Por Letícia Fagundes, jornalista

Vanessa Ricarte era jornalista, como tantas outras mulheres no Brasil. Nosso país está entre os mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo, e Vanessa foi vítima não apenas dessa violência estrutural, mas também de feminicídio. Seu ex-noivo a matou a facadas. E o que isso significa? Significa que, quando uma jornalista é assassinada, toda a categoria sangra junto—especialmente nós, mulheres.

O feminicídio é uma realidade brutal e cotidiana. Mas, quando uma jornalista é morta, não apenas uma vida é tirada—calam-se vozes, apaga-se um espaço de resistência, restringe-se o direito da sociedade à informação. Ser mulher jornalista no Brasil é enfrentar uma dupla violência: a de gênero e a de uma profissão que, ao dar voz às pessoas, incomoda aqueles que lucram com o silêncio.

Estamos vivendo tempos em que pautas femininas estão sendo colocadas de lado, como se fossem secundárias. Pautas que, por séculos, foram silenciadas, agora são novamente empurradas para o esquecimento. Enquanto isso, políticas públicas que deveriam proteger as mulheres são negligenciadas, substituídas por prioridades que não salvam vidas.

Vanessa Ricarte foi até uma delegacia, pediu uma medida protetiva, mas isso não a salvou—assim como não salva milhares de outras mulheres. Medidas que deveriam garantir segurança são ineficazes diante de um sistema que falha em proteger.

As pautas das mulheres jornalistas, das mulheres mães, das mulheres em qualquer profissão estão sendo relegadas ao segundo plano por disputas políticas e por um jornalismo que, muitas vezes, se vê deturpado por uma comunicação irresponsável, que nos trata como qualquer coisa, menos como sujeitos de direitos.

Ninguém nos perguntou nada. Ninguém se importa. Mas quando uma de nós é assassinada por um homem, nós nos importamos. Seguimos na luta. Pode ser difícil, pode ser exaustivo, mas não vamos nos calar—nem diante dos homens que nos oprimem, nem diante de qualquer um que tente nos dizer o que somos ou o que devemos ser.

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