Por Ana Karolline Rodrigues

Na semana em que é celebrado o Dia Mundial da Obesidade (4/3), médico endocrinologista fala sobre tratamentos para a doença e custos de medicamentos no Brasil

Mais de um bilhão de pessoas vivem com obesidade em todo o mundo, de acordo com estudo publicado pela revista científica The Lancet. Já no Brasil, dados de monitoramento do Ministério da Saúde apontam que 1 em cada 4 adultos estão obesos – 24,3% da população adulta.

Apesar de os números serem alarmantes, os tratamentos para a doença ainda não são acessíveis para todos. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece nenhum medicamento para tratar a obesidade. E, na rede privada, os preços das medicações são altíssimos.

“O tratamento para a obesidade é feito com medicações de uso contínuo, e são remédios extremamente caros. O Ozempic, por exemplo, que é off-label no Brasil mas tem grande evidência no uso para obesidade, passa de R$ 1 mil. Então, são remédios com custos inviáveis para a população em geral”, aponta o médico endocrinologista Flavio Cadegiani.

O doutor em endocrinologia clínica explica que as medicações para obesidade atuam de diversas formas. “Pode atuar reduzindo a fome, pode saciar a pessoa mais rapidamente, pode ser termogênico – acelerar o metabolismo – ou pode ser um controlador da ingestão de carboidratos ou de gorduras. Então, são vários mecanismos”, diz.

O SUS disponibiliza a cirurgia bariátrica, porém, com a alta demanda, pouquíssimas pessoas conseguem realizar a operação. “A gente não consegue oferecer o tratamento cirúrgico para a população que precisa. Então temos um grande problema de saúde pública nesse sentido”, avalia Cadegiani.

Custos menores

O endocrinologista aponta que existem no mercado medicamentos para obesidade com menores custos. No entanto, cada tratamento varia de paciente para paciente. “A Sibutramina, por exemplo, tem como efeito a inibição do apetite e o aumento da saciedade, e tem um valor bem mais acessível”, exemplifica.

“Um medicamento para obesidade recentemente lançado no Brasil é o Contrave. Ele é uma combinação da Bupropiona mais a Naltrexona e custa cerca de R$ 700. Mas, quando você compra esses dois remédios separados (Bupropiona e Naltrexona), não dá nem R$ 200, usando de forma off label. É uma alternativa”, afirma o médico, ressaltando que é preciso sempre que o paciente seja acompanhado por um especialista antes de iniciar qualquer tratamento.

Genética

De acordo com Flavio Cadegiani, a principal causa da obesidade está na genética. “Então, quem tem obesidade tem muito mais dificuldade de lidar com alimentação porque é uma questão química do cérebro. Muita gente trata como se fosse uma escolha do indivíduo e culpa a pessoa pela doença, mas não é assim”, diz.

“Claro que o paciente deve fazer o papel dele no tratamento e buscar um estilo de vida mais saudável também, mas precisamos ter mais sensibilidade com esse assunto, para que também não seja um tratamento tão duro para quem faz”, conclui o médico.

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