Em momento político atribulado, projeto “Elas no Poder” e “Me Farei Ouvir” lançam estudo inédito sobre a presença da mulher na política
 
Por Regina Fiore-São Paulo
 
A subrepresentação das mulheres no ambiente político tem levantado diversos questionamentos em diversas democracias avançadas em todo o mundo. O Brasil, que passou por um recente processo de redemocratização, ainda está atrasado nessa questão e sofreu até mesmo um retrocesso de representatividade em altos cargos governamentais nos últimos dois anos. 
 
No Brasil, apesar de formarem 52% da população, mulheres são apenas 15% nos postos de poder. Um estudo realizado no início do ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que a taxa de ministérios ocupados por mulheres no Brasil não passa de 9%, enquanto este índice está em torno dos 20% em escala mundial. De fato, entre as 22 pastas de Ministérios do governo de Jair Bolsonaro, apenas duas são ocupadas por mulheres. 
 
Alguns países, vão além e contribuem para aumentar tal índice. Em nove países, a taxa supera a marca de 50%, como na Colômbia, Costa Rica, França ou Canadá. No caso da Espanha, a participação feminina é de 64%. Pensando nessa falta de representatividade, os projetos “Elas no Poder” e “Me Farei Ouvir” conduziram uma pesquisa no final de 2019 em todos os estados brasileiros para mapear o perfil da mulher na política. 
 
Como foi feita a pesquisa?
 
Dandara Lima, uma das idealizadoras do Me Farei Ouvir, e Letícia Medeiros, pesquisadora e co-fundadora do Elas no Poder, coordenaram entrevistas com mais de 4100 mulheres em todos os estados brasileiros. entre novembro e dezembro de 2019. A pesquisa não seguiu a distribuição exata da população brasileira chancelada pelo IBGE, mas chegou muito próximo a isso:  21,9% das participantes, por exemplo, são do estado de São Paulo, local que corresponde a 23% da população brasileira. 
 
A localidade com a maior disparidade é o Distrito Federal, que corresponde a 1,4% da população brasileira, mas 12% entre as entrevistadas. A pesquisa também atingiu com maior ênfase às mulheres mais escolarizadas e de classe média. 38% das participantes declarou ter grau de mestrado ou pós-graduação. Também é uma amostra composta majoritariamente por mulheres solteiras (45%) e mães (48%). 
 
 
Principais Resultados
 
Além de testar uma série de hipóteses sobre a questão da ambição política da mulher para embasar campanhas que incluam o sexo feminino na vida pública, a pesquisa mostrou que 40% das mulheres que não pretendem se candidatar a cargos públicos consideram que não se encaixam no perfil necessário, o que mostra que elas acreditam que na política não existe espaço para diversidade. 
 
Outro dado interessante: as mulheres que são mães ou que planejam ser mães têm mais inclinação para a vida política do que as que não querem ter filhos, talvez porque a visão de futuro seja mais relevante para quem vê a maternidade como uma possibilidade. O estudo questiona também alguns sensos-comuns sobre a posição das mulheres em relação à política: 98% das entrevistadas concordam que precisamos de mais pessoas do sexo feminino à frente de cargos públicos. 
 
Entre 82% e 87% das participantes concordam com a reserva de vagas para gênero nas eleições do Legislativo, com a reserva de 30% do Fundo Partidário Eleitoral e com a reserva de 5% do mesmo Fundo para capacitação e promoção de candidaturas de mulheres. 
 
Além disso, 82% das entrevistadas discorda muito ou discorda da frase “mulher não vota em mulher” e 91% discorda muito ou discorda da frase “eu prefiro votar em homens”. Elas também observam que os partidos são ambientes muito machistas (89%) e muito racistas (83%). Para acessar a pesquisa completa, acesse: www.mefareiouvir.com.br/pesquisa