Por Vivian Jorge, jornalista – RS

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Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Entenda a diferença e a importância das técnicas fotográficas para a gastronomia

Sabe aquelas imagens gastronômicas que enchem nossos olhos? Que sentimos vontade de saboreá-las? Que só de olhar conseguimos distinguir texturas, sabores e sensações? Então, essa é a função do Food Styling. Mas não se resume apenas a tirar foto de um prato, pois o Food Styling exige técnicas para tornar os alimentos com uma boa aparência, assim como a foto de comida é a criação de imagens de alimentos. Confira na sequência dicas de fotógrafos profissionais e a importância das fotos na área da gastronomia.

A gastronomia nunca esteve tão em alta quanto nos últimos anos. Isso se deve, também, à crescente exposição imagética de pratos e receitas no mundo virtual. A expressão que vem do inglês para um “estilo de comida” engloba uma produção técnica antes de fotografar a comida. Para a fotógrafa Andréia Marliere, de 51 anos, o Food Styling é a estilização do alimento a partir de técnicas que o transformam numa bonita apresentação para a fotografia. Já a fotografia de comida é um gênero fotográfico muito específico, no qual o fotógrafo está atento a toda composição, luz, cenários etc. Apesar de uma complementar a outra, há suas diferenças e finalidades.

Foto: Divulgação/Andreia Marliere

“As pessoas costumam associar o Food Styling com a fotografia de alimentos pura e simples ou, ainda, a composição e distribuição dos alimentos e objetos na mesa. O que não é correto. O Food Styling é uma técnica bem mais aprofundada da produção do alimento, é o desenho do alimento antes de ser fotografado para algum uso profissional”, explica.

Formada em publicidade, Andréia é proprietária da Marliere Fotografia de Alimentos e Food Styling, em Brasília, e há 15 anos ela se dedica à fotografia de alimentos. Ela conta que, logo depois de formada, buscava descobrir seu lugar na área, até que ganhou uma câmera fotográfica de presente, o que a ajudou a descobrir seu dom. Em meio a cursos e workshops com especialização na área, conheceu técnicas de preparo de alimentos para fotografia: o Food Styling. Hoje, a empresária atende muitas marcas e ministra cursos profissionais para fotógrafos e apreciadores da fotografia de alimentos.

“É muito bom ressaltar que não existe foto Food Styling, pois a expressão é ligada às técnicas de preparo e decoração do alimento que irá ser fotografado. Uma boa foto de alimentos depende muito do objetivo que você quer. Um dos meus objetivos é criar um mercado preparado para que as pessoas se tornem exigentes. Acredito que muitas pessoas estão na mídia, mas ainda não se preocupam 100% com a qualidade do que fazem”, diz a empresária.

Muitas produções de Food Styling são encontradas em ações publicitárias e, para isso, é preciso entender que existe toda uma pré-produção e um briefing que vai direcionar o trabalho: a quem se destinará as fotos; qual o ramo da empresa; o atual cenário; os elementos que irão compor o cenário etc. “Nós buscamos referências, é preciso planejamento e todo um trabalho por traz do cliente. Nos cursos que ministro, explico todos esses detalhes, ensino do zero até a gestão financeira de sua empresa. Fotos diferenciadas, fluxos de trabalho, sessão de fotos, business etc”, diz Andreia.

Neste diferencial, a área gastronômica, aos poucos, exige profissionais qualificados que saibam identificar as demandas de seus clientes com qualidade. Para a fotógrafa de gastronomia, Débora Lemos, de 23 anos, a paixão pela fotografia chegou cedo, aos 12 anos de idade. Também formada em publicidade, ela iniciou com fotografia publicitária, corporativa e audiovisual, porém na pandemia começou a se interessar pela fotografia de alimentos, pois, devido aos protocolos e distanciamento social, preferia trabalhar com fotos em que pudesse criar cenários em casa. Logo, iniciou os primeiros cursos e estudos aprofundados na fotografia gastronômica. “Desde que comecei a estudar e praticar mais a fotografia de gastronomia, fui me apaixonando. Em julho de 2020, girei a chave total, parei de fazer qualquer outra coisa e entrei de cabeça. Hoje não troco essa área por nada e passei a investir nisso”, declara Débora.

Foto: Divulgação/Débora Lemos

Apesar da pouca idade, Débora está atuante no mercado de sua cidade (Santa Maria/RS) e região com a Débora Lemos Fotografia. “Acredito que os consumidores estão se dando conta e já não aceitam mais, tão bem, um restaurante que utilize fotos prontas de bancos da internet. Imagens que não representam fielmente o que vão receber em casa. Com isso, donos de negócios na área alimentícia começam a se preocupar em ter boas imagens e de qualidade do seu produto”, complementa.

Nesse intuito, muitos estabelecimentos e chefs começaram a investir em qualidade de fotos e divulgação na área da gastronomia, inclusive o Food Stylist, profissional que domina a arte de criar produções que tornam o alimento visualmente bonito em uma fotografia gastronômica. Segundo Andreia, o Food Stylist é o estilista responsável por apresentar da melhor maneira o alimento. É claro que o Food Stylist não deve entender somente de fotografia, mas a relação dos alimentos com o resultado final, desde entender o alimento e organizá-lo de modo que fique mais fresco, atraente e saboro possível. “Eu precisei estudar, buscar cursos e técnicas profissionais para hoje trabalhar como Food Stylist, também”.

Para ambas as profissionais, qualquer pessoa pode trabalhar com Food Styling ou fotografia de comida desde que tenha conhecimento, objetivo e técnica. As fotos também podem ser feitas pelo celular se fotografar de um jeito certo e para redes sociais, por exemplo. Andreia ressalta ainda que, para trabalhos de ganhos e clientes com remunerações, o ideal é investir em câmeras. Já Débora preza por uma boa luz natural.

Confira algumas dicas das profissionais de fotografia para uma boa fotografia de gastronomia:

  • Luz adequada, de preferência natural;
  • Saber fazer a composição em que os elementos contem uma história;
  • Utensílios, louças e panos;
  • Ingredientes utilizados na receita;
  • Usar o alimento de forma inteligente na mesa;
  • Nunca iluminar e centralizar o alimento;
  • Saber preparar o alimento do jeito certo para a foto;
  • Pós-produção para realçar cores e luz.

 

Fotografia x Hobby

Adel Nalin mora na Bélgica e, aos 24 anos, é confeiteiro. Ele conta que entrou no mundo da gastronomia quando ficou muito doente, com diabetes e outras doenças imunológicas, precisando mudar radicalmente sua alimentação. Na culinária vegetariana, descobriu seu dom. “Quando entrei no mundo da alimentação vegetariana, minha saúde mudou cem por cento. Então eu decidi começar minha carreira em comida vegetariana, sobremesas veganas, para que eu deixasse todo mundo saber que comida vegetariana também deixa um corpo forte e saudável”, esclarece Adel.

Foto: Reprodução/Instagram/@vegansweetss

Focado na alimentação saudável, o confeiteiro criou uma conta em uma rede social, a @vegansweetss onde produz e reproduz fotos e imagens suas e de outros profissionais para que as pessoas possam acompanhar, se inspirar e descobrir que há prazer nos alimentos ou pratos vegetarianos e veganos. “Adoro compartilhar as fotos mais profissionais possíveis para que elas chamem a atenção das pessoas para a saúde e alimentação saudável, principalmente, os não vegetarianos para que possam descobrir o que é esse tipo de bolo vegano sem glúten. Coloco todo meu esforço nestas receitas e imagens para que as pessoas tenham consciência do que é uma alimentação saudável”, destaca o confeiteiro.

Diretamente do Recife, Larissa Barbosa, de 31 anos, nos traz uma história parecida com Adel. A engenheira civil, há cerca de quatro anos, recebeu o diagnóstico de gastrite e duodenite. A partir da necessidade de mudar sua alimentação devido à saúde, começou a se interessar pela gastronomia. Já a fotografia vem desde criança ao retratar histórias e momentos em família e com amigos. A fotografia gastronômica despertou há dois anos quando começou a estudar e praticar. “Nunca estudei fotografia formalmente, toda minha educação na fotografia é autodidata. Tenho um grupo de amigos que considero meus mentores em fotografia no geral. Me considero uma aprendiz tanto de fotografia quanto de Food Styling, que pra mim é “o que”. Composição é “como”. Portanto, o que eu escolho para compor, seja a apresentação de um prato ou minha cena gastronômica é estilismo culinário”, revela.

É claro que a gastronomia aliada à fotografia de alimentos produz imagens que dão água na boca de quem as vê, levando as pessoas a desejarem ou replicarem aquela cena ou prato. Larissa é autora do canal @cozinhadestemida, no qual compartilha receitas e fotos gostosíssimas. Recentemente, participou e ganhou menção honrosa em um concurso internacional sobre fotografia gastronômica para amadores. Para a foto ao lado, do Tiramisù, a engenheira pensou em porções individuais e quis trazer o verde como referência ao cacau, tanto pela referência ao ingrediente, quanto para dar um toque de tropicalidade brasileira, já que era um desafio internacional.

Foto: Divulgação/Larissa Barboza

“Escolhi fazer a cena em tons de verde e madeira, além de imaginar algumas camadas de planos e elementos pra trazer complexidade. Recortei um coração em papel manteiga e pus sobre a taça protegendo aquela área do creme, de modo que, quando o papel fosse retirado, deixasse um relevo que enfatizasse o quanto aquela é uma sobremesa que conquistou corações ao redor do mundo. Escolhi o ângulo da câmera em cerca de 45 graus para mostrar tanto as camadas, quanto o topo das taças. Os objetos principais foram dispostos tendo em mente a proporção áurea, como mostra o guia na imagem, e usei três elementos para causar a sensação de assimetria e triangulação. Eu precisava que o elemento principal ficasse focado, mas também queria desfoque no plano imediatamente posterior das folhas, então configurei a abertura da lente 35 mm em f/2.8 e velocidade do obturador em 1/160. Usei a luz natural da janela da minha cozinha e tripé. O tratamento para enfatizar as cores foi feito em Lightroom e a edição em Photoshop”, explica.

 

Quando o hobby vira trabalho

Que a pandemia reinventou a vida de muitas pessoas, todos sabemos. Com Isabela Ferrão Apolinário, de 31 anos, não foi diferente. Ela trocou a engenharia pela fotografia de alimentos durante a pandemia. Em 2013, Isabela começou a se interessar pela gastronomia, cozinhando em casa e para amigos, e logo a perfil pessoal passou a ser profissional Tudo que cozinhava compartilhava nas redes sociais, mas foi no início da pandemia que ambas as áreas se intensificaram. “Comecei a cozinhar com muita frequência em casa, com isso as fotos também duplicaram. Comecei a ganhar novos seguidores e fui me interessando mais pela fotografia de alimentos. Em julho do ano passado, comecei a estudar e aprender sobre fotografia. Hoje em dia, meu hobby tomou outra proporção e virou uma profissão. Minhas inspirações vem de tudo, uma conversa, fotos que vejo, referências, fotógrafos de gastronomia etc”, fala.

Foto: Divulgação/Isabela Apolinário

Por não ter formação na área, Isabela está buscando mais cursos, eventos de fotografias, ebooks de fotógrafos e escolas em que possa se especializar. Já, o seu perfil pessoal passou a ser profissional.  “Meu primeiro cliente na pandemia veio pela rede social, no @isapolin ele conheceu meu trabalho e entrou em contato. Hoje sou fotógrafa de alimentos, quero me especializar mais a fundo e, inclusive, aprender as técnicas do Food Styling. Quero muito melhorar, aprender novas coisas e investir em fotografia. Essa é minha profissão agora”, revela.

Diferentes sites já discutem a profissão do Food Stylist, inclusive, faculdades de gastronomia contam com cadeiras de fotografia em suas grades. E você? Gosta de cozinhar, gosta de fotografia, já pensou em se especializar, buscar cursos e empreender atendendo essa nova demanda de mercado?