Mulheres no Automobilismo: Pilotas brasileiras buscam espaço no esporte
Por Mariana Mendes, Jornalista -SP
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Editora Chefe: Letícia Fagundes
No dia 26 de junho, começa a segunda edição da W Series, um campeonato de fórmula exclusivo para mulheres criado em 2018. A corrida teve sua primeira edição no ano seguinte e em 2021, volta a acontecer, com 20 pilotas. A W Series foi criada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) em resposta à falta de mulheres no esporte, principalmente na Fórmula 1.
Sua criação foi recebida com críticas por uns e elogios por outros. Porém, fica claro que o questionamento de “onde estão as mulheres no automobilismo?” ficou na cabeça de diversas pessoas após o anúncio da W Series. Na teoria, o esporte é considerado misto, ou seja, podem ter homens e mulheres participando na mesma competição, mas são poucas aquelas que recebem o sucesso de grandes estrelas como Lewis Hamilton, Charles Leclerc e Max Verstappen.
A primeira mulher a participar de uma corrida da Fórmula 1 foi a italiana Maria Teresa Filippis, em 1958. Ela participou no GP de Mônaco, porém correu apenas quatro vezes depois de sua estreia. Após esse marco, outra italiana, Lella Lombardi se tornou a primeira e única mulher a pontuar na F1 em 1975, ao participar do GP da Espanha.
Hoje, o Brasil é representado na W Series por Bruna Tomaselli. A jovem de 23 anos começou a correr de kart com apenas sete anos e desde então, nunca parou. Participou da Fórmula Júnior e em 2017, começou a competir nos Estados Unidos. Entrou na USF2000, uma das categorias de acesso à Fórmula Indy, no Road to Indy e, ao competir pela terceira vez em 2019, terminou o campeonato na oitava colocação. Este talento chamou a atenção da FIA e Bruna foi selecionada para competir na W Series, torneio que estreia no fim de junho.
“Estou bem animada para esse desafio”, diz a jovem ao Instituto Mulheres Jornalistas. Ao falar sobre sua carreira, Bruna também reflete sobre a falta de espaço dado às mulheres no esporte. “Acho que pela história do automobilismo, sempre mais homens participaram do que mulheres, e também acho que faltam um pouco de iniciativas para mais mulheres participarem do esporte”, comenta.
A piloto de Kart, Bia Martins, também compartilha suas opiniões em relação ao assunto. “[As instituições precisam] promover a igualdade de gênero sempre bem como em todos os outros esportes, pois embaixo de capacete e macacão somos todos pilotos. Já são feitos alguns campeonatos de kart indoor somente com mulheres que têm surtido bastante efeito pois quem realmente gosta acaba seguindo para o rumo profissional e isso é muito legal!”, diz.
Bia também começou cedo no esporte. Aos nove anos, começou a correr no kart indoor que pertencia ao seu pai na cidade em que mora. Hoje, ela trabalha em um centro de preparo automobilístico desenvolvido por ela e foi nomeada representante da categoria Fórmula 1.4 no nordeste do país.
Além de Bruna e Bia, diversas mulheres fazem sucesso em outras categorias do automobilismo. Bia Figueiredo, pilota brasileira da Stock Car, disputou a Fórmula Indy, se tornando a primeira mulher a vencer uma prova da categoria Indy Lights. Em 2014, tornou-se também a primeira mulher a disputar uma temporada da Stock Car Brasil.
Mesmo assim, quando foi anunciada a criação da W Series, Helmut Marko, consultor da RBR disse: “A Fórmula 1 é muito física para as mulheres. Se você está pilotando a 300 km/h e tem uma luta roda a roda, então a brutalidade é parte disso, não sei se isso é da natureza feminina.”
Em resposta à essa fala, Bia Martins apenas comenta: “Acho que brutalidade é algo muito relativo. Se fosse pensar assim, Amanda Nunes não seria duas vezes campeã do UFC e ela é mulher. A mesma coisa se aplica ao automobilismo e aos outros esportes”.
Fica claro que a FIA e outras instituições do automobilismo estão correndo atrás do tempo perdido, dando visibilidade e espaço para mulheres no esporte. Além da W Series, a federação, junto com a Ferrari, criou o programa Girls on Track – Rising Star, para promover a inclusão feminina no automobilismo. A piloto brasileira Júlia Ayoub foi uma das finalistas da competição.
O espaço está sendo cravado, porém é preciso observar se essas mudanças promovidas terão efeitos em grandes campeonatos como a Fórmula 1 ao longo dos anos. Entretanto, é evidente que o Brasil será bem representado no automobilismo com os jovens talentos de Bia Martins, Bruna Tomaselli, Júlia Ayoub e muitas outras.