Quando pensamos em adotar um pet o item que mais pesa no lado negativo da balança é o fato deles terem um ciclo de vida menor do que o nosso

Por Rita Santos- Santa Catarina
rita.santos@mulheresjonalistas.com

Quanto mais próximo da nossa convivência diária, mais difícil assimilarmos o falecimento de um bichinho. Não podemos definir nem mensurar como cada um vivencia a morte, o que podemos fazer é consolar com ternura aqueles que nos procuram com esse assunto, da mesma forma que gostaríamos de ser acolhidos em nossas questões sentimentais.

Ainda que os psiquiatras digam que luto é um processo natural de resposta a um rompimento de vínculo, há pessoas que não entendem a morte de um animal dessa maneira. Sendo assim, se estiver passando pela dor da perda um animal de estimação, evite desabafar com quem não enxerga o animal da mesma forma que você, fale sobre essa ligação afetiva com quem vai ter empatia.

É importante vivenciar o luto, respeitar o período, assim como quando se perde um ente querido humano. Fernanda Mello, psicóloga, educadora canina e fundadora do canal Late que eu te escuto! informa que “as fases emocionais são as mesmas de quando perdemos uma pessoa querida: negação, raiva, negociação, depressão (às vezes é a fase mais longa) e aceitação”. Não podemos ter vergonha e nem esconder o que sentimos quando um animalzinho parte. Eles nos dão tantas alegrias enquanto convivem conosco que viver esse ciclo nos ajuda a superar a ausência e qualquer sentimento ruim que isso possa acarretar. 

Não é bom pegar um outro animal e colocar no lugar porque não vai amenizar o sentimento de perda, cada animal é único. Depois que passar o luto, aí sim, considere adotar um novo amigo peludinho, mas arranje outro nome para o seu novo pet.

Quem sofre com a perda do animal somos nós, seres humanos, o animal mesmo aceita a morte muito melhor. Fernanda lembra, por exemplo, que na matilha quando o cão chega ao final da vida, muitas vezes, ele some. Vai morrer sozinho para não prejudicar os outros. Por isso, é muito comum observar cães idosos se isolarem, eles costumam ficar mais quietos, no canto deles, até morrer.

E como nesse coletivo gostamos do lúdico, respeitamos quem ama os animais e não queremos que essa matéria tenha um pesar tão inerente ao tema, demos um jeito de entrevistar a carismática It Dog Estopinha Rossi, a vira lata mais famosa do Brasil, que, entre tantas atribuições – ela é atriz, blogueira e está sempre na tv acompanhando seu tutor Alexandre Rossi, adestrador e especialista em comportamento animal – também é escritora, em 2017 ela publicou sua biografia. Mês passado a mamãe biológica dela partiu, então, pedimos para a assessoria de comunicação dela compartilhar conosco, em palavricas dela, é claro, como é lidar com a perda daqueles que amamos. E recebemos a resposta:

animais, mulheres jornalistas, coletivo mulheres jornalistas“Nós, cãozicos, não entendemos muito bem o que significa morrer, sabe, tios, mas com certeza sabemos muito bem o que é sentir falta de alguém que a gente ama amadico! Por isso, fiquei bem chateadica com a notícia que a minha mamis peluda biológica morreu. Ela chamava Madona, e a gente foi resgatada junticas. Mesmo não tendo vivido muito tempo com ela, ela fez de tudo para me proteger desde que eu nasci. Mas sabe qual é a parte boa disso tudo e que me fez ficar em paz? É que eu sei que ela teve uma vidica muito boa, cheia de amor, brincadeiras, petisquinhos, aventuras e tudo que um cãozico merece… Eu sei que às vezes parece, mas a gente não é humanico, tá! Juro juradico Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…. Tem várias coisicas que precisamos para o nosso bem-estar, né! Então o que eu posso dizer pra quem perde alguém é que a vidica é essa que a gente tá vivendo agorica enquanto a gente tá tentando chegar em algum lugar! Todo dia pode ser um dia maravilhosico! Vamos ser mais cãozicos (ops, já sou kkkkkkkk) e fazer todo dia valer a pena. Minha mamis Madona com certeza fez!”

Uma graça esse depoimento, não é mesmo?

E como falar disso com as crianças? Explique sobre essa possibilidade desde o princípio, quando o animal chega. Exponha o assunto da forma mais leve e verdadeira possível, fale de suas experiências anteriores com os animais, conte histórias, mostre fotos de seus animais de estimação que já se foram, leia sobre isso para elas, permita que elas cresçam com uma visão mais objetiva da morte. Não é para normalizar o sentimento, mas fazê-las entender que o luto é um processo natural, que cedo ou tarde temos que lidar com ele, sem querer resolver, só superar.

Se você tem animal de estimação, quando ele partir, procure cultivar as lembranças saudosas e alegres que teve com ele, foque na vida, não nos momentos finais, sabendo que a dor da ausência é proporcional ao amor da presença. E considere que viver é um experimento imprevisível, com uma única certeza absoluta: a de que somos finitos.