Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Coletiva virtual fala sobre o balanço de 2021 e perspectivas para 2022

No último dia 8, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou um resumo com dados sobre o período de 2020 e as perspectivas para o próximo ano. A coletiva foi apresentada pelo presidente da CNA, João Martins; pelo diretor técnico, Bruno Lucchi; e a diretora de relações internacionais, Lígia Dutra. Enquanto na coletiva realizada em 2020 foram citadas as dificuldades financeiras decorrentes da pandemia de covid-19, o aumento de endividamento familiar e a queda de consumo, no evento realizado em 2021, a pauta principal foram os índices do PIB, inflação, o crescimento da exportação no setor de carnes, mercado de insumos e expectativas climáticas.

Cenário 2020

Durante esse período, foram necessárias algumas ações emergenciais para garantir que o produtor tivesse condições de realizar toda a sua parte operacional e logística, auxiliando, assim, o abastecimento e a segurança alimentar do Brasil.

  • Criação de um Comitê de Crise junto às Federações de Agricultura dos estados;
  • Criação de uma linha direta via WhatsApp para receber as necessidades dos produtores;
  • Regulamentação da atividade de produção de alimentos como Atividade Essencial;
  • Trabalho em conjunto com o Ministério da Infraestrutura para garantir a logística do abastecimento;
  • Resolução número 4.801/2020, por meio da qual o CMN prorrogou a data de pagamento de financiamentos, suspensão de taxas e impostos;
  • Solicitação ao Governo de prorrogação por 6 meses da Declaração de Aptidão PRONAF;
  • Outros benefícios fiscais junto ao Governo;
  • ICMS 100, que impediu a elevação de preço dos insumos agropecuários;
  • Solução número 13.987 /2020 para a distribuição de alimentos da merenda escolar para as famílias dos estudantes da rede pública que tiveram suas aulas suspensas;
  • Abertura de mercado com a Coreia do Sul para camarão brasileiro;
  • Investimentos na comercialização online de alimentos;
  • Ação Feira Segura, que garante a prática da comercialização de maneira segura através do Drive Thru.
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Imagem: Divulgação/CNA

Mesmo diante de todas essas ações, a queda do PIB brasileiro foi inevitável, 4,1% que representam R$ 7,4 trilhões, foi a maior queda anual desde o ano de 1996, interrompendo o ciclo de 3 crescimentos consecutivos nos anos 2017, 2018 e 2019. Trata-se de uma consequência do isolamento e também do aumento referente à taxa de desemprego, pois sem uma renda estável, a tendência é de que o consumo diminua.

Cenário 2021

Segundo a divulgação do IBGE, houve queda no PIB brasileiro pelo segundo trimestre consecutivo, entre julho e setembro. Dos 38 países que já divulgaram os resultados referentes ao terceiro trimestre, o PIB brasileiro só não perde para o do México (-0,4%), da Indonésia (-0,6%), do Japão (-0,8%) e da Austrália (-1,9%). O recuo foi de 0,1% no PIB nacional, em que o impacto também foi influenciado pela baixa do setor agropecuário de -8% (esperava-se um recuo de -3,3%).

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Imagem: Divulgação/CNA
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Bruno Lucchi. Foto: Divulgação/CNA

O Diretor Técnico da CNA, Bruno Lucchi esclarece: “Historicamente, o terceiro trimestre do ano é sempre um período de queda, é a natureza da produção. Ela se concentra no primeiro semestre, em que há as colheitas de soja, milho, grande parte do arroz, feijão, algodão. O problema climático que tivemos na segunda safra afetou muito o milho, foi nítido diante de uma produção alta como a da soja. É natural que houvesse uma queda, pois, somado à questão climática da estiagem e depois a geada, acabou afetando muito as outras cadeias agrícolas e principalmente da pecuária. Portanto, consideramos que foi algo pontual em função do clima, do custo, da energia. Esperamos que neste terceiro trimestre ocorra uma melhora, considerando que entram-se em outras cadeias produtivas. Quando pegamos a análise do resultado do PIB agropecuária, estamos vendo que haverá o fechamento em 1,8%, ele vai fechar positivo e vai seguir ajudando o país.”

O Presidente da CNA, João Martins, iniciou a coletiva justificando que a alta dos preços dos alimentos foi influenciada pelo aumento dos insumos, que chegaram a 170% pelas condições climáticas e pelo aumento dos combustíveis responsáveis pela distribuição. Disse que não existe um processo especulativo e reforçou que o preço é determinado pelo mercado e não pela horticultura, pelo produtor.

Exportações para China

Um assunto bem questionado no evento foi a suspensão da compra das carnes pelos chineses. A decisão foi tomada após terem sido identificados dois casos ligados à vaca louca, uma em Minas Gerais e outra no Mato Grosso.

Atualmente, a China é o principal mercado de carne bovina brasileira, pois são responsáveis pela compra de quase a metade das exportações realizadas, a suspensão já dura mais de 100 dias.

O mal da vaca louca (cujo nome científico é encefalopatia espongiforme bovina) ficou conhecida nos anos 80 e 90 após um surto que ocorreu no Reino Unido. Trata-se de uma zoonose (é transmissível a humanos) e é fatal, pois causa degeneração do sistema nervoso. Não é uma doença comum no Brasil, mas foi comprovada em ambos os casos através de uma mutação genética e não por contaminação, ou seja, tratam-se de casos isolados. Em 20 anos de monitoramento, o Brasil nunca apresentou a contaminação tradicional, que é gerada pela alimentação do animal.

Segundo o presidente João Martins, “não houve um problema sanitário. Há rumores que estamos abatendo animais, que há um surto. Isso nunca existiu no Brasil, entendemos que o que houve foi uma jogada de mercado. De uma hora para a outra, a China deixou de comprar a carne brasileira, mas isso apenas afetou nossa quantidade de exportação. Porém, tratando-se de valores em dólar, ainda assim tivemos uma quantidade muito maior de exportação de carne bovina que o ano de 2020.” Estima-se que, mesmo diante deste cenário, haverá um aumento na produção de carnes em 2022.

Aumento no valor dos insumos preocupa

O principal desafio para os produtores em 2022, de acordo com o diretor técnico da CNA, será conseguir administrar os preços, pois o aumento na parte de insumos foi bem significativo e acaba impactando a cadeia em geral.

 

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Imagem: Divulgação/CNA

Bruno Lucchi afirma que não irão faltar fertilizantes, mas certamente haverá um novo reajuste de preços nas safras de 2022 e 2023. A CNA tem realizado algumas ações para auxiliar nesse processo.

  • Criação de projetos de lei ao estímulo da indústria doméstica;
  • Atua junto ao Ministério da Justiça para coibir excessos de preços ao produtor.

O Brasil diante do mercado internacional

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Entrevistada Diretora de Relações Internacionais, Lígia Dutra. Foto: Divulgação/CNA

De janeiro a novembro deste ano, o setor fechou com recorde, não somente em valores, mas em abrangência, exportando para mais de 190 países. De acordo com Lígia Dutra, Diretora de Relações Internacionais da CNA, é uma prova da qualidade e da boa aceitação no mercado internacional.

O destaque ficou para o 4º maior destino de exportação brasileira, a Tailândia, país que tem apresentado um aumento significativo de exportações. A instituição investiu em um escritório na região de Singapura – o segundo da Confederação no exterior – com o objetivo de estabelecer a presença do agro brasileiro no sudeste asiático. A criação deste escritório possibilita a introdução de produtos como castanhas, frutas, cacau, mel e outros.

Lígia destacou a importância dos acordos comerciais para a ampliação do setor e o retorno financeiro significativo para o país. A diretora também falou sobre outras conquistas realizadas em 2021, de acordo com o quadro abaixo.

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Imagem: Divulgação/CNA

Condições climáticas

O ano de 2021 foi marcado por episódios intensos de mudanças climáticas que acabaram impactando o setor agrícola. De acordo com o estudo publicado pela revista Nature Climate Change, Limite Climático para a Agricultura no Brasil, o aquecimento regional e a secagem já atingiram 28% das atuais terras agrícolas, comprometendo suas condições climáticas ideais. De acordo com o artigo, até o ano 2060 a área comprometida será de 74%. Cada vez mais, estratégias e adaptações da agronomia serão necessárias para diminuir alguns desses impactos.

Somente este ano, episódios como a queda de neve nas áreas serranas e planaltos da região Sul, a formação de geadas nas regiões Sul, Sudeste e no estado do Mato Grosso do Sul e a friagem nos estados de Rondônia, Acre e no sul do Amazonas, geraram alterações no metabolismo vegetal e no bem-estar animal. O clima pode ser o melhor amigo ou o vilão do setor Agro. Durante a coletiva, foi apresentada uma matriz de risco e seus possíveis impactos.

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Imagem: Divulgação/CNA

Perspectivas para 2022

  • Retomada das visitas presenciais e projetos como o Agrobrazil;
  • Implantação de um escritório no Oriente Médio;
  • Projeto de aumento na variedade de produtos para a exportação na China através de incentivo para a instalação de empresas brasileiras no local;
  • Melhorar o fluxo de distribuição;
  • Menor oferta global de insumos;
  • Projetos de Ecommerce.
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João Martins. Foto: Divulgação/CNA

Através das capacitações que a Instituição tem investido para os produtores, espera-se que o setor consiga atravessar as adversidades previstas para 2022 de maneira estável. A SENAR tinha a expectativa de atingir 300 milhões de toneladas até 2030, porém a expectativa, de acordo com as safras já em andamento, será de atingir, ainda em 2022, a marca de 290 milhões de toneladas. Portanto, a marca dos 300 milhões será atingida dentro de 2 anos, no máximo.

Também foi discutido o impacto das questões ambientais no mercado. O Presidente João Martins declarou: “Entendemos que essa questão dos desmatamentos ilegais são um problema de polícia e devem ter uma punição severa. Se fala em queimada e em desmatamento, mas onde? Na Amazônia. O Brasil não produz só na região da Amazônia, a grande produção brasileira se concentra em locais onde não há esse tipo de problema. Precisamos fazer o mundo entender onde e como é produzido o que se é exportado, processos feitos com sustentabilidade.”