A partir do fim de setembro, Maria Júlia Coutinho torna-se âncora do Jornal Hoje e passa a ser a primeira mulher negra a atuar como apresentadora titular de um jornal da Globo. A repórter Sandra Annenberg, que já trabalhava a 16 anos na função, vai dividir o Globo Repórter com Glória Maria.
Maju assume a bancada do Jornal Hoje
Por Luiza Esteves, Repórter Mulheres Jornalistas – RJ
Após a confirmação da aposentadoria do jornalista Sérgio Chapelin, que atua no Globo Repórter, a equipe de jornalismo da emissora precisou realizar essas transformações em relação às funções dos apresentadores. Uma das mudanças será a reformulação do Jornal Hoje com novo formato adaptado à âncora Maria Júlia, mais conhecida como Maju.
A jornalista iniciou a sua carreira na profissão como estagiária da TV Cultura e foi repórter e apresentadora ao lado de Heródoto Barbeiro. Nessa mesma emissora Maju recebeu menção honrosa na premiação Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. “Foi uma ideia simples, mas reveladora. Saí às ruas perguntando às pessoas qual era a cor da minha pele. Diziam tudo, menos que eu era negra. Quando perguntava por que, algumas diziam que não queriam me ofender. Um jeito simples, mas contundente de mostrar o racismo”, lembra.
Maju entrou para a TV Globo em 2007, fez reportagens para telejornais locais e migrou para as notícias meteorológicas em 2013, no Globo Rural. A jornalista também fez passagens pelo Bom Dia Brasil e Hora Um. Desde 2015 ela trabalha na previsão do tempo do Jornal Nacional e em fevereiro deste ano estreou como âncora do programa aos sábados. Após essa conquista ela se tornou a primeira mulher negra na bancada do principal programa jornalístico da TV.
O estilo descontraído de Maju aliado ao bom humor modificou a estrutura do Jornal Nacional. O programa historicamente engessado e extremamente formal ganha um tom de naturalidade a partir da interação ao vivo entre Willian Bonner e Maju. Devido à repercussão da jornalista, no final de 2015, ela foi convidada pela Organização Meteorológica Mundial da ONU para participar da COP 21 em Paris. O evento reuni apresentadores do tempo de vários países para se informar a respeito das mudanças climáticas. Após participar dessa edição, Maju compareceu também a encontros em 2017, em Turim, e em 2018, em Paris novamente.
Por conta das análises aprofundadas de Maju acerca da sustentabilidade e das mudanças climáticas introduzidas na previsão do tempo do Jornal Nacional, ela ganhou menção elogiosa da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Hoje, aos 40 anos, a jornalista atua no Jornal Nacional e na meteorologia do Jornal SP2.
“Foi muita rua, muito chão, um aprendizado diário. E desde cedo senti a importância do trabalho dos jornalistas. Como numa matéria que começou cobrindo um acidente numa obra civil, desdobrou-se mostrando as condições ultrajantes em que os serventes de pedreiros trabalhavam e terminou com a Delegacia Regional do Trabalho obrigando a empresa a não somente melhorar as condições, mas a pagar a passagem para aqueles que desejavam voltar para o Nordeste. O jornalismo torna isso possível”, diz Maju