Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens em todo o mundo, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que em 2023, mais de 1,4 milhão de novos casos tenham sido diagnosticados, resultando em cerca de 375 mil mortes. 

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) projeta cerca de 72 mil novos casos anuais para o triênio 2023-2025, o que representa cerca de 29% de todos os casos de câncer em homens no país. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) também alerta para os riscos de crescimento dos casos de câncer de próstata em todo o mundo.

Com base em dados do Ministério da Saúde, a SBU informou que a doença matou 17 mil homens no Brasil em 2023, uma média de 47 por dia. A revista científica internacional Lancet, em texto publicado no primeiro semestre, prevê que o número de novos casos de câncer de próstata deve aumentar nos próximos anos.

Esse tipo de doença também representa um grande desafio para os sistemas de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, em 2022, o SUS realizou mais de 100 mil consultas urológicas e 22 mil cirurgias relacionadas à próstata. O custo médio de tratamento por paciente varia de R$ 8 mil a R$ 30 mil, dependendo do estágio do câncer e do tipo de tratamento necessário.

“A mulher vive em média mais sete anos do que o homem, e isso acontece porque a menina acaba as consultas com o pediatra e vai para o ginecologista. O menino acaba com o pediatra e não vai para lugar nenhum. Ele fica totalmente sem alguém para cuidar dele, até que ele chegue na idade adulta e que, muitas vezes sem estar informado de tudo o que pode acontecer, acaba tendo tumores oncológicos em estágios mais avançados”, explica o presidente da SBU, Luiz Otávio Torres.

Prevenção e Diagnóstico precoce 

A detecção precoce é a melhor estratégia para reduzir a mortalidade. Os exames de toque retal e o antígeno prostático específico (PSA) são os métodos mais utilizados. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), homens a partir de 50 anos devem realizar exames anuais, ou a partir de 45 anos caso estejam no grupo de risco.

Rastreamento e diagnóstico do câncer de próstata/A.C. Camargo

Na fase inicial da doença, a maioria dos casos é assintomático. Apesar da neoplasia se desenvolver lentamente, em estágios mais avançados o câncer de próstata pode apresentar sinais. Os mais comuns são: dificuldade para urinar, gotejamento final prolongado, dor ou ardor para urinar, frequência urinária aumentada durante o dia ou à noite e sensação de não esvaziar completamente a bexiga.

Para Pamela Muniz, oncologista da Oncoclínicas São Paulo, o diagnóstico precoce é fundamental, pois quanto antes o tumor for identificado, maiores são as chances de sucesso do tratamento. “Conforme a doença avança, os pacientes também podem notar sangramento na urina ou esperma, retenção urinária, insuficiência renal e até mesmo dor nas costas. Nesse último caso, no qual chamamos de dor óssea, o problema pode ocorrer devido a presença de metástases. Por isso, caso qualquer sintoma seja observado, é fundamental buscar por atendimento médico”, explica a oncologista.

A conversa sobre o diagnóstico precoce deve começar por volta dos 40 e 50 anos, principalmente se houver histórico da doença na família. Apesar disso, a adesão ainda é um desafio. Uma pesquisa do Datafolha revelou que 48% dos homens brasileiros nunca realizaram o exame de toque retal, muitas vezes devido a preconceitos ou falta de informação.

“Precisamos desmistificar o tabu que os homens possuem em relação ao exame de toque retal. Mesmo o procedimento sendo indolor, ele ainda gera diversos preconceitos. Por isso, é necessário investirmos em informações de qualidade para que, caso o indivíduo tenha o diagnóstico positivo para câncer de próstata, seja tratado o quanto antes”, explica.

Cirurgia robótica de próstata

Com os avanços na pesquisa e tecnologia em saúde, a cirurgia robótica está tornando os procedimentos menos invasivos, com menor tempo de recuperação e mais segura, tanto para o paciente quanto para o médico. Essa técnica tem como alvo principal os procedimentos minimamente invasivos na área de urologia, cirurgias digestivas, ginecológicas, torácicas e cardíacas. 

Segundo o Dr. Nilo Jorge Leão, Chefe do Serviço de Urologia e do programa de cirurgia robótica do hospital Mater Dei Salvador, a Cirurgia robótica é a forma menos invasiva, mais moderna e avançada de se tratar o câncer de próstata de forma cirúrgica. 

Dr. Nilo Jorge Leão, Chefe do Serviço de Urologia e do programa de cirurgia robótica do hospital Mater Dei Salvador/Divulgação

“A cirurgia para tratar o câncer de próstata se chama prostatectomia radical, e o padrão ouro hoje é que seja realizada através da cirurgia robótica, pois os benefícios trazidos por essa tecnologia, como ampliação de visão, visão 3D e filtro de tremores, conferem maior precisão, menor risco de complicações agudas como sangramento e potencialmente melhores resultados funcionais no controle urinário e na reabilitação sexual.”

No programa de cirurgia robótica do Hospital Mater Dei Salvador, o cirurgião maneja os quatro braços mecânicos com a plataforma Da Vinci Xi, a mais moderna e consagrada do mundo comercializada no Brasil, sendo o único hospital do Estado da Bahia a possuir essa versão mais moderna. 

“No jovem hospital de pouco mais de 2 anos da Rede Mater Dei, em Salvador, já foram realizadas mais de 600 cirurgias robóticas com taxa média de internação hospitalar inferior a 24 horas, evidenciando um dos grandes benefícios da tecnologia que é conferir a rápida recuperação e alta hospitalar”, completa o médico. 

Com mais de 300 cirurgias robóticas realizadas em 2023, o procedimento ainda tem desafios na implementação e consolidação da tecnologia robótica no Brasil. “O maior desafio são os elevados custos da implementação dos robôs. O investimento hoje gira na ordem de 2 milhões de dólares para aquisição da plataforma Da Vinci Xi, fora os elevados custos por procedimento.”

Com a recente quebra da patente do robô Da Vinci, espera-se uma maior entrada de novas plataformas, especialmente chinesas, no mercado global. Isso deve aumentar a competitividade, reduzir os preços e tornar a tecnologia mais acessível. “Para que essa inovação chegue de forma equilibrada à rede de saúde suplementar, será fundamental contar com estratégia, organização e parcerias com as operadoras de saúde”, conclui o Dr. Leão.

Novembro Azul

A campanha Novembro Azul é um movimento global de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata, informa sobre os fatores de risco e sintomas, encoraja os homens a realizarem exames preventivos, como o toque retal e o PSA, que ainda enfrentam resistência devido a preconceitos culturais, além de promover a saúde integral do homem. A campanha busca superar os desafios culturais e promover a ideia de que cuidar da saúde é um ato de coragem e responsabilidade.

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