Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes

Mpox (Monkeypox) é uma doença causada pelo vírus Monkeypox, que pertence à mesma família do vírus da varíola, mas com uma letalidade bem menor. Essa doença foi descoberta pela primeira vez em 1958, em macacos utilizados para pesquisas, e os primeiros casos humanos foram identificados em 1970, na República Democrática do Congo. 

O mpox é endêmico em algumas regiões da África Central e Ocidental, mas em 2022, houve um surto global que afetou vários países, incluindo o Brasil, que contabilizou mais de 40 mil casos. Um ano depois, em agosto de 2023, o total caiu para pouco mais de 400 casos. Em 2024, o maior número de casos foi registrado em janeiro, mais de 170. Por fim, em agosto deste ano, a média de casos se mantém entre 40 a 50 novas infecções. O número é visto pelo Ministério da Saúde como “bastante modesto, embora não desprezível”.

“Sem absolutamente menosprezar os riscos dessa nova epidemia, o risco de pandemia e tudo o mais, o que trago do Brasil não é ainda um cenário que nos faça temer um aumento muito abrupto no número de casos”, avaliou o diretor do Departamento de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da pasta, Draurio Barreira, na terça-feira (13) à Agência Brasil.

Os sintomas do mpox incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, linfonodos inchados, calafrios, exaustão e uma característica erupção cutânea que evolui para lesões que podem se espalhar por várias partes do corpo. A transmissão ocorre principalmente por contato direto com lesões, fluidos corporais ou materiais contaminados, como roupas ou roupas de cama, e também por gotículas respiratórias em contatos próximos e prolongados.

Emergência de saúde pública global

Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) | Imagem: Agência Brasil

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, determinou que o aumento de casos de mpox na República Democrática do Congo (RDC) e em um número crescente de países na África, constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII) no marco do Regulamento Sanitário Internacional (2005) (RSI).

Ao declarar a ESPII, Tedros disse: “o surgimento de um novo clado de mpox, a sua rápida propagação no leste da RDC e a notificação de casos em vários países vizinhos são muito preocupantes. Além dos surtos de outros clados de mpox na RDC e outros países da África, está claro que é necessária uma resposta internacional coordenada para deter estes surtos e salvar vidas.”

Esta é a segunda vez que a OMS classifica a mpox como emergência global. A primeira ocorreu em 2022, e o status caiu no ano seguinte, após diminuição dos casos. Ainda assim, o vírus que causa a doença continuou a circular, especialmente em países em que a mpox já era endêmica, e agora uma nova cepa do patógeno foi identificada.

Casos no Brasil

Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2022 a 2024, o Brasil registrou quase 12 mil casos confirmados e 366 casos prováveis de mpox. Há ainda 66 casos classificados como suspeitos e um total de 46.354 casos descartados. “Como a gente vê um quadro epidêmico na África, temos que estar alertas. Essa iniciativa do webinário é uma antecipação, para que a gente realmente não seja pego de surpresa, caso tenhamos uma nova pandemia”, avaliou Draurio.

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)

Até agosto de 2024, o Brasil registrou 709 casos confirmados ou prováveis de mpox. O estado de São Paulo teve o maior número de casos, com 315 confirmados entre janeiro e julho de 2024. Os números mostram o seguinte perfil epidemiológico das infecções por mpox no Brasil: 91,3% dos casos se concentram no sexo masculino, sendo que 70% dos homens diagnosticados com a doença têm entre 19 e 39 anos. A idade mediana definida pela pasta é de 32 anos, com idades variando de 27 a 38 anos. Além disso, 3,7% dos casos foram registrados na faixa etária até 17 anos e 1,1%, entre crianças de até 4 anos.

“No sexo feminino, a gente teve um número 10 vezes menor do que entre os homens. Cerca de mil mulheres, também na faixa de adulto jovem”, destacou Draurio. Há, entretanto, um percentual alto de gênero não informado. “19% praticamente, o que diminui todos os outros percentuais. Mas homens cis são mais de 70%. Se a gente conseguisse informação desses 18,7% não informados, certamente teríamos uma distribuição maior entre homens cis”.

Outra informação relevante, segundo o diretor do departamento, envolve grupos classificados pela própria pasta como mais vulneráveis, incluindo homossexuais, homens heterossexuais e bissexuais. “Novamente, temos quase a metade das pessoas sem definição de orientação sexual”, ressaltou Draurio.

A doença pode ser transmitida por materiais infectados com o vírus, animais silvestres (roedores) infectados e pelo contato próximo com pessoas doentes. O intervalo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos sinais e sintomas da Mpox (período de incubação) é tipicamente de 3 a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias. Após a manifestação de sintomas, como febre, calafrios, linfonodos aumentados, dores no corpo e cabeça, e erupções na pele; as crostas das erupções desaparecem, e a pessoa doente deixa de transmitir o vírus.

Tratamento e vacinação 

A Portaria GM/MS 3328/2022 determina a obrigatoriedade de notificação, em até 24 horas, dos casos de mpox. A notificação deve ser realizada pelos profissionais de saúde de serviços públicos ou privados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação – e-SUS Sinan.

“A Enfermagem desempenha um papel fundamental na prevenção, controle, monitoramento e tratamento do mpox. Através da identificação precoce, da assistência integral e da promoção da saúde, os profissionais de enfermagem contribuem para a redução da transmissão do vírus e para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, conforme suas competências técnicas, neste campo da prática”, afirma Eduardo Fernando de Souza, colaborador do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) que coordenou a Equipe de Resposta Rápida à covid.

Vacinas contra a Mpox/Reuters | Imagem: Dado Ruvic

O diagnóstico da mpox é laboratorial, por teste molecular ou sequenciamento genético. O teste para diagnóstico laboratorial deve ser realizado em todos os pacientes com suspeita da doença. A amostra a ser analisada será coletada, preferencialmente, da secreção das lesões. Quando as lesões já estão secas, o material encaminhado são as crostas das lesões.

No entanto, desde a primeira emergência global por mpox, há 2 anos, o Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve um imunizante brasileiro capaz de prevenir a infecção. Em nota, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) informou que a iniciativa é uma das prioridades da Rede Vírus, comitê de especialistas em virologia criado para o desenvolvimento de diagnósticos, tratamentos, vacinas e produção de conteúdo sobre vírus emergentes no Brasil.

De acordo com a OMS, existem, atualmente, duas vacinas disponíveis contra a mpox. Uma delas, a Jynneos, produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, também é composta pelo vírus atenuado e é recomendada para adultos, incluindo gestantes, lactantes e pessoas com HIV.

O segundo imunizante é o ACAM 2000, fabricado pela farmacêutica norte-americana Emergent BioSolutions, mas com diversas contraindicações, além de mais efeitos colaterais, já que é composta pelo vírus ativo, “se tornando assim, menos segura”, conforme avaliação do próprio MCTI.

LEIA TAMBÉM:

Exposição a agrotóxicos ameaça saúde de trabalhadores rurais

Depressão Sazonal: por que os hormônios podem afetar diretamente a saúde mental?

Sustentabilidade e o horizonte de um futuro que já chegou