ChatGPT: será que ele virá para roubar o emprego dos humanos?
Por Danielle Ruas
Como a tecnologia precisa ser supervisionada por humanos para garantir precisão e evitar erros, tendência é que sejam criadas oportunidades para profissionais de tecnologia e ciência de dados
Provavelmente você já teve que “dialogar” com um chat automático, o tal do chatbot, e sabe bem que, para ter uma dúvida esclarecida ou um problema resolvido, tolerância e paciência são virtudes que fazem a diferença nessas horas. Geralmente, depois de clicar um monte de opções, a máquina perde-se; e aí das duas uma: ou a conversa é encerrada automaticamente ou o atendimento é transferido para um humano. Mas esse cenário está com os dias contados.
Tudo porque a Microsoft vai introduzir, em breve, em seu pacote Office, a tecnologia de inteligência artificial da empresa OpenAI batizada de “ChatGPT”. Com um investimento de US$ 10 bilhões, trata-se de uma solução na nuvem que pode ser compreendida como uma versão aprimorada do GPT-3.5, com a principal utilidade de gerar textos como os produzidos por humanos, como este que você, leitor, está lendo agora. O anúncio da decisão foi feito recentemente pelo CEO da Microsoft, Satya Nadella, que acredita que a tecnologia “vai viralizar” devido a sua capacidade não somente de produzir redações de qualidade, mas também de responder a perguntas e até mesmo gerar códigos de desenvolvimento de software.
Na prática, o GPT é um modelo de linguagem baseado em redes neurais, um conceito ligado à inteligência artificial, que prevê que uma sentença de texto seja coerente, fazendo total sentido para a compreensão humana. Ele será empregado em chatbots capazes de gerar relações mais objetivas com as pessoas, usando apenas algumas instruções de entrada, sendo útil para gerar textos para blogs, redes sociais e sites, por exemplo. Depois de pronto, o resultado pode ser conferido e corrigido por um humano para adaptações de escrita ou supressão de improcedências.
Nas empresas, ele será capaz de trazer o cliente mais para perto, uma vez que se trata de um atendimento 24/7. Ademais, haverá diminuição no tempo de espera, otimização de diferentes departamentos de espera e uma ajuda extra para o negócio aprimorar seus produtos e serviços. Em 2020, o Relatório Zendesk de tendências da experiência do cliente para 2020 aponta que 61% dos clientes entrevistados afirmaram que conseguiram resolver seus problemas nesse tipo de meio de comunicação. Portanto, a ideia do ChatGPT é elevar esse número para mais de 90%.
A ideia do ChatGPT começou em 2018, quando foi lançada a primeira versão do projeto — o GPT-3.5 —, e aos poucos ele foi se aprimorando. Hoje, ele conta com uma vasta quantidade de textos disponíveis na web, incluindo conteúdo de veículos de notícias, artigos da Wikipédia e até posts em redes sociais.
A partir de seu lançamento, redações com aproximadamente 500 palavras, que são consideráveis “a quantidade certa” para várias postagens, poderão ser construídas com facilidade pela solução, que não trará (ainda) resultados perfeitos, razão pela qual a figura do revisor se torna importante. “De modo geral, são textos muito bons, encarando o fato de que são produzidos por um computador”, afirma Filipe Bento, CEO da Br24, que nos chama atenção para pensar se não estamos diante de mais uma tecnologia que vem para “roubar” o trabalho dos humanos. “Com certeza, isso pode levar sim a redução no número de empregos em algumas áreas, como escrita criativa, redação de conteúdo e tradução, mas, por outro lado, pode criar oportunidades em outros segmentos, mudando significativamente o mercado de trabalho”.
Na visão de Bento, ao automatizar muitas tarefas que atualmente são realizadas por humanos, como a geração de texto, a tradução e a resposta a perguntas, a ideia é que a máquina replique automaticamente o pensamento e a atuação de uma pessoa; no caso, as conversas. “Com isso, quanto mais entrosamento com humanos houver, mais esse relacionamento será fortalecido e mais a máquina vai se aprimorar. O ChatGPT então demandará pessoas que saibam dialogar com ele”.
Enfim, nas palavras do CEO da Br24: “Com a automação das tarefas, as empresas vão se tornar mais eficientes e precisas, o que pode beneficiá-las e, por sua vez, criar empregos que exijam habilidades humanas para agregar muito mais valor aos seus negócios. Além disso, a manutenção e o treinamento de modelos de IA, como o ChatGPT, também podem demandar uma nova especialidade de trabalho. Já tem muita gente que cursou Jornalismo ou Pedagogia atuando como treinador de inteligência artificial dentro das empresas. Isso porque o mercado de educação formal demora um pouco mais para acompanhar a velocidade das mudanças e novas tecnologias. Como o ChatGPT e outros modelos de IA ainda precisam ser supervisionados e monitorados por humanos para garantir precisão e evitar erros, com certeza isso criará oportunidades para profissionais de tecnologia e ciência de dados”, finaliza Filipe.