Por Mariana Mendes, Jornalista -SP

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Editora Chefe: Letícia Fagundes

“Conviver com medo é um preço que todo atleta gay paga pelo sonho, afinal quantos jogadores assumidos você conhece em times da Série A? Ou realmente eles não existem?”. Esta fala de Douglas Braga apresenta muito de como a sociedade brasileira vê o homem LGBTQIA+, alguém com estereótipos e que não pertence ao mundo futebol.

Braga entende muito bem como é ser um jogador profissional e ser um homem gay. Natural de Cataguases, Minas Gerais, ele sempre amou o futebol. Ele conta que sua paixão pela bola começou ao mesmo tempo em que aprendeu a andar. “Talvez tenha nascido junto com o sonho de milhares de pequenos brasileiros que enxergam o futebol desde muito cedo como uma possibilidade de melhorar de vida. Hoje como adulto e com maiores possibilidades percebo o quanto é cruel esse limite”, diz.

E este amor o levou para longe – comparado a carreira de muitos aspirantes do futebol profissional. Após ter disputado alguns campeonatos por equipes menores, seu então técnico do Madureira-RJ foi contratado pelo Botafogo-RJ. Junto com sua mudança de clube, ele levou Douglas para integrar a equipe de juniores (hoje, classificada como sub-20).

E foi durante seu tempo jogando pelo Botafogo-RJ que Douglas descobriu sua orientação sexual. “O futebol é um ambiente extremamente machista e homofóbico e quando você cresce dentro dele você também absorve essas características”. Braga conta que a distância da sua família e amigos, a falta de informação da época, no auge da formação de caráter, sentir que sua sexualidade era condenada por todos foi muito difícil.

“Ao me entender como gay, a parte mais difícil da história foi ser obrigado a participar de todos esses personagens –  esse perfil que conhecemos de namorador atualmente das celebridades do futebol também faz parte da “cartilha” de como ser um jogador de sucesso (garotas, ser machão, brigão e se achar um adulto com super poderes)”, explica.

Finalmente, aos 21 anos, Douglas Braga decidiu abandonar o futebol profissional. Ao disputar o seu último campeonato carioca, teve uma experiência afetiva com um homem e refletiu sobre o que precisaria enfrentar para continuar no esporte. Há muitos anos fora de casa, longe da família, ele diz: “Consegui entender realmente contra o que eu lutaria pro resto da minha vida e honestamente não sei se aguentaria”.

Agora aos 39 anos, Braga pensa se fez a coisa certa e se conseguiria enfrentar todas as dificuldades. “Se foi a decisão correta? Eu não sei, mas foi talvez a única que podia fazer e foi a que me trouxe onde estou hoje. Espero que jovens não precisem passar por essas decisões em suas vidas.”, conclui.

Hoje, Braga é psicólogo, mas não deixou o futebol de lado. Participa do time BeesCats RJ, time composto apenas por pessoas LGBTQIA+ e também do time Bohemios que é heteronormativo. Ele diz que ser convidado para integrar o Bohemios “[…] me fez perceber a importância de assumir minha sexualidade e aos poucos quebrando o paradigma do futebol para ‘homens’”.

O BeesCats participa da LIGAY Nacional de Futebol, uma associação esportiva que reúne equipes semi profissionais e amadoras compostas por atletas da comunidade LBGTQIA+. Eles organizam anualmente a Champions Ligay e possuem times masculinos e femininos.

O psicólogo conta que conheceu o BeesCats após ver uma reportagem sobre um clube de São Paulo com uma iniciativa parecida. “No primeiro momento, enquanto um ex-jogador, eu tinha muito preconceito sobre futebol gay, confesso que pela minha escola no futebol. Chegando lá encontrei apaixonados por futebol como eu e que assim como no futebol heteronormativo, tinha pessoas que jogavam bem e outras não tão bem, mas era um lugar seguro para se estar.”, explica.

Braga participa desde a primeira edição do Ligay e a sensação de segurança foi algo fundamental para integrar a comunidade. “Fui com meu namorado na época e era maravilhoso no intervalo dos jogos ir abraçá-lo, perguntar se ele tinha visto o gol que fiz, poder conversar com tantas pessoas diferentes sem medo que alguém visse, sem saber isso já estava mudando minha vida. Foi aí que entendi que precisava me permitir viver o futebol de novo, mas agora como eu realmente sou.”, completa.

Ele ainda ressalta a importância de realizar essas conversas no ambiente esportivo. “Eu encontrei meu porto seguro, mas quantos jovens gays que podem ser grandes jogadores ainda precisam ter voz? Pode ser meio ideológico, mas talvez meu futuro teria sido dentro do esporte se houvessem debates como estamos levantando hoje, se houvessem times que entendam futebol como esporte.”

Douglas Braga finaliza com esperança de que um dia, não seja necessário ter uma liga separada para a comunidade LGBTQIA+ e todos possam participar do esporte de forma igualitária.