Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ
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Você conhece a neurociência? Se não, vale conhecer pelas palavras e ensinamentos de Claudia Feitosa-Santana, que, nas 208 páginas do recém-lançado “Eu controlo como me sinto” (Editora Planeta), apresenta caminhos para uma vida mais em paz, com a ciência sendo uma grande aliada para quem busca controlar os próprios sentimentos e ter uma vida cotidiana mais equilibrada, a partir do conhecimento do cérebro. A pesquisadora, que estuda alguns aspectos da mente e do cérebro, da percepção às decisões, é Doutora em Neurociência e Comportamento pela Universidade de São Paulo (USP), é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e em Engenharia Civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Psicologia Experimental, a autora possui pós-doutorado em Neurociências Integradas pela Universidade de Chicago, onde foi professora por muitos anos.

Quando perguntei se foi difícil desbravar a neurociência e tantos conhecimentos, Claudia me respondeu que não foi difícil porque ela sempre amou estudar. No livro, que a capa vem com a frase, “Como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz”, ganhou prefácio da Monja Cohen, que afirma: “Quanto melhor e mais conscientemente entendemos a nós e ao nosso lugar no mundo, mais fácil se torna o controle de como nos sentimos e, por consequência, maiores as chances de construir uma vida feliz. Essa compreensão é o cerne deste livro. Transforme o mundo aprendendo sobre você e o cérebro humano. E, como Claudia nos ensina, o mundo está dentro da nossa mente.”

Logo nas primeiras páginas de “Eu controlo como me sinto”, Claudia explica que se nós estamos, e não somos, isso quer dizer que é possível modificar nosso estado. A neurocientista também afirma que nossos estados são sempre temporários e, por isso, somos o verbo estar. O conjunto dos estados temporários forma quem nós somos. Ela explica que, por exemplo, não somos ansiosos e sim estamos ansiosos. E essa compreensão sobre nossos sentimentos é o começo para quem deseja se conhecer melhor, na busca por alcançar um controle maior sobre si mesmo.

Neurociência-é-para-todos
Foto: Adriana Vichi

A seguir, entrevista com Claudia Feitosa-Santana.

MJ: Com uma linguagem objetiva, nua e crua, você é didática, sem prometer milagres para uma vida mais feliz no seu recém-lançado livro “Eu controlo como me sinto”. Como foi para a professora o desafio de uma obra tão densa e extensa?

Claudia Feitosa-Santana: Foi prazeroso e sofrido ao mesmo tempo. Como falo no livro, eu fiz o exercício constante de buscar o caminho do meio. O meu livro é o resultado de 20 anos que trabalho com a neurociência. No início, a maior parte das pessoas nem conheciam esse nome. Hoje, virou moda mas, infelizmente, poucos que falam dela tem propriedade. O meu objetivo foi escrever de forma didática para que todos pudessem usufruir, mas com o cuidado de deixar as referências para aqueles que querem se aprofundar.

MJ: Seu livro chega em meio à revolução que assola a humanidade pela pandemia da covid-19. Seus ensinamentos podem amenizar as angústias de tudo que estamos vivendo?

Claudia Feitosa-Santana: Sim e não. Sim, porque fica mais fácil entender a limitação da mente humana, assim como da organização da nossa sociedade no enfrentamento da pandemia. Não, porque a maior parte das pessoas não quer se questionar, não quer mudar, não quer buscar novos caminhos etc.

MJ: Neurociência de encontro aos ensinamentos do budismo, estudo do autoconhecimento pela busca do crescimento espiritual. Como foi o seu encontro com a Monja Cohen, que escreve o prefácio de “Eu controlo como me sinto”?

Claudia Feitosa-Santana: Essa é a pergunta mais relevante que já recebi desde o lançamento do meu livro. No entanto, talvez a resposta mais desagradável para muitos leitores. O meu interesse pelo zen budismo é científico e não tem nenhuma relação com espiritualidade. Assim como Deus, a espiritualidade não é assunto científico. Para ser assunto científico, precisamos da possibilidade de rejeitar uma hipótese e, portanto, preciso provar que Deus ou espiritualidade não existem. Ambos impossíveis. Já a meditação, é outra história. Sabemos que ela pode ser benéfica para nossa saúde, assim como sabemos que seu efeito varia de pequeno a médio, ou seja, ela sozinha não faz milagres. Portanto, não compete à neurociência aceitar ou rejeitar o autoconhecimento pelo crescimento espiritual.

MJ: Em meio ao uso indiscriminado de antidepressivos e ansiolíticos, não gritar é o humano medicado ou inteligência emocional? A CNV começa neste controle?

Claudia Feitosa-Santana: Vivemos em tempos que saltam aos olhos apenas os extremos. De um lado aqueles que abusam das medicações e, de outro lado, aqueles que continuam com o pensamento embaçado, como um míope que recusa correção, continua caminhando e se colocando cada vez mais em risco. Portanto, vamos olhar para aqueles entre os extremos… que na jornada do autoconhecimento, sabem quando precisam exercitar mais, dormir mais, buscar ajuda, fazer terapia, pedir uma terapia de emergência, buscar tratamento medicamentoso etc.

MJ: Seu comentário, em uma rede social, sobre o seu acidente na queda com a bicicleta busca trazer o entendimento de um sentimento associado a uma situação de dor, de trauma. Em meio à pandemia, estamos vivenciando sentimentos que afloram dores e angústias diversas. Sem o seu entendimento como uma especialista para as questões da mente, quando tudo isso passar, as pessoas vão perceber equívocos em decisões, como separações, pedidos de demissão, dentre outras situações em que sentimentos estão misturados aos acontecimentos traumáticos que estamos vivenciando?

Claudia Feitosa-Santana: Vamos ter de tudo. Mas, infelizmente, como mostro no livro, somos mestres em repetir os mesmos erros. O meu leitor terá muito mais chances de não cair nesse erro.

MJ: Ao final de cada capítulo de “Eu controlo como me sinto”, encontramos um pequeno quadro com as questões abordadas. Em todos o título: CONHEÇA A SI MESMO. Descobrir a neurociência é o começo para se conhecer mais e melhor, bem como encontrar o nosso lugar no mundo?

Claudia Feitosa-Santana: Chega de pseudociência. O primeiro passo para viver melhor é por meio da ciência. Você precisa conhecer o funcionamento da mente humana para depois pesquisar a sua própria.

MJ: Filósofo e escritor francês, Sartre é autor da célebre frase: “O inferno são os outros”. Ter consciência que o outro é um desconhecido e é preciso aceitar essas diferenças pode amenizar muitos conflitos?

Claudia Feitosa-Santana: Sim, é o primeiro passo. A vítima de racismo, por exemplo, é uma vítima e isso é inegável. Mas o racista não determina o que ela sente. Ela escolhe o que sente e reside nessa escolha a força para lutar por uma sociedade mais justa. Aquele que a acusa de vitimismo está sendo racista. O que ela, vítima, sente é provavelmente raiva, tristeza, indignação ou qualquer sentimento que ela define e quanto mais esse sentimento lhe dê forças para lutar, melhor. E quanto mais forte ela for, mas insultos de racistas receberá.

Por isso, aponto no livro que a empatia não é o melhor caminho para uma tomada de decisão moral. O racista jamais vai empatizar com a vítima e essa jamais vai empatizar com o racista. A única saída é o respeito, esse sim um bom norteador moral. Pois somos todos únicos, mas ninguém vale menos ou mais do que eu. E isso cabe para o racismo assim como para todo o tipo de relação, inclusive aquele colega de trabalho ou familiar com o qual nos irritamos. Ele será meu inferno apenas se eu permitir. O sentimento existe apenas dentro de nossas mentes e quem escolhe esse sentimento é o protagonista. Ou você escolhe ser o protagonista ou você nomeia alguém para comandar sua mente. É uma escolha.

MJ: Viver é mais solitário quando não sentimos ou percebemos o mundo de dentro para fora?

Claudia Feitosa-Santana: Viver é mais solitário quando não entendemos o que sentimos. Viver é mais solitário quando não encontramos ninguém que sinta como nós sentimos. Viver é mais solitário quando não temos a consciência de que o meu de dentro pra fora é apenas o meu ponto de vista.

MJ: Nas suas aulas, você apresenta alguns exercícios reveladores, como do vestido dourado. No livro, você fala do ponto cego, dos vieses, e suas páginas também são repletas de exercícios de “incertezas”. A última frase do capítulo cinco, diz: “A incerteza é ingrediente para a sabedoria, a criatividade e o amor. Enfrente o medo do desconhecido.” Nos fala um pouco sobre isso em tempos tão incertos.

Claudia Feitosa-Santana: Estamos em constante incerteza. Em pandemia, a incerteza é coletiva e muito mais compartilhada. Mas numa vivência inconsciente, no piloto automático, o viver é negar, é não querer encarar a incerteza.

MJ: “Eu controlo como me sinto” é um livro com referências científicas, com um grande apanhado de conteúdo. No seu último capítulo, você apresenta o título “A ultramaratona da vida feliz”. Mesmo não sendo um livro de autoajuda ele pode ser de muita ajuda e, com ele, você imagina a neurociência sendo descoberta por um número cada vez maior de pessoas interessadas em autoconhecimento?

Claudia Feitosa-Santana: Esse é um dos principais motivos pelo qual escrevi o livro. Eu sei o quanto é difícil ler um artigo científico, ponderar sua validade etc. E um dos meus talentos é traduzir esse conhecimento para o público leigo.

MJ: Nos fala um pouco sobre o “Novo Dicionário de Sentimentos”, uma deliciosa descoberta nas últimas páginas do livro “Eu controlo como me sinto”, com quase cem verbetes escolhidos do projeto The Positive Lexicography (O lexográfico positivo), de Tim Lomas.

Claudia Feitosa-Santana: Quanto mais expandirmos nosso vocabulário, mais chances temos de entender o que sentimos. Ter uma palavra que define o que eu sinto é um atalho para o cérebro.

MJ: Suas credenciais como neurocientista é de grande importância e representatividade para o nosso país. Como Arquiteta e Urbanista, Engenheira Civil, Psicologia Experimental e Doutora em Neurociência e Comportamento, a mulher Claudia Feitosa-Santana desbravou este universo?

Claudia Feitosa-Santana: Não foi difícil. Sempre amei estudar, desde muito pequena. Difícil foi enfrentar as pessoas que me achavam perdida, os olhares desconfiados etc. Mas essas não definem e nunca definiram como me sinto. Pois eu controlo como me sinto.

Ficha técnica: Título: Eu controlo como me sinto | Autor: Claudia Feitosa-Santana
Editora Planeta | 208 páginas | R$ 44,90

Foi uma boa conversa com a professora, que em seus cursos, ou em suas mídias digitais, como no seu canal no YouTube, costuma facilitar a fala para a compreensão das pessoas comuns, aquelas que desejam melhorar suas vidas através do autoconhecimento. Acredite, vale tentar.