Por Camily Rocha, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Um relato de como as inundações devastaram as cidades do Rio Grande do Sul em um curto intervalo de tempo

Nas últimas duas semanas, os gaúchos vivenciaram a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Com as enchentes, 446 das 497 cidades do estado foram prejudicadas e ao menos cem pessoas foram vítimas fatais. Entenda, agora, por meio de uma linha do tempo, como a situação escalou para chegar em seu pior ápice, deixando cerca de 2.281.774 moradores afetados. 

Em 29 de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de volume elevado de chuva. A Defesa Civil passou o dia (29) entregando lonas e telhas às famílias afetadas. Cerca de 3 mil pessoas já foram impactadas por essa tempestade, que teve ventos de 90 km/h. 

No dia seguinte, 30 de abril, foram registradas as primeiras mortes da tragédia gaúcha. Nesta data, segundo a Defesa Civil, 104 cidades registraram problemas em razão da chuva. Dezoito pessoas estavam desaparecidas até aquele momento. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou em uma live que, até aquele momento, o cenário das chuvas se assemelhava ao de novembro do ano passado. 

Imagem: reprodução/Diego Vara

No dia 1° de maio, quarta-feira, o cenário piorou dramaticamente. Foi decretado calamidade pública. Já eram 114 cidades registradas como prejudicadas e mais de 19 mil pessoas afetadas. Nas informações do Metsul, os acumulados extremamente altos de precipitação provocariam uma situação de desastre de grandes proporções no estado gaúcho. E foi o que aconteceu.

A partir da quinta-feira (2), o número de vítimas fatais disparou, com 19 novas mortes registradas em 24 horas. “Não estamos conseguindo acessar determinadas localidades e sabemos de deslizamentos, de inundações e de pessoas que estão em locais inacessíveis. Infelizmente, esses números vão ainda aumentar”, afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB) em entrevista. 

No dia 3 de maio, já eram 265 municípios afetados, mais da metade do estado. O lago Guaíba ultrapassou a marca histórica de 1941 e alcançou o nível inédito de 4,77 metros. Isso causou inundações em diversos bairros da capital gaúcha, incluindo o centro histórico. 

No sábado (4), o número de mortos ultrapassou o da tragédia ambiental de setembro de 2023 no estado, quando 54 pessoas morreram em enchentes. Naquele momento, a estatística chegava a 55, com 74 desaparecidos. 

No dia 5 de maio, em entrevista coletiva ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador Eduardo Leite afirmou que o Estado iria precisar de um plano de recuperação semelhante ao Plano Marshall, que reergueu a Europa no pós-2ª Guerra Mundial. “É um cenário de guerra no estado. E como cenário de guerra, vai ter que ter também um pós-guerra”, disse Leite. Até às 9h deste dia, a Defesa Civil gaúcha contabilizava ao menos 75 mortes, 111 pessoas desaparecidas e cerca de 121 mil desalojadas

Na segunda-feira (6), subiu para 85 o número de mortos. O estado registrava 134 desaparecidos e 339 feridos. Com 201,5 mil pessoas fora de casa. Desse total, são 47,6 mil em abrigos e 153,8 mil desalojados. O Guaíba continuou a subir: na manhã de 6 de maio ele chegou a 5,33 metros, sem sinal de recuo. De acordo com dados do Repositório de informações geográficas para suporte à decisão – Rio Grande do Sul 2024, nesta data, as chuvas já haviam afetado 80% da população de Eldorado do Sul. 

Na terça-feira (7), já tinham sido registradas 95 mortes e 401 municípios afetados. A Prefeitura de Porto Alegre enfatizava que precisava de ajuda de “qualquer embarcação” para resgatar as milhares de pessoas que ainda esperavam por socorro. “Fazemos um apelo a quem tiver qualquer embarcação que possa ajudar. Jetski, barcos com motor, e até barcos sem motor, porque eles podem ser puxados pelos outros”, afirmou o vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, em entrevista coletiva na tarde daquele dia. 

Na quarta-feira (8), o número de mortes já tinha alcançado a marca de 100 pessoas. O nível do Guaíba, na capital gaúcha, estava em processo de descida, baixando 20 centímetros em 24 horas. Mas uma nova frente fria chegou ao estado, derrubou as temperaturas e causou mais chuvas e ventos fortes, além de riscos de raios e trovoadas. 

Na quinta-feira (9), as notícias eram de mais de 1,7 milhão de pessoas afetadas, com centenas de famílias desesperadas e sem saber mais como prosseguir diante a tragédia. De acordo com os informes desse dia, 330 mil pessoas estavam desalojadas.

Imagem: reprodução/ANA

Na sexta-feira (10), o Rio Grande do Sul contabilizava 126 mortos, 141 desaparecidos e 756 feridos. Cerca de 1,9 milhão de pessoas foram afetadas em 441 municípios, com 340 mil pessoas precisando deixar suas casas e 71 mil alojadas em abrigos.

Na tarde de sábado (11), o lago havia atingido 4,57, o menor nível desde o início da enchente. À noite, o nível começou a subir. Naquele momento, as autoridades locais contabilizaram 136 mortos, 125 desaparecidos e 806 feridos.

No domingo (12), o RS chegou a 145 vítimas fatais dos temporais. O boletim da Defesa Civil ainda contabilizava 132 desaparecidos e 806 feridos. A chuva voltou no estado e o número de pessoas fora de suas casas aumentou para mais de 618 mil. 

Na segunda-feira (13), o balanço indicava que 450 cidades haviam sido afetadas. Posteriormente, a Defesa Civil corrigiu o número para baixo, chegando em 446. O motivo da redução não foi informado. A lista atualizada removeu os seguintes municípios: Capão da Canoa, Carazinho, Tio Hugo e Xangri-Lá.

No dia 14, duas semanas depois do início da tragédia, cerca de 90% das cidades do Rio Grande do Sul já estavam afetadas e o nível do Lago Guaíba segue, desde então, alternando momentos de elevação e de estabilidade, mesmo sem chuva. Para aumentar o nível de prevenção, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul orientou as pessoas a se cadastrarem para receber os alertas meteorológicos. Para isso, é necessário enviar o CEP da localidade por SMS para o número 40199. Em seguida, uma confirmação é enviada, tornando o número disponível para receber as informações sempre que elas forem divulgadas. Também é possível se cadastrar via aplicativo Whatsapp. Para ter acesso ao serviço, é necessário se registrar pelo telefone (61) 2034-4611 ou clicando aqui

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