Por Camily Rocha, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Crescimento de eleitores com idade entre 16 e 18 anos reflete uma nova geração de conexão com a política

Embora não seja obrigatório, jovens com idade entre 16 e 18 anos vêm buscando inserção na representação política por meio da emissão do título de eleitor. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que desde o início do ano de 2024, mais de 400 mil títulos foram emitidos por eleitores dessa faixa etária.

Segundo o TSE, essa reversão teve início em 2022, com crescimento de jovens eleitores acima de 51% na comparação com a última eleição geral. Desde 2018, as estatísticas do eleitorado brasileiro habilitado para votar mostram que o número de eleitoras e eleitores cresceu 6,21%, passando de 147 milhões para 156.454.011 pessoas nas Eleições 2022.

Pedro Elgaly | Imagem: reprodução/Instagram

Para o cientista social e analista de políticas públicas Pedro Elgaly, parte da motivação desse maior interesse está associada ao avanço das redes sociais como uma forma alternativa de comunicação em relação à grande imprensa. “Isso aumenta a motivação dos jovens para se engajarem quando veem outros jovens falando sobre assuntos interessantes de cidadania, de política, assuntos que realmente afetam a vida deles”, explicou o cientista.

A importância do primeiro voto

Seja para ter a chance de eleger uma representação política, seja para vivenciar pela primeira vez a experiência de votar, o primeiro voto se torna um marco importante na vida de muitos jovens. Em fevereiro de 2024, a Justiça Eleitoral promoveu, nas redes sociais, uma campanha dedicada a esse tipo de voto. A iniciativa teve como objetivo incentivar pessoas entre 16 e 18 anos a tirar o título e a participar das Eleições Municipais deste ano. A “Semana do Jovem Eleitor” contribuiu para uma maior mobilização da juventude em relação ao desejo de participarem efetivamente das decisões eleitorais.

A estudante Lethycia de Jesus Barreto, de 17 anos, moradora de Arraial do Cabo, afirma que tirar o título de eleitor se tornou relevante não só para eleger um candidato, mas também por ser a primeira vez que terá a oportunidade de participar das eleições como cidadã eleitora. “Estou empolgada”, disse.

Já para Ana Kelly Dias Souza, também de 17 anos, a vontade de tirar o título já existia antes de completar 16 anos: “Eu sempre quis votar, sempre via minha mãe votando e estava animada para poder tirar o meu”, declarou.

Organizações de fomento à formação política

Um fator que está em constante avanço e que coopera com o crescente engajamento dos jovens com a política é o aumento de organizações de fomento à formação política de adolescentes brasileiros. Hoje, é possível observar a diversidade de organizações, movimentos e influenciadores que se dedicam para estimular os jovens a participarem da política, de modo geral.

Um grande exemplo é a Politize!, uma organização que busca levar educação política para jovens de todo o Brasil. Com uma linguagem acessível, didática e simples, a ‘Politize!’ é conhecida por produzir conteúdos de relevância acerca de assuntos educativos relacionados à participação política, alcançando um público majoritariamente formado por estudantes.

Imagem: reprodução/TSE

Pedro Elgaly declara que a dedicação que as organizações e os influenciadores têm hoje, através de redes sociais, colabora para o interesse dos jovens na política aumentar gradativamente, já que possuem a habilidade de tratar de assuntos complexos com uma linguagem simples, sem todos os termos burocráticos que a linguagem política costuma ter. Segundo ele, essas iniciativas tendem a incentivar ainda mais o pensamento crítico e o engajamento político dos jovens nas eleições.

Efeitos do voto jovem nas Eleições Municipais

É evidente que, com o aumento do engajamento jovem, há uma indagação dos efeitos que esse fator pode trazer, tanto a curto quanto a médio prazo. Pode-se esperar que, pelo menos, pautas de interesse dessa faixa etária estejam muito mais presentes, não só em 2024, como nos anos seguintes.

Para Pedro Elgaly, esse é um dos interesses específicos dos jovens nas eleições municipais: pautar com afinco temas que possam se converter em transformações sociais para as suas realidades. Pautar a limpeza urbana, a segurança pública do seu município, os sistemas de reciclagem e sistemas de saúde pública.

“Certamente essa questão da territorialização vai ser algo cada vez mais pautado pelas pessoas, sobretudo pelos jovens que querem ver a política municipal influenciando na sua realidade objetivamente. Acredito fielmente que o interesse específico do jovem nas Eleições Municipais vai se estender sobre essas questões nos seus territórios e assim, irão apoiar candidaturas que cercam debates sobre esses temas de forma territorializada nas suas próprias realidades, não apenas de forma ampla, como costumeiramente é feito no Brasil”, acrescentou.

LEIA TAMBÉM:

Era da IA e as eleições: implicação no aumentos de crimes cibernéticos

TV MJ: A representatividade das mulheres negras nas eleições brasileiras

TV MJ – Roda de conversa: O que é voto consciente para você?