Por Ana Joulie, Psicóloga especializada em patologias graves, fundadora e diretora clínica da Rede Internacional de Acompanhamento Terapêutico (RIAT)
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista

A quantidade de idosos cresce a cada década. No Brasil, cerca de 650 mil pessoas com 60 anos ou mais são incorporadas à população a cada ano. Já somamos cerca de 30 milhões de idosos e estamos entre os dez países com o maior número de velhos. Precisamos nos preparar para lidar melhor com essa população crescente, pois hoje já sabemos que se pode envelhecer bem.

A fase geriátrica, assim como qualquer outra fase do desenvolvimento humano, traz consigo pontos específicos a serem observados e tratados, principalmente no âmbito da saúde mental, pois se trata de um período da vida em que a pessoa passa a ter que lidar com o processo de término, com muitas perdas.

A depressão, que hoje em dia já é bastante conhecida, é uma doença comum e complexa, que se manifesta de variadas maneiras. Quando associada ao envelhecimento, ganha contornos ainda mais complicados, podendo assumir aparências clínicas múltiplas e esconder as raízes de sua manifestação. Situações de dores, frustrações, mal-estar, isolamento, aborrecimento, fadiga podem ser sinais de depressão em idosos, e não necessariamente os sintomas clássicos de tristeza e paralisações, como é mais conhecida.

A depressão é a doença psiquiátrica mais frequente nesta faixa etária e afeta ainda mais as mulheres que os homens. Ela reduz a qualidade de vida e interfere no desempenho das atividades rotineiras, podendo inclusive, ser um risco de morte. Nos idosos, infelizmente, tem sido subdiagnosticada e pouco tratada, pois muitos familiares e profissionais consideram seus sintomas como fatores normais no processo de envelhecimento, o que traz muitos prejuízos, porque a depressão é uma doença e precisa de tratamento.

Alguns fatores importantes na velhice que contribuem bastante no quadro da depressão, como o isolamento social, pouco suporte familiar, viuvez, dores crônicas, insônia, comprometimento cognitivo, incapacidades físicas, perda da independência e a existência de múltiplas doenças e perdas pessoais. Na velhice a pessoa transita em um ritmo mais lento, diminuindo suas responsabilidades, suas demandas sociais, se limita e restringe aspectos de autonomia, inclusive em relação ao nível econômico.

Como tornam-se mais lentos, e consequentemente, dependentes; os aspectos emocionais, afetivos, orgânicos e cognitivos ficam totalmente vulneráveis. Naturalmente, pensamentos e emoções de impotência se instalam, como fracasso, limitação, e incapacidade etc. A frustração é significativa, pois com todo o processo de perdas, os idosos se sentem como “peso” para seus familiares e passam a lutar contra essa sensação sem possuírem tanta habilidade para comunicar tal condição, e isso torna-se mais um fator a contribuir para os transtornos depressivos.

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Foto: Lise Glorvigen/divulgação RIAT

Os aspectos que contribuem para a depressão no idoso podem ser também uma porta de entrada para doenças demenciais, pois condicionam de forma negativa suas habilidades já construídas, fazendo com que fiquem mais passivos e com isso, desabilita recursos saudáveis. Outra questão que traz muita relevância na questão da depressão em idosos é a possibilidade de pensamentos e condutas suicidas, que em mulheres se tornam mais crônicas e duradouras, e em homens, mais letais. A taxa de suicídio tende a ser duas vezes maior nos idosos, se compararmos à população em geral. A depressão é uma doença mental de muito risco, e nos idosos, com a questão da sensação de inutilidade que eles possuem, se torna um problema a ser observado.

Voltando aos números, atualmente, um a cada sete idosos padece de depressão. Esse número tem sido crescente e é importante entender que o que causa depressão também são fatores físicos mais específicos na fase da velhice, como as questões de hipotiroidismo, anemia, baixas doses de vitaminas, assim como problemas graves de saúde, como se tem falado muito, ultimamente, sobre a Covid-19, AVC, infarto, câncer e etc. Como ponto de atenção nessa questão, a depressão é três vezes mais comum em pessoas que tiveram infarto, do que na população em geral. Além dessas doenças associadas, existe também uma necessidade de atenção aos fármacos que os idosos tomam, pois alguns deles possuem efeitos adversos que contribuem para os sintomas da depressão.

O tratamento desta doença em pessoas idosas é realizado através da combinação de medicações antidepressivas e psicoterapias. É fundamental realizar essas intervenções e estimulações para combater a depressão nos idosos. A contenção, presença e apoio familiar são peças fundamentais também nesse processo.

Para prevenir que idosos tenham depressão, temos que cuidar da saúde como um todo, controlando as doenças que estão associadas a esta patologia. É importante dormir e se alimentar de forma regular, combater o isolamento e passividade, estimular a participação em atividades sociais, fazer atividades físicas com frequência, realizar estimulações cognitivas, cuidar dos aspectos sexuais e, por último, sempre manter boa comunicação sobre as debilidades naturais no processo de envelhecimento.

Quanto à questão de saúde mental preventiva, é importante a compreensão e conhecimento sobre si mesmo, para que diante das fases de desenvolvimento humano a pessoa saiba lidar, aceitar e enfrentar cada processo. Se cuidamos de nossa saúde mental, temos a possibilidade de maior qualidade de vida. Envelhecer saudável é possível!