O Brasil de Bolsonaro é uma aventura de mau gosto
Por: Marta Dueñas, jornalista
E-mail: martinha.duenas@gmail.com
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
“Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês”, disse Bolsonaro ao jornalista Dom Philips durante entrevista em julho de 2019. O questionamento de Dom era sobre como o presidente pretendia mostrar ao mundo que o governo realmente tinha uma preocupação com a preservação da Amazônia.
O discurso do Bolsonaro é sempre real e pouco simbólico. Ele é um homem de baixa elaboração e que frequentemente vai a ato com ataques, ofensas e gestos violentos. A Linguagem do presidente prova muitas coisas. A frase “a Amazônia não é de vocês” não para de ressoar na minha cabeça, especialmente por ter sido dita a um respeitado jornalista com trabalho constante de cobertura e acompanhamento da pauta ambiental. Ela não foi dita a madeireiras, a especuladores imobiliários. A Amazônia não é de vocês deixa claro quem o presidente não quer por lá.
No entanto, quando ele diz que “é do Brasil”, é preciso contextualizar esse novo país, um arremedo de democracia graças à atual gestão. Um país violento, entreguista. A Amazônia pertence agora a esse Brasil, que tem estátua de liberdade e onde as pessoas não são livres. O governo federal retirou-se da Amazônia desmontando órgãos fiscalizadores, perseguindo servidores públicos e abrindo as porteiras, outra freasse “hit” desse governo.
Esse Brasil cuja Amazônia pertence tem dono e não é a população e muito menos os povos indígenas. São setores criminosos de diferentes vertentes que agora atuam na região de forma colaborativa.
O Brasil do Bolsonaro conseguiu a façanha de aproximar narcotraficantes, pescadores ilegais, grileiros, garimpeiros, madeireiros não só pelo fato de serem setores ilegais. Agora, a inteligência desses grupos atua conjuntamente e sob autorização de um presidente que considera índio um problema. Ainda deputado, em 1998, Bolsonaro homenageou a Cavalaria Americana por matar indígenas e não ter mais “esse problema em seu país”.
Dentre outras pérolas, ele profetizou que, se eleito, exterminaria com a Funai (e também com as pessoas por meio e outras). Vejam bem se não está bem claro:
Disse em 2015 que “Em 2019, vamos desmarcar [a reserva indígena] Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros”, completou dizendo, no mesmo ano, em outra entrevista, que as “[reservas indígenas] sufocam o agronegócio. No Brasil, não se consegue diminuir um metro quadrado de terra indígena” e prometeu que ia acabar com a Funai: “Se eleito, eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais.”
Uma coisa precisa ser dita, o atual presidente é um cara de palavra. Ele esbraveja contra a humanidade e a humanidade vai morrendo. Qualquer um que se coloque diante de uma de suas pautas prediletas tipo armamento, agronegócio, mineração, vai sofrer as consequências.
Agora nos resta recuperar essa Amazônia que pertence a um hub criminoso que coopera em prol da ilegalidade atentando contra povos originários, meio ambiente, fauna, flora, ambientalistas e imprensa. Qualquer um que se coloque diante da agenda majoritariamente econômica e sectária, uma vez que só representa segmentos que atuam na usurpação dos bens materiais da Amazônia, serão aniquilados. Isso também é a tradução de deixar a boiada passar. Frase cunhada pelo então ministro. E como jornalista, me cabe ainda, não calar nem arrefecer diante do assassinato de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, continuar escrevendo, lendo, compreendendo que a Amazônia é nossa, sim! É dos indígenas, indigenistas, ambientalistas, jornalistas. A Amazônia pertence a quem tem alma e alcança para perceber que riqueza é diversidade e não madeira no chão.
Além do garimpo, exaltado por Jair Bolsonaro, a região se tornou, durante seu governo, terra de narcotraficantes e traficantes de armas, grandes e pequenos criminosos que se sustentam da região. Então a ausência do Estado e o abandono de diversos povoados e regiões ali formam o melhor cenário para uma explosão de ações criminosas: desde pescadores ilegais, pessoas simples e pobres, mas que são elo com grandes organizações e podem servir de manobra para crimes cujos negócios podem ser atrapalhados pela presença de pessoas como Dom e Bruno.
O crime contra Dom e Bruno reacende discussões que jamais poderão sair do radar sobre direito humano, liberdade de expressão, exercício da profissão do jornalismo que é capaz de dar luz e voz a tantos silêncios. Também faz pensar sobre quantos crimes políticos seremos capazes de acumular durante o atual governo.
Uma das coisas que eu mais tenho medo é dos homens com medo. O medo masculino mata. Homem com medo de perder, homem com medo de ser traído, homem com medo de mulher. Homem tem medo do medo e esses homens, se não matam, ferem. As palavras demonstram, com total clareza, a raiz do problema. É o medo. O medo de perder os privilégios, medo de não pagar contas com grupos de garimpo ou tráfico. O medo do homem se transforma em ódio e em violência. Um macho nos governa, tenho certeza que ele gostaria de ler isso. E o macho nos mata….