Nesta semana, Marielle Franco completaria 41 anos. Enquanto não solucionarmos seu assassinato não avançaremos como uma democracia consolidada 

Comentarista Melissa Rocha- RJ
melissa.rocha@mulheresjornalistas.com

“Quem mandou matar Marielle?”. A pergunta, amplamente repercutida nos últimos dois anos, expõe uma ferida aberta na história política do Brasil. 

Na semana em que Marielle Franco completaria 41 anos, mais precisamente no último dia 27, é válido destacar que, enquanto não solucionarmos esse crime, não avançaremos como uma democracia consolidada. 

Essa afirmação não significa que a vida de Marielle Franco tinha mais valor que a de cidadãos que todos os dias são vítimas da violência – como querem fazer crer alguns integrantes da extrema-direita. O que ela expõe é que executaram uma vereadora, legitimamente eleita, que lutava justamente para corrigir as desigualdades que alimentam essa violência diária. 

Durante sua trajetória política, Marielle tinha entre suas principais pautas a defesa dos direitos humanos, a ocupação feminina na política e nos espaços públicos e o fim de políticas de segurança pública que determinam negros e a população periférica como inimigos.  

Em uma análise superficial, tais pautas podem parecer coisa de “esquerdistas”, “comunistas” ou qualquer outro termo atualmente em voga no debate político raso. Porém, um olhar aprofundado mostra que todas elas, sem exceção, estão interligadas na busca pelo desenvolvimento social e econômico do país. 

Não há paz sem justiça social, e essa era a mensagem de Marielle. Já a execução da vereadora passou um recado de medo e opressão a todos aqueles que enxergavam em sua eleição um sinal de mudança. O crime também foi uma tentativa de desmantelar todo o trabalho de mobilização social construído pela vereadora. Basta lembrar que ela não foi vítima de apenas um ataque, mas sim dois – que ocorreram em sequência.

O primeiro foi a emboscada que ceifou sua vida e a de seu motorista, Anderson Gomes. O segundo ataque veio poucas horas depois, na forma de uma onda de notícias falsas, replicadas em redes sociais, que vinculavam a vereadora ao narcotráfico – uma clara tentativa de desvirtuar a imagem de Marielle, desacreditar sua luta e fazer com que sua trajetória fosse lançada ao esquecimento. 

A tentativa foi em vão. Marielle se converteu em um símbolo de resistência e luta por equidade e igualdade de direitos. Sua voz não foi calada, mas sim amplificada por inúmeras meninas e mulheres brasileiras que hoje se inspiram em sua trajetória. Ecoou também no exterior, entre homenagens e campanhas. Em 2018, por exemplo, ela foi a primeira brasileira listada na campanha “Escreva por Direitos”, a maior da Anistia Internacional.

Em paralelo, na Câmara dos Deputados, parlamentares dispostas a manter vivo o legado de Marielle criaram um corredor dedicado à vereadora. A mensagem das deputadas não poderia ser mais direta e objetiva: “Não vamos ficar caladas”.