Por Marta Dueñas, Jornalista 
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Fatos e dados que deveriam estar registrados no diário de bordo de qualquer cidadão brasileiro

Na contramão do poético Diário de Motocicleta, o diário de um Jet Ski poderia ser o longa do Governo Bolsonaro, que seguiu passeando com sua moto aquática na praia enquanto centenas de pessoas estavam ficando desabrigadas ou morriam com as intensas chuvas nos estados da Bahia e Minas Gerais no início deste ano. Nenhuma manifestação, tampouco visitou os locais. O Presidente Jair Bolsonaro simplesmente seguiu em férias nas praias de Santa Catarina andando de jet ski, completamente alheio às agendas sociais do país, tal como fez durante a pandemia, ou melhor, durante sua gestão.

É tentador dizer que o país está à deriva. Mas existe uma agenda programática de extermínio que fica clara quando ligamos fatos marcantes dos últimos tempos, tais como: desemprego, inflação, pobreza e fome. As ações na Educação, na Cultura e no Meio Ambiente não são menos trágicas. Este é um governo que vira as costas para as pessoas e a incompetência no enfrentamento à pandemia é só uma das provas disso.

Assim como as férias presidenciais, as mancadas, erros e desmontes são constantes. A crise econômica e a energética. Os desastres climáticos. Os desacertos internacionais e as crises diplomáticas. O apagão de informações com a falta do Censo, o sumiço do Currículo Lates e os dados do Infosus. O empobrecimento da população. A população fazendo fila para pegar ossos e restos para servir à mesa. A volta da fome, o aumento da pobreza e do analfabetismo. Vacinas negociadas com propina. O gabinete do ódio e a estratégia de fake News. A perseguição a jornalistas e mulheres por parte do presidente e o aumento da violência contra mulheres no país.

O diário do Jet Ski coleciona passagens vergonhosas em todos os setores do governo. Do Turismo ao Banco Central. Vale lembrar que o Presidente disse que o “Brasil não pode ser o país do mundo gay, de turismo gay”. Para completar, ainda disse: “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. E quando as coisas ficam difíceis para o lado do Planalto, a solução é aniquilar ou deletar como fizeram com uma sessão especial do site do Ministério do Meio Ambiente, que continha mapas de áreas prioritárias para conversação.

O Governo Bolsonaro decretou o fim do horário do verão. Tentou, por meio do Ministério da Educação, retirar o termo “golpe militar” dos livros escolares. O Presidente censurou a publicidade de estatais impedindo o retrato da diversidade. Apesar de defender família e propriedade, não aceita o direito a terra no caso da reforma agrária ou dos povos tradicionais. Bolsonaro disse que invasão de terra tem que ser qualificada como terrorismo, mirando diretamente os movimentos populares. Se mulheres mereciam xingamentos, militares, assassinos e torturadores foram homenageados. Bolsonaro elogiou Alfredo Stroessner, ditador paraguaio durante evento naquele país. Elogiou também os ditadores brasileiros Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.

Me cabe fechar este artigo no dia em que o Presidente declara luto oficial pela morte do seu guru Olavo de Carvalho, tendo ignorado perdas como de Elza Soares, Paulo Gustavo, Beth Carvalho, Tarcísio Meira, Eva Wilma, entre outros. Sem contar a pouca importância que deu quando o Brasil contabilizou 500 mil mortes em decorrência da covid-19. O mesmo aconteceu na marca das 600mil. Um capítulo a mais do diário.

O diário não é pequeno. Não terminou ainda. Mas tem chance de estar nas últimas páginas.

Um presidente que é ícone da crise estética contemporânea não poderia ter outro influencer senão Olavo de Carvalho. O dito morreu de covid não sem antes ter negado a pandemia, ridicularizado médicos, pesquisadores e cientistas e trabalhado incansavelmente contra a vacina e contra a ciência. Vai tarde.

O que eu espero do último ano de Bolsonaro? Espero que acabe. O próximo desafio será reestabelecer a civilidade no Brasil, retomar agendas estruturais de educação, saúde, cultura e direitos humanos. O Brasil vai ter que se reinventar após Bolsonaro. Que tenhamos muitas mãos para reescrever essa história.