiam competir em seu último ano de faculdade e encerrar esse ciclo da melhor forma e do jeito que imaginaram.”, relata.

Apesar dos esforços de manter os alunos próximos às atléticas, Victor foi uma das pessoas que não conseguiu se manter motivado durante este período. “Infelizmente pratiquei pouquíssimo exercício físico dentro de casa, mais por falta de vontade e desânimo com toda a situação do mundo e até mesmo por saúde mental. As poucas vezes que me exercitei me fizeram muito bem, além de aliviar um pouco o estresse do dia a dia e distrair a cabeça do caos do mundo lá fora.”

Victor trabalha com outros atletas, sendo o diretor de modalidade da natação, esporte que competia pela A.A.A. Jesse Owens. Ele conta como foi o impacto da paralisação nos treinos para o time. “Diferente de outros esportes, não é tão simples treinar natação em casa, ainda mais sem uma piscina. E até mesmo para aqueles sortudos que tinham acesso à uma piscina, muitas vezes a metragem da mesma não era adequada, fazendo com que o treino não fosse tão proveitoso assim.”, conta.

As atléticas também desembolsam dinheiro para manter as atividades esportivas funcionando durante o ano. Por isso, houve impacto da pandemia no financeiro da organização. Felipe Gomes explica: “As festas são o que mantém o esporte vivo, pagando treinador, quadra, inscrição de campeonato. Sem festa, não há arrecadação. Não tinha dinheiro entrando, nem saindo. Mas tinha os treinadores e nós continuamos pagando-os, com redução de salário, para ajudar eles neste momento complicado e manter o vínculo”.

Já para a FEA, o impacto não foi tão extenso assim. Arthur conta que o gasto fixo dos treinos passou a não existir mais e eles procuraram compensar o dinheiro com produtos vendidos e ações, criando uma reserva para a volta do esporte presencial. “Enquanto não houver condições de segurança para a volta aos treinos, esse ciclo se manterá, os gastos fixos da entidade muito abaixo do normal, gerando um acúmulo em forma de reserva, que serão usados para melhorar o desempenho das equipes como um todo na volta aos treinos.”, explica.

Ainda há incerteza quanto ao futuro do esporte universitário. Entretanto, Arthur Mantovani acredita que os quase dois anos sem competições e contato presencial na faculdade afetará a relação profundamente. “O esporte universitário sempre foi mantido vivo pelas pessoas que amavam se envolver com aquilo, seja jogando, seja organizando e principalmente torcendo pela sua faculdade.”, diz.

“Após duas gerações de alunos das faculdades que não tiveram essa experiência do esporte universitário como ele realmente é, a tendência é que apareçam cada vez menos pessoas que tenham vontade de levar isso pra frente, que se interessem pelo esporte, e consequentemente pelo esporte universitário. O que amamos passa por uma situação trágica e talvez irreversível, não sei o que esperar do esporte universitário pós pandemia, e o que as marcas desses quase dois anos vão deixar.”, conclui.