Por Adriana Buarque, jornalista
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista

Nos últimos anos, o Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos tem sido porta aberta para quem quer sair ou entrar no Brasil por questões políticas, refletindo a busca por uma melhor perspectiva de vida. Com tantos fatores em jogo, ao apresentar a insatisfação que torna o deslocamento compulsivo ou não, para além do contexto vivido resta a seguinte pergunta: o que provoca a mudança, em especial quando feita à força?

A mídia noticiou o fato envolvendo o grupo de 150 afegãos alocados em Cumbica há cerca de um ano após o recebimento do visto humanitário. O desfecho da situação foi a decisão do Ministério de Justiça e Segurança Pública pela transferência dos refugiados para a região da Praia Grande, no litoral paulista, depois de serem acometidos com um surto de escabiose (conhecida como sarna humana).

Imagem: reprodução/iStock

Forçados a sair de seu território devido ao regime do Talibã, homens, mulheres, idosos e crianças deixaram tudo para trás com objetivo de encontrar uma solução que pudesse proporcionar uma vida digna. Até o final de maio, o Brasil havia emitido 7517 vistos de acolhida humanitária, procedimento que facilita o pedido de residência no país. Aliás, para entender melhor o movimento fundamentalista e nacionalista islâmico, vale a leitura do livro do jornalista Lourival Sant’Anna “Viagem ao mundo dos Taleban”, uma extensa reportagem feita no Afeganistão depois do atentado de 11 de setembro de 2001.

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) registra o número de 104,4 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo no final de 2022.  Como resultado de perseguição, conflito, violação, entre outros fatores, esses indivíduos buscam abrigo em diversos países, sendo que 52% de todos os refugiados são procedentes de apenas três nações: Síria, Ucrânia e Afeganistão. O filme “Depois da Primavera”, de Isabel Joffily e Pedro Rossi, apresenta a trajetória de dois irmãos que deixam Aleppo, a maior cidade síria, para fugir da guerra civil que destrói o país e aterrisar no Brasil  durante o contexto político conturbado, com cenas registradas entre 2012 e 2018.

Imagem: reprodução/iStock

As mulheres são um caso à parte: sozinhas, com filhos, com a família completa ou apenas com o/a companheiro/a companheira, representam 26% do total dos refugiados, com faixa etária entre 18 e 59 anos. Ao trazer consigo as crianças, demoram um tempo para se organizarem até que os pequenos tenham uma rotina escolar – quando as mães não têm rede de apoio, não conseguem trabalhar. Caso consigam uma atividade remunerada, fazem de casa, retomando aos poucos o caminho para se estabilizarem. A própria ACNUR oferece o programa “Empoderando Refugiadas”, proporcionando iniciativas para a capacitação profissional feminina.

Com tantos conflitos ao redor do globo, é difícil enxergar uma luz no fim do túnel. O crescente número de ataques que impõem aos cidadãos e cidadãs uma mudança repentina, deixando tudo para trás, levanta uma questão se haverá paz no futuro próximo. A resposta ainda não é definitiva, entretanto o horizonte sombrio pode indicar algumas reflexões.