Por Mariana Mendes, Jornalista –SP
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A instituição anunciou o fechamento das portas devido a uma “dívida impagável”, segundo o presidente Jonatan Maia

            Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos colocam em evidências muitas modalidades que o público geral não acompanha. Porém, celebrar as conquistas neste período não é o suficiente para realmente apoiar o esporte. Um exemplo claro disso é o recente encerramento das atividades da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), devido a uma dívida de R$ 5,7 milhões executada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

            A notícia vem a público após 40 dias do ouro inédito de Isaquias Queiroz em Tóquio e duas semanas após a dourada de Fernando Rufino na paracanoagem. A CBCa demitiu todos os funcionários e está encerrando as atividades administrativas com o objetivo, segundo nota, de “preservar os parceiros, atletas e profissionais da canoagem brasileira”, garantindo ainda o pagamento dos direitos trabalhistas aos envolvidos.

            A instituição é ré em 14 processos relacionados ao não recolhimento do Imposto Sobre Serviços (ISS) na obtenção de recursos através de leis de incentivo ao esporte, executadas entre o fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Em março deste ano, quando Jonatan Maia assumiu a presidência, a nova diretoria contratou uma auditoria para avaliar o valor total da dívida. Sem patrocínios relevantes e já tendo seus atletas bancados fortemente pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), a Confederação Brasileira de Canoagem não viu solução a não ser fechar suas portas.

“Apesar dos excelentes resultados conquistados pela Canoagem Brasileira nas Olimpíadas de Tóquio com várias medalhas de ouro, a Confederação Brasileira de Canoagem, entidade que representa a modalidade, atualmente se encontra em situação irreversível e complexa”, explicou a entidade em nota.

O que acontece com os atletas?

            A seleção principal do esporte, incluindo Isaquias Queiroz, Erlon de Souza, Jacky Godman, James Correa, Vinicius Pinheiro e Filipe Santana, já eram e são bancados quase completamente pelo COB. Esse equipe que treina no CT de Lagoa Santa. Segundo a CBCa, houve a quitação das despesas dos atletas até o fim de setembro, sendo responsabilidade do Comitê assumir as contas a partir de outubro.

            A confederação já tinha adiado o Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e a Copa Brasil de Paracanoagem que iriam acontecer no fim de setembro e começo de outubro, respectivamente.

            Os danos realmente avaliados no fechamento da instituição são a formação, patrocínio e apoio de atletas iniciantes e que buscam uma carreira na canoagem. Isso porque essa formação de canoístas não fica sob o controle dos comitês e sim, das confederações. O COB e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) não conseguem bancar campeonatos nacionais.

            São nessas competições, como o Brasileiro de Canoagem, que jovens atletas conseguem se destacar e ganhar resultados concretos para pleitear a Bolsa Atleta. Sem esses benefícios e sem a possibilidade de focar no esporte, treinar regularmente e competir, eles não conseguem buscar o objetivo se tornar um atleta em tempo integral. 

O que os atletas têm a dizer?

           Os principais atletas do esporte estão se unindo a dirigentes para tentar salvar a canoagem brasileira. Em entrevista coletiva virtual realizada no dia 20 de setembro, o campeão olímpico Isaquias Queiroz, o campeão paralímpico Fernando Rufino e o atleta destaque da canoagem slalom Pepê Gonçalves mostraram interesse em salvar a instituição.

            Durante os comentários da coletiva, houve um apelo coletivo em busca de sensibilizar o poder público para que a dívida seja perdoada. Mesmo assim, é preciso entender que o problema não era segredo dentro da CBCa. “Nós sempre soubemos dessa dívida com os bingos, só aguardávamos para saber quando chegaria à tona. A canoagem já passou por muita coisa durante esses anos. A gente precisa trabalhar junto, focado, para surgir uma esperança”, disse Ana Sátila Vargas, campeã mundial da canoagem slalom.

            Esperançoso, Queiroz declarou que acredito “que alguém possa ajudar a canoagem, patrocinadores, alguma empresa privada que possa ajudar a confederação a pagar essa dívida”.

            Pepê Gonçalves ressaltou a importância de resolver o problema para novos e aspirantes atletas. “Eu saí de um projeto social e, assim como eu, muitas outras crianças podem ter a oportunidade de mudar de vida pelo esporte. Por isso, precisamos de ajuda e união para conseguir tirar a confederação dessa situação”, disse.

“Esse ano foi um ano muito glorioso para canoagem e para a paracanoagem. Nós temos esse momento maravilhoso e queremos continuar ele pra esse próximo ciclo em Paris 2024”, declarou Fernando Rufino.