Nome da jornalista: Marta Dueñas
E-mail: marta.duenas@mulheresjornalistas.com?
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Entre ceticismo, negacionismo e ganância vamos empurrando a nova realidade climática crítica no mundo e no Brasil. Assistimos a enxurradas, ciclones, alagamentos, secas e incêndios florestais. Testemunhamos afogamento de lobo guará por excesso de água e morte de botos pela falta dela. Normal não pode ser e na verdade não é! Portanto, se deixa enganar quem acredita em catástrofes “naturais”. Enquanto um projeto político internacional tenta relativizar a crise climática, as evidências científicas dizem outra coisa. Estamos realmente vivendo consequências severas, graves e algumas até irreversíveis relacionadas às mudanças climáticas.

Primeiro: o clima não muda por acaso. Ele é modificado como consequência de um modelo de vida adotado por nós, ou por quem decide pela gente. Estamos centralmente vivendo a mando do mercado e às custas de explorar os recursos naturais para produzir bens de consumo. Mesmo quem mal consegue consumir está na mesma barca. São camadas de injustiças que, como diversos produtos, cobrem essa vida embalada pelo capital. Explorar, usar, produzir, queimar, descartar, num resumo bruto. Sim, também mineramos e desmatamos em nome da saúde, da moradia, da pesquisa. Mas é para acelerar o ritmo do mercado que as máquinas rangem mais. E uma verdadeira novela é construída em torno deste mercado que é vivo, mandatário e decisivo sobre todas as pessoas, ou a maior parte delas, que se juntam para ser a sociedade.

Segundo: o mercado tem sentimentos, a gente parece que não. Quando elegemos um governo popular, a imprensa ecoa a opinião do “mercado”. Quando um presidente anuncia políticas públicas sociais ou sanções a empresas que causam impacto em nossas vidas, o mercado sobe ou baixa, mostrando mágoa ou otimismo daquilo que é sobre as nossas vidas. Afinal quem é o mercado? Do que vive? O que come se não a nós mesmos, nosso tempo, nossa pele, nossa vida sem ao menos produzir e gerar para todos nós?

Então vale pensar que mercado e políticos, muitas vezes, caminham de mãos dadas, mesmo aqueles que, do alto de seus cargos estatais, clamam por um Estado que não se meta na vida do mercado. Mesmo sabendo que ele se meterá na nossa e nas vidas de todas as vidas sobre a terra. É uma ousadia e poder inimaginável. E é nele que reside boa parte da responsabilidade da crise climática que é declarada e é real.

O Rio Grande do Sul viveu dias de incerteza e perdas. Uma temporada de chuvas intensas atravessada por ciclone e ventos fortíssimos. O interior do estado com centenas de pessoas desabrigadas e a capital em alerta devido às cheias do Guaíba que marcou nível recorde causando transbordamento e cheias nas ruas da área do Centro e Zona Sul da cidade. As imagens que percorrem o país são impressionantes.

Em países do hemisfério norte e, recentemente, no Brasil, ondas de calor causaram colapsos físicos e até mortes. A última semana de inverno em nosso país registrou temperaturas muito altas para a estação. Especialistas comentam que o calor pode provocar diversos efeitos no corpo, inclusive a morte. Insolação, estresse, dor de cabeça, desidratação e mal estar são alguns dos efeitos das temperaturas elevadas no corpo humano.

Enquanto as manchetes e notícias davam conta de mostrar ruas cheias de água e até mesmo leões marinhos se divertindo numa calçada no Sul do país, parte da imprensa teima em tratar tudo como catástrofes ou desastres naturais, o que reforça a onda de ceticismo sobre a nossa responsabilidade em tudo que tem ocorrido mundialmente. Existem desastres naturais, claro. Catástrofes como tsunamis, terremotos ou ciclones. Mas o que temos visto são chuvas extremas, secas extremas e temperaturas extremas. Isso é bastante diferente e podem se somar a ocorrências naturais potencializando o problema.

Temos que equalizar a linguagem para que, assim como a voz do mercado tenha escuta no noticioso, a voz da natureza e da nossa vida também o tenha. Temos riscos climáticos, crise climática e crimes ambientais, entre outras ocorrências. E no Brasil podemos destacar o desmatamento da Amazônia, que teve um considerável descontrole nos últimos anos.

A floresta Amazônica, vale reforçar, é um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, absorvendo grandes quantidades de CO2 e ajudando a regular o clima global. Porém, com o avanço do desmatamento, parte desse potencial é perdido, contribuindo para o aumento das emissões de gases de efeito estufa. Os manguezais, que deveriam estar protegidos por rígidas políticas ambientais pelo seu potencial purificador de água e ar e sua configuração favorável à multiplicação de diversas espécies, são simplesmente atravessados pelo mercado imobiliário.

Além disso, o Brasil enfrenta desafios relacionados à poluição do ar, especialmente nas grandes cidades. A queima de combustíveis fósseis, como diesel e carvão, nas indústrias e no transporte, é uma das principais fontes de emissões de gases poluentes, como o dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio. Esses poluentes, além de prejudiciais à saúde, estão ligados diretamente ao aquecimento global.

E não menos importante é o queridinho do mercado, e de algumas bancadas, o Agro, que se diz pop mas usa e abusa de agrotóxicos e desmata para produzir e cultivar de tal forma, causa impactos negativos no meio ambiente e na saúde humana. Muitos desses produtos químicos são persistentes no solo e na água, o que pode afetar a qualidade dos recursos naturais e a biodiversidade. Produtos, muitas vezes, já banidos em outros países.

Os impactos extremos como calor, chuva ou seca já estão em nossas agendas e, diante dessa crise, é fundamental que o Brasil adote medidas efetivas para proteger a vida da população e até mesmo esse tal mercado. Não se trata apenas de exigir mudanças individuais ou ações federais. É preciso que o Brasil cumpra os pactos internacionais de que é signatário criando e adequando políticas públicas em todos os níveis (federal, estadual e municipal) que atendam necessidades como a drástica redução da queima de combustíveis fósseis e o fim do desmatamento da Amazônia.

É preciso orquestrar ações e investimentos que vão da qualificação do transporte coletivo ao investimento em fontes de energia renovável, do incentivo de práticas agrícolas sustentáveis ao fortalecimento das políticas de conservação. Essas ações devem ser acompanhadas por políticas de educação ambiental e conscientização da população sobre a realidade da crise climática.

Se tem algo que está realmente ao alcance de nós mortais que não manejamos a máquina da produção é combater o negacionismo climático, contribuindo para o alerta social e tomada de responsabilidade diante do que vivemos.

As evidências científicas são claras: as atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis e desmatamento, têm aumentado significativamente as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, levando ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Essas mudanças têm impactos negativos em ecossistemas, biodiversidade e saúde humana. E isso está ligado a todas estas ocorrências nefastas que são noticiadas, algumas vezes, como sendo naturais ou cíclicas.

Descortinar o ceticismo e o negacionismo será uma tarefa desafiadora para educadores, órgãos de imprensa, entidades públicas e ativistas. Assim como o combate a fake news é uma questão cidadã, a aliança da informação com a ciência no tema ambiental é mandatória para que se possa construir enfrentamentos efetivos à nova realidade do clima.

O negacionismo climático é parte de uma estratégia política ancorada na desinformação e nos interesses econômicos privados. E para tanto, como em outros setores mercadológicos, trabalham com recursos bastante eficientes como a criação de canais de comunicação que propagam informações pouco ou nada científicas formuladas por institutos e empresas que trabalham pelo mesmo propósito. Mais do que crenças, os negacionistas têm metas e propósitos claros e servem a grupos econômicos com braços em diversos segmentos, o que inclui o mercado da comunicação, uma fatia de políticos e o segmento das igrejas.

Criar políticas públicas de enfrentamento ao negacionismo também precisa estar na ordem do dia, pois uma vez que a boiada passou, formamos um país que tem mais boi do que gente. E não que a vida deles não importe. Mas não é pela vida, necessariamente, que foram criados. E esse é um indício claro do tipo de país que estamos vivendo.