Por Raquel Banus, jornalista
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Você já deve ter ouvido falar do maracatu. O que é hoje um dos ritmos populares mais importantes do Nordeste, surgiu em meados de século XVIII, no estado de Pernambuco.

O Maracatu é uma manifestação artística criada através da miscigenação musical das culturas índigena, africana e portuguesa. O movimento cultural envolve dança, música, história e religião. Ele se divide em duas principais expressões:

  • Maracatu Rural ou Baque Solto: foi desenvolvido por agricultores nos engenhos de cana-de-açúcar e atualmente homenageia a luta dos trabalhadores rurais.
  • Maracatu Nação ou Baque Virado: conta com a representação das antigas cortes africanas, simbolizadas com cortejos aos Reis e Rainhas do Congo.

Há uma forte presença da religiosidade de matriz africana em ambas as expressões.

Imagem: Willer José

O maracatu tem uma história de luta e resistência, mas, como em muitos outros ritmos musicais tradicionais, haviam tabus que precisavam ser combatidos. A presença da mulher sempre foi essencial na história do movimento, porém a sua participação durante muito tempo foi concentrada apenas nos bastidores, onde sua função era a de cozinhar, dançar e cuidar das crianças, não havendo a possibilidade de tocar na percussão dos grupos.

E foi rompendo barreiras e superando a discriminacão que, em 2008, a mestra Joana Cavalcante assumiu o papel de ser a primeira mulher à frente de uma nação de baque virado, a Nação do Encanto do Pina, localizada na comunidade Bode, em Recife.

Mestra, ô mestra
que me protege,
fortalece o meu caminhar
dançando com o brilho de oxum
e as forças do vento de oyá

(Trecho da loa Mestra, ô mestra)

Nesse mesmo ano, a mestra começou a reunir mulheres da comunidade do Bode para discutir assuntos relacionados à vivência cotidiana dessas mulheres, como machismo, racismo e violência doméstica. Dessa maneira, ela identificou a necessidade de um espaço onde essas mulheres pudessem lutar contra a opressão, tocando seus tambores e tendo voz, por meio dessa necessidade foi criado o grupo de maracatu Baque Mulher.

O grupo passa a organizar, além de aulas de percussão, rodas de conversas e ações para o combate à violência, à desigualdade e à discriminação, com iniciativas sociais e culturais com foco na luta pelo empoderamento feminino.

As cores rosa e laranja e o uso de saias pelas integrantes do baque representam de maneira simbólica a resistência feminina através da arte, já que, por muitos anos, mulheres só podiam participar de cortejos de maracatu vestidas de homem.

 

É por esse baque
que eu ergo a voz
Eu não ando sozinha
eu venho por mim,
venho por todas nós

(Trecho da loa É por este baque)

 

Com o passar dos anos, o Baque se expandiu por todo o país e hoje conta com 37 filiais, sendo 36 localizadas do norte ao sul do Brasil e uma em Lisboa.

Imagem: Willer José

Em fevereiro de 2016, houve um grande momento para a história do grupo: Mestra Joana e o Baque Mulher articularam o que hoje chamamos de Movimento de Empoderamento Feminino Baque Mulher, com o objetivo de alinhar com suas filiais, estratégias e ações para o empoderamento e emancipação feminina.

No Rio de Janeiro, a filial do Baque Mulher foi fundada em 2016, pela Iyabá Tenily Guian, regente e coordenadora do grupo desde sua fundação. Tenily explica que a maneira pela qual o Baque se tornou um ambiente de acolhimento para as mulheres “foi ouvindo suas histórias, relatos, respeitando suas diferenças, incentivando a ir para as ruas, a tocar nossos tambores, cantar nossas loas que falam do nosso universo, das inúmeras violências diárias que passamos. Ainda tentam nos calar, tirar nossa visibilidade e o Baque Mulher nos dá força, voz, vez e esperança”

Sobre o que é necessário para fazer parte do grupo, Tenily explica “precisa ser Mulher e chegar! Saber respeitar nosso regimento, princípios e principalmente o nosso axé.”

Para saber se na sua cidade tem uma filial confira no site: https://baquemulher.com.br/filiais/