Etarismo: caso de Bauru chama atenção para a falta de políticas de inclusão
Por Silvana Inácio
Embora a agenda ESG esteja impulsionando o acesso de grupos diversos a vagas, ainda há uma lacuna na contratação dos mais longevos
Nos últimos dias, o caso de uma aluna de biomedicina, em Bauru, causou comoção nacional: a sua idade – prestes a completar 45 anos – e presença na faculdade, foram motivo de deboche entre estudantes da mesma classe, que expuseram comentários em vídeos postados em uma rede social. O episódio é um importante termômetro para nos questionarmos, afinal, ainda se perpetua a crença de que pessoas à meia idade e fase idosa, têm queda na capacidade social e intelectual, e não deveriam mais ocupar espaços nas salas de aula ou cargos.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), elaborada pelo IBGE, os mais longevos continuam sendo o grupo com menor presença no mercado de trabalho. Embora a porcentagem de idosos ativos tenha aumentado de 5,9% em 2012, para 7,2% em 2018, o desemprego entre pessoas desse grupo passou de 18,5% em 2013, para 40,3% também em 2018. Então, como o mercado de trabalho está absorvendo e mantendo esses profissionais? Na outra ponta, qual é a mentalidade dos jovens que estão contratando e compondo as equipes?
Para Leizer Pereira, fundador da Empodera, comunidade pioneira na construção de negócios inclusivos, o cenário mudou e a mentalidade de quem contrata precisa acompanhar. “Antigamente alguns empresários argumentavam que os 50+ não tinham o domínio tecnológico necessário ou que eram velhos. Hoje, a realidade é outra! Sabemos que além de experientes, são mais comprometidos e têm mais inteligência emocional, soft skills cada vez mais essenciais no ambiente corporativo”, pontua.
De modo geral, a temática de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) tem conquistado cada vez mais espaço nas empresas, visto que tanto o potencial profissional quanto consumidor têm se interessado por instituições ligadas aos valores sociais. Uma pesquisa recente da Workmonitor, estudo global promovido pela consultoria em recursos humanos Randstad, mostra que quase metade dos profissionais brasileiros (48%) não está interessada em trabalhar para uma empresa não alinhada a valores sociais e sustentáveis, enquanto globalmente a porcentagem é de 52%.
Segundo Leizer, a adequação à agenda ESG no mundo corporativo, deveria ser uma oportunidade para que as empresas também olhem para a questão da presença dos mais longevos e experientes no seu quadro de funcionários. “O preconceito contra o ‘velho’ não faz mais sentido em uma comunidade que está passando constantemente por mudanças. É preciso que as empresas criem programas de inclusão etária para atrair essa parcela da população e ensinar os mais jovens a conviver e dividir experiências com eles. Também é necessário incluí-los no ambiente corporativo com treinamentos específicos e até adaptações se necessárias para o bem-estar do colaborador”, finaliza Leizer.