Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Deadpool, cujo nome verdadeiro é Wade Winston Wilson, é um personagem fictício do universo Marvel, criado pelo escritor e desenhista Rob Liefeld e pelo escritor Fabian Nicieza. Wade é um mercenário canadense que ganhou estilo próprio, conhecido por sua capacidade de destruição, humor extremamente ácido e referências satíricas culturais. Ele aceitava assassinar apenas aqueles merecedores da morte e se valia de cirurgias plásticas e outros recursos tecnológicos para criar novas identidades sempre que falhava em um trabalho.

Mas no mundo real e para a polícia dos Estados Unidos, Wade não é um super-herói. Pelo contrário, em junho deste ano, Wade Wilson foi considerado culpado pela morte de Kristine Melton, de 35 anos, e Diane Ruiz, de 43, na Flórida. A informação é da revista People.

Popularmente chamado de “Florida Killer”, o assassino conheceu Melton em um bar de música ao vivo, em 6 de outubro de 2019, antes de estrangulá-la até a morte na casa dela, em Cape Coral. No dia seguinte, Ruiz foi dada como desaparecida. Ela estava caminhando para o bar onde trabalhava quando Wilson se aproximou dela, em um carro que ele havia roubado da casa de Melton e pediu informações.

Ruiz entrou no carro, Wilson a estrangulou e “a atropelou até que ela parecesse espaguete”, ouviu o tribunal do procurador assistente do Estado, Andreas Gardine. E, um detalhe, é que as mulheres não se conheciam. Ele confessou os assassinatos e afirmou que faria de novo.

No dia 25 de junho deste ano, o júri do Condado de Lee, na Flórida, considerou Wilson culpado de dois assassinatos e votou a favor da pena de morte para o criminoso, preso há cinco anos, e cabe a outro magistrado decidir sobre o destino final do condenado, no dia 27 de agosto. Wilson foi visto sorrindo quando um júri recomendou que ele fosse condenado à morte pelos assassinatos brutais, segundo informações do jornal britânico Independent.

Psicopatia 

Além da brutalidade de seus crimes, foi o comportamento de Wilson no tribunal, no qual ele apareceu “presunçoso” e “sorrindo maliciosamente”, que fez o caso se tornar viral. Nas redes sociais, os comentaristas o chamaram de “sem alma”, expressando raiva por sua aparente falta de remorso.

Wade Wilson no julgamento | Imagem: Divulgação

Um usuário no X (antigo Twitter) escreveu: “Ele é implacável e diz que faria de novo. Não sou uma pessoa ‘olho por olho’. Nunca fui. Mas a indiferença presunçosa que Wade Wilson demonstra me faz pensar que a vida em uma cela com 3 refeições por dia não é boa.” Outro comentou: “Observe o sorriso psicopata no rosto do estrangulador em série.”

Seguindo a recomendação do júri para que Wilson recebesse a pena de morte, a procuradora estadual adjunta Sara Miller fez uma declaração. “Sabe, você está pedindo a alguém para tirar outra vida, então é sempre uma coisa difícil. Penso que neste caso foi um ato justificado dada a natureza horrível do caso. Ambos os assassinatos foram especialmente hediondos, atrozes e cruéis.”

Durante o julgamento, os detalhes brutais dos crimes de Wilson foram expostos, enquanto o impacto nas famílias das vítimas foi destacado. A defesa argumentou que Wilson tem uma “mente doentia” e lutava contra o vício em drogas. ASA Miller rejeitou as alegações, dizendo aos jurados: “Não é crível que a doença psicológica tenha levado o réu a assassinar Kristine Melton e Diane Ruiz. Ele estava sob a influência do poder, da luxúria, do controle, do ódio. Muitas pessoas sofrem de dependência de drogas, mas não saem por aí cometendo assassinatos.”

Para a psicanalista Vanessa Figueiredo, existem algumas características para entender quem são e como agem os serial killers: falta de empatia, encanto superficial e manipulação, afetividade artificial, egocentrismo, ausência de remorso, mentira patológica, baixíssima tolerância ao tédio, impulsividade, estilo de vida parasitário e perda de controle temperamental. 

4 mil mensagens de cartas de amor ao assassino

Após a divulgação do caso, milhares de mulheres passaram a enviar mensagens para o juiz pedindo para que ele poupe a vida de Wilson. O criminoso, além de receber as mensagens das fãs, também ganhou 754 fotos e 65 cartas pelo correio no total. O gabinete do xerife ainda revelou que rejeitou 163 fotos por “natureza inapropriada”.

“Com relação ao caso Wade Wilson, parece claramente documentado que o Sr. Wilson sofre de problemas de saúde mental que parecem ser severamente agravados pelo uso de drogas”, escreveu Lindsay Brann, mãe de dois meninos no Canadá, em uma carta apresentada no Tribunal do Condado de Lee.

Marion Worth, outra mulher que enviou carta, declarou que a vida de Wilson fosse poupada, pela lembrança do filho dela que foi assassinado em agosto de 2023. “Mesmo em um caso tão grave, defendo a prisão perpétua em vez da pena de morte como a resolução mais justa e humana”.

Por que algumas mulheres amam psicopatas?

Pode até parecer que não, mas muitas mulheres sentem fascínio e se apaixonam por psicopatas. Um outro exemplo, além do caso Wade Wilson, é do serial killer Ted Bundy, que até chegou a se casar com Carole Ann Boone, uma de suas admiradoras, e teve uma filha com ela. Charles Manson, um assassino em série, também recebeu diversas cartas e visitas de fãs que declararam seu amor e admiração. 

Psicanalista Vanessa Figueiredo | Imagem: O Progresso

No entanto, este fenômeno não é algo novo e, segundo a psicanalista Vanessa Figueiredo, a psicopatia é um modo de funcionamento em que o sujeito tem um embotamento afetivo, sabe o certo e errado, porém tem um código próprio e sem compaixão. “Não é uma doença mental, nem um distúrbio, desta forma não existe uma cura para a psicopatia. É um sujeito que subverte a lei. Que de alguma maneira sua primeira infância foi prejudicada, sofreu muitos tipos de privações e frustrações.”

Um estudo publicado na revista Evolutionary Psychological Science sugere que homens com sinais de psicopatia são mais atraentes para as mulheres. Conforme a pesquisa, os problemas que os indivíduos psicopatas impõem à sociedade podem ser contrastados com os relatos de seu apelo e sucesso sexual em alguns desses relacionamentos.

“Eles fazem isso através da exploração de vulnerabilidades. É por isso que eles adoram te bombardear com atenção e bajulação no início do relacionamento, porque não importa o quão forte ou confiante você seja, estar ‘apaixonada(o)’ torna QUALQUER UM vulnerável”, explica a psicanalista. 

De acordo com a psicóloga e professora de psicologia forense da PUC-Paraná Maria de Fátima Franco, essa paixão acontece por existir algum tipo de identificação por essas figuras. “Pode ser o fato de admirar alguém que tem a coragem de cometer crimes bárbaros. E, se ela admira, é porque ela tem muito a ver com isso em termos de estruturação da sua personalidade”, explica.

A fama e a atenção da mídia em torno desses casos também ajuda a justificar esse tipo de comportamento, de acordo com a especialista. “Pode, inclusive, passar pela cabeça desses fãs algo como ‘gostaria de ser daquele jeito’, ‘gostaria de ser uma pessoa agressiva/violenta’. E muitas são assim em determinadas proporções, basta observar”, ilustra a psicóloga.

Alguns estudos indicam que ninguém nasce psicopata, o ambiente em que a pessoa vive é que favorece esse transtorno. Mas outras pesquisas já sugerem que pode existir uma combinação de traço genético e do ambiente que seja favorável para o florescimento desse transtorno.

A psicanalista Vanessa Figueiredo não acredita numa causa exclusiva biológica, ou genética, “mas uma junção de contingências na vida do sujeito. Sim, é possível identificar crianças com esse diagnóstico. Reagem diferentemente a situações comuns da vida, sem expressar sentimentos, ou expressar de forma forjada.”

Apesar de se envolverem romanticamente, os psicopatas são incapazes de desenvolver sentimentos. O que acontece, na percepção do médico psiquiatra e pesquisador na Universidade de Brasília (UnB) Luan Diego Marques, é que esse indivíduo vê o outro como um objeto no qual o principal objetivo é extrair um benefício.

Normalmente, o que motiva essas pessoas é a raiva, bem como a relação de ganho e perda. Não há amor, empatia ou gratidão, por exemplo. “Vai ser sempre: o que eu ganho e o que eu perco com isso? As atitudes, as decisões e as escolhas vão partir do princípio de ganhar algo em troca”, ressalta Luan. 

LEIA TAMBÉM:

Relacionamentos com homens agressores: eles podem mudar?

Crimes virtuais contra mulheres: o perigoso navega logo ali

Entenda o PL 1904, a viabilidade fetal e o uso do corpo das mulheres