Exposição sobre Rita Lee no MIS (SP) é impactante
Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Nossa roqueira maior, Rita Lee, tem sua carreira exposta, literalmente, já que a cantora e compositora guardou por toda a sua vida figurinos e adereços, que se transformaram na “Samsung Rock Exhibition Rita Lee”, aberta ao público no MIS (Museu de Imagem e do Som), em São Paulo, desde 23 de setembro. “Sou dessas acumuladoras que não jogam fora nem papel de embrulho e barbante. Vou adorar abrir meu baú e dividir as histórias que as traquitanas contam com quem for visitar. Tenho recebido ajuda de uma turma da pesada: o grand maestro da cenografia é do meu querido Chico Spinosa, meu figurinista e carnavalesco da Vai-Vai; a direção é do meu multitalentoso Guilherme Samora e a curadoria é do meu filho João”, conta Rita na coletiva de imprensa.
João Lee disse que o sonho de sua mãe era realizar essa exposição em São Paulo, e que Rita, quando viu os manequins especialmente criados à sua imagem, semelhança e proporções, falou: “gente, eu estou aí, é a minha cara!”. Sim, as manequins são destaque. Com estudos de Spinosa e Samora, e feitas uma a uma por Clívia Cohen, em posições de Rita, com o rosto da artista em todas elas, com uma precisão surreal e excelente interpretação artística. A escolha do acervo teve a participação de Rita Lee, que gravou QRcode para explicar aos visitantes as passagens marcantes de sua carreira. Através de QRCodes, os visitantes poderão ouvi-la contando sobre alas, peças, histórias etc. “Achamos que ia ficar simpático ter minha voz narrando as histórias das peças, me sinto mais íntima do visitante. Não seria exagero dizer que esta exposição vai ser a mais bacana até agora, porque foi pensada para dar alegria às pessoas no meio de tantas tristezas”, reflete Rita.
Homenagem para uma das maiores artistas do país, a mostra chega quando a cantora está em tratamento de um câncer de pulmão diagnosticado em maio deste ano. Aos 73 anos, Rita diz que não está nada fácil, mas está firme e repleta de coragem para vencer, seguir com outros lançamentos, como a nova música composta com o seu parceiro de vida, seu marido e pai dos seus três filhos, Roberto de Carvalho. “Change”, já nas plataformas de streaming e em clipe no canal do YouTube da artista, é o nome da nova canção escrita pelo casal, em inglês e com refrão em francês. De pegada dançante, a canção ganhou parceria de Rita e Roberto com o produtor de música eletrônica, o DJ Gui Boratto. Mas os projetos não param por aí para a autora mais vendida de 2017 com “Rita Lee: Uma autobiografia”, lançado em 2016, e já promete mais um livro infantil para falar sobre a morte de uma forma leve para as crianças. Seu filho João, curador da exposição, adianta que estão a caminho um filme e um documentário sobre a artista. Mas a carreira de Rita Lee já está disponível agora para visitação em grupos de 30 e 60 pessoas, como anunciados pelo MIS. Dividida por salas temática e, em tantos casos, afetiva, a exposição reproduziu Rita Lee com seus figurinos, seus cenários, e criou até um estúdio que promete uma inovadora experiência de áudio. E Rita tem suas preferências na mostra: “todas as peças contam uma história diferente e engraçada. Mas o vestido de noiva que Leila Diniz usou e a bota prateada da Biba eu dou valor. E ambos são produtos de roubo”, diverte-se Rita, ao lembrar que nunca devolveu o vestido depois de usar numa apresentação dos Mutantes e da famosa história das botas, com as quais saiu andando da butique Biba, de Londres, em 1973. Ela não só foi perdoada pela estilista Barbara Hulanicki, a criadora das botas, como ganhou dela os figurinos da tour Babilônia (1978), que também estão expostos, assim como o piano de mais de 100 anos que era da mãe de Rita, Chesa, que foi o instrumento com o qual ela teve seu primeiro contato com a música.
O encontro e o amor de Rita e Roberto de Carvalho; a repressão da ditadura (Rita é a compositora mais proibida, segundo dados da época) e a prisão; a família; a causa animal e obras de arte da Rita têm destaque, assim como estruturas criadas especialmente para a mostra, como o palco giratório, a manequim que levita e o Peter Pan que sobrevoa a entrada. “É muito emocionante. Tem uma parte dessa história que vivi com ela e tem outra que não estava aqui ainda. Então, ver essas roupas, esses momentos tomarem vida, é muito emocionante. São personagens, também, de meus sonhos e imaginação. É a história de vida da minha mãe. E isso mexe diretamente com minha emoção”, avalia João Lee, o curador.
O curador João Lee, filho da artista, Guilherme Samora, diretor artístico, e o cenógrafo Chico Spinosa explicaram em coletiva detalhes da montagem da “Samsung Rock Exhibition Rita Lee”. O diretor Guilherme Samora, para quem o mundo seria muito chato sem Rita, disse que o desafio foi editar a mostra, diante de tanta coisa especial que ele viu. “Ela traz a liberdade, o desacato com amor”, emendou. João Lee falou que procurou contar toda a história de Rita, cada uma de suas fases, mas que o planeta da mãe era muito mais amplo. “Todo o acervo são personagens com as quais convivi dentro de casa minha vida toda”, reforçou.
Chico Spinosa afirmou ter se arrepiado diversas vezes na montagem da exposição, por sentir a presença de Rita. Na cabeça de Spinosa, ele gostaria de encerrar sua fase carnavalesca levando para a avenida no Carnaval de 2023 nada menos que Rita Lee. E essa mistura deu à exposição um jeito muito próprio, como conta Guilherme Samora, o diretor artístico. “Acredito que as pessoas vão se surpreender. Existe tanto acervo da Rita que o que enfrentamos nessa exposição foi justamente a edição do que ficaria de fora. Artigos preciosos e raridades não faltam. Por isso, ela foge do estilo de exposições com muitas reproduções ou essencialmente virtuais. Durante a montagem, fiquei arrepiado em diversos momentos, só de sentir o valor de cada peça, de cada sala. Tudo lá tem um motivo. E uma das grandes preciosidades é justamente ter o Chico Spinosa, que trabalhou com a Rita pela primeira vez em 1982, nessa viagem com a gente.”
Ao visitar a exposição, nada é fruto de um padrão. Tudo foi pensado, feito e readaptado para uma realidade colorida: uma roqueira cheia de cor que chega à Terra em um disco voador. Detalhes, como uma aura de Aparecida ou das estrelas feitas à mão, assim como a recriação do palco giratório da tour 1982/1983 (ou O Circo, como ficou conhecida), tudo é feito para a mostra. Artesanal, no melhor sentido da palavra. A equipe colocou o trabalho em cada letra pintada na parede, em cada figurino que precisou ser restaurado ou em cada peruca: todas, com cores e cortes estudados. Spinosa fala da emoção desse momento: “Encontrar com Rita Lee foi primordial para minha carreira. Alguns anos atrás, nos encontramos para fazer o especial ‘O Circo’, da TV Globo. Eu, paulista, chegando na Globo vindo da TV Tupi, fui fazer o figurino desse especial e foi um marco. Foi como tomar um lisérgico. Rita mudou totalmente a minha maneira de ver. Eu conheci o pop, fiquei encantado com a energia, com o colorido e com a estética que essa mulher tem. Nos encontramos outras vezes, em outros trabalhos: no manto de Nossa Senhora Aparecida para o Hollywood Rock de 1995, na Marca da Zorra, nas cabeças de Santa Rita de Sampa, na Erva Venenosa… Hoje, com esse convite para a cenografia e o restauro dos figurinos para a exposição, tenho certeza de que Rita sempre foi o melhor do pop e o melhor de mim. Revendo toda a sua obra, me coloco de quatro a essa poetisa. A quem respeito muito. Nesse encontro, aos meus 70 anos, ela me dá energia e me faz mais criativo”.
O estúdio é um caso à parte: terá uma experiência de áudio imersivo que utiliza a tecnologia Dolby Atmos, com projeto desenvolvido pela ANZ Immersive Audio, trazendo uma experiência sonora imersiva para a sala da exposição baseada em um estúdio. Ultrapassando a reprodução de som da maneira convencional, o áudio imersivo proporciona uma escuta similar ao da vida real, com sons acima, abaixo, aos lados, na diagonal, em toda sua volta. A ANZ espacializou músicas da rainha do rock em 3D e preparou uma instalação na qual as caixas de som, de altíssima qualidade, foram perfeitamente posicionadas para o público escutar algumas de suas obras como nunca: vindas de todas as direções. “É uma tecnologia que permite que a gente consiga ouvir vários detalhes da música que antigamente a gente não conseguiria. Vai dar claridade aos elementos e muito mais profundidade. E vai ser superinteressante: ao invés de a música te pegar só na direita e esquerda, ela te pega em 360º”, explica João.
Um projeto desse tamanho só se realiza em coletivos de apoios e patrocínios, o que não poderia ser diferente para a execução da “Samsung Rock Exhibition Rita Lee”, realizada pela Dançar Marketing, já reconhecida por projetos grandiosos e de impacto na área da cultura, que contou com a parceria do Ministério do Turismo por meio da Secretaria Especial da Cultura, tem patrocínio máster da Samsung, patrocínio da XP e Porto Seguro e apoio UNINASSAU.
Samsung Rock Exhibition Rita Lee, desde 23 de setembro de 2021, no MIS – Museu da Imagem e do Som, na Avenida Europa, 158, Jardim Europa – São Paulo/SP. Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h; Ingressos: a partir de R$ 25,00, nas plataformas da Ingresso Rápido e INTI; Classificação indicativa: Livre.