Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Multidisciplinar pode parecer confuso para falar de uma autora de poesia e livros infantis, mas não quando o assunto é Paula Valéria Andrade, a carioca que foi acolhida por São Paulo ainda jovem e que possui em sua trajetória profissional o carimbo da criatividade. E nada de estranho nisso, já que reside na autora uma criatividade plural, como poeta, escritora, professora, artista audiovisual, diretora de arte e criação, para as várias vertentes das artes e da cultura; que possui mais de 20 livros publicados; seu nome está no “Dicionário de Literatura Infantil & Juvenil Brasileiro”, de Nelly Novaes Coelho. Aos 21 anos, ganhou o Prêmio Jabuti, um dos mais respeitados do país, da Câmara Brasileira do Livro, como “Melhor Produção Editorial” com o Livro de Pano Brinquedo Muzzy, além de outros reconhecimentos e prêmios no Brasil e no exterior. Nesta reta final de 2021, Paula Valéria apresenta seu novo livro “O Novo no Ovo” (2021, SPVI BOOKS & Sempiterno), que é poesia, mas também é grafia, fotografia, escultura, poesia-visual, desdobrados em performance, sonoridade e imagem por meio de áudio livro e videobook, na versão impressa ou nas mídias digitais do projeto, contemplado na pandemia com o prêmio PROAC da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Com lançamento no Festival Conexões Atlânticas, em Lisboa, nos dias 27 e 28 de novembro, na Livraria Barata, “O Novo no Ovo”, ao longo das 112 páginas  Paula Valéria traz como referência a mescla de linguagens experimentais, das ruas, gírias e dialetos, com publicação tendo como inspiração a pesquisa de autores modernistas brasileiros e eruditos, surrealistas, concretistas e neoconcretistas, como Marcel Duchamp, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Maria Martins, Alice Walker, Allen Ginsberg e o movimento Beatniks. Uma publicação transmídia, com desdobramentos no impresso, no aúdio e no vídeo, que ganha participações especiais dos artistas Fernando Vieira no videobook e de Paloma Klisys no áudio livro. As atrizes Suia Legaspe, Jeyne Stakflett, Bebel Ribeiro, Gabi Costa e Geraldine Quaglia vocalizam as leituras no SoundClouds. A arte é de Gabriel Kolyniak com fotografia de Patrícia Scavone

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Autora Paula Valéria Andrade. Foto: Marcelo Navarro

Para falar sobre o lançamento, a autora conversou com o Mulheres Jornalistas.

MJ:   Você considera “O Novo no Ovo” um experimento para novos tempos, quando fala que é uma nova leitura do cotidiano urbano?

Paula Valéria: Sim. O projeto transmídia do livro de poesia é uma  releitura do primeiro poema visual – OVO (de Símias de Rodes – 300 A.C.), que já teve tradução do José Paulo Paes em 2012 e hoje transita nas ruas e esquinas da cidade entre pessoas, carros, ônibus, bicicletas e cachorros, todos pertencentes à poesia VIVA que permeia nosso cotidiano urbano. O nascer, o morrer e a vida no meio disso.

MJ:   Por isso a utilização dos novos formatos, a partir da poesia em transmídia, em verbivocovisual?

Paula Valéria: Sim. Desde 2000, publiquei o livro “A Arte em Todos Os Sentidos”, pela Editora do Brasil, um estudo teórico e didático sobre o uso dos cinco sentidos nas artes, a questão da sensorialidade na percepção dos formatos artísticos em expressões e suportes não convencionais e digitais. Assim, pesquisei e busco novas linguagens nas artes desde então, passando sempre pela poesia em convergência com o audiovisual, a fala declamada – teatro – mímica, as imagens e visualidades da grafia e poesia visual, a fotografia e hoje o podcast e o vídeo book na contemporaneidade. Aqui nesta proposta de um tripé – impresso, áudio e visual – fragmentei e transformei em pílulas poéticas para o audiovisual verbivocovisual e em pílulas sonoras para o audiolivro. Sempre curtos e singulares para o público ouvir/ver individualmente. Cada um de uma vez. Como eram as faixas do LP de vinil.

MJ:   No Youtube, o vídeo book de “O Novo no Ovo” ganha interpretação e efeitos visuais de Fernando Vieira, assim como outros artistas interpretam os poemas no audiolivro. Abrir mão da interpretação nas outras mídias foi algo pensado desde o inicio do projeto?

Paula Valéria: Tenho gravações de três poemas meus com minha voz neste audiolivro “O Novo no Ovo”, no SoundCloud, junto com as atrizes, mas no vídeo decidi convidar um ator que já faz um trabalho de exercício dramático através de declamação poética no AutoRretratos, canal que ele desenvolve no YouTube. Convidei o Fernando Vieira para fazer minhas leituras e fiz a direção de criação e de arte no desenvolvimento dos efeitos visuais que ele trouxe no processo criativo. Esse jogo de troca de talentos faz parte da convergência da poesia transmídia. No meu último livro de poesia (A Pandemia da Invisibilidade do Ser), eu participei de vídeo books junto às atrizes e aos atores, então tenho essa postura de poeta contemporânea, de me misturar e mesclar com minha arte e os lugares que ela ocupa. Traduzir os gestos e ruídos. Cada projeto traz uma proposta e um desenho e esse prêmio PROAC de São Paulo 19/2020 instiga a gente a produzir e trazer mais artistas junto para o processo colaborativo, em especial na travessia da pandemia.

MJ:   Idealizadora e curadora do Feminino Infinito, como você percebe a expansão da poesia nos últimos anos e, principalmente, com o isolamento social pela covid-19? É também um espaço aberto para jovens poetas?

Paula Valéria: Sim, com certeza! A Internet facilita muito os grupos e as trocas. As rodas de conversa e projetos convergentes. As poetas jovens participaram conosco do FEMININO INFINITO e hoje temos uma página no Instagram e outra no Facebook  para agregar a poesia de autoria de mulheres de todas as idades e todas as partes do Brasil. Recebemos vídeos de declamações poéticas de vários lugares e estamos abertas para esta troca. Fizemos a campanha RODA LER LIVROS em Março 2021, no mês da Mulher, em março. A ideia é estimular a criação de autoria feminina e a divulgação desta expressão.

MJ:   No decorrer dos tempos, percebemos que a escrita dos autores refletem suas vivências em conflitos, como guerras. Com a pandemia, você imagina que a literatura e a poesia vão embarcar por um bom período no tema do isolamento social?

Paula Valéria: Sim, com certeza! Essa revolução já aconteceu. E o olhar de FORA PARA DENTRO (poema do livro no SoundCloud)  já deu o seu sinal de que veio para ficar. Um novo momento. Novo.

Ao folhear o livro de Paula Valéria, percebo que ele cumpre muito bem esta etapa de ser transmídia, mas, além disso, é o olhar atento da contemporaneidade que tropeçamos por todos os lugares, todos dos dias, sem se dar conta. E deixo um poema do livro “O Novo no Ovo”, que traduz um pouco tudo isso.

 

“busca contemporânea”

falta leveza

ternura

beleza

 

qualquer coisa assim, de realeza

se revele em candura

algo que não entristeça

para que a vida não seja dura

traga doce charme e prevaleça

se pintado até com moldura

para que a história que seja, aconteça

onde quer lançada a semeadura

encanto e encontro de amor

se dê | alma pura

emoção espessa

 

Livro de poesia: O Novo no Ovo, de Paula Valéria Andrade
Ano: 2021 | Páginas: 112 | Coedição: SPVI BOOKS & Sempiterno
Valor: R$ 49,90