Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 terminaram com uma campanha histórica para o Brasil. A delegação brasileira bateu recordes paralímpicos, mundiais, de pódios e de medalhas de ouro, com direito a mais duas no último dia de competição. A cerimônia de encerramento, na qual o Brasil teve como porta-bandeiras os campeões paralímpicos Carol Santiago, da natação, e Fernando Rufino, da canoagem, foi realizada no último domingo (8) no Stade de France, na capital francesa.

Mizael Conrado, bicampeão paralímpico como jogador de futebol de cegos (Atenas 2004 e Pequim 2008) e presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) reforçou que foi uma campanha irretocável, maior quantidade de medalhas no total e aspectos marcantes. 

“Em cada brasileiro, hoje, pulsa um coração paralímpico, então, eu quero agradecer demais o empenho, os jogos foram extensos. Resultados tão extraordinários proporcionados pelos nossos atletas aqui. O resultado dos Jogos Paralímpicos foi excepcional, mas não dá para falar sobre esse resultado sem voltar a 2017, quando a gente elaborou o nosso plano estratégico e que foi uma bússola ao longo dos últimos oito anos, foi ele quem nos guiou até aqui”, disse ao Comitê Paralímpico Brasileiro. 

O objetivo do Comitê Paralímpico Brasileiro para as Paralimpíadas de Paris era ousado: atingir sua melhor campanha e alcançar pela primeira vez o top 5 da competição. Mas, com uma campanha impecável, o Brasil cumpriu o objetivo e se firmou com uma das cinco maiores potências paralímpicas do mundo. 

Atletas brasileiros reunidos na Vila Paralímpica | Foto: Alessandra Cabral/CPB

A delegação brasileira bateu o recorde de medalhas, com 89 pódios conquistados, alcançou o maior número de ouros, com 25, e terminou em quinto lugar no quadro geral dos Jogos. Com 94 ouros, a China foi a grande campeã, seguida pela Grã-Bretanha em segundo, com 49, e pelos Estados Unidos, com 36 medalhas douradas.

As conquistas eram esperadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que projetava bons números para essa competição. Nas últimas quatro edições, o país vinha se mantendo entre os dez melhores, o que permitiu ao CPB uma projeção otimista para esta campanha, conforme avalia Rafael Reis, especialista em esporte paralímpico e doutorando da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

“Eles trabalham com alguns números, com as possibilidades, inclusive para os financiamentos dessas modalidades. Então, foi realmente mais ou menos como o comitê esperava”, diz.  

Recordes brasileiros

O Brasil detém uma série de recordes paralímpicos, pela primeira vez na história o Brasil encerrou entre os cinco melhores dos Jogos Paralímpicos no quadro de medalhas. Foram 25 ouros, o que deixa o país atrás apenas de China (94), Reino Unido (49), Estados Unidos (36) e Holanda (27). No total de pódios, só três países conquistaram mais que o Brasil, que teve 89: China (220), Grã-Bretanha (124) e Estados Unidos (105).

A delegação também encerrou sua participação com recorde de medalhas em um edição com 89 pódios: 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes. Esta é a melhor campanha do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos superando em 17 pódios os 72 obtidos em Tóquio 2020 e Rio 2016.

O Brasil superou o número de medalhas de ouro conquistadas em uma única edição, com 25 ao todo. O recorde anterior, 22, foi registrado em Tóquio 2020. A soma de pódios do país em Jogos Paralímpicos agora é de 462, sendo 134 ouros, 158 pratas e 170 bronzes. E no penúltimo dia de competição, o país teve seu dia mais vitorioso da história nos Jogos Paralímpicos, conquistou 16 medalhas somente no sábado, 7 de setembro: seis de ouro, três de prata e sete de bronze. 

Departamento Técnico Geral (CPB) | Foto: Comitê Olímpico Brasileiro

Em Paris, dos 255 atletas com deficiência convocados, 117 eram mulheres, ou 45,88% do total dos competidores, o que representa o recorde histórico. O número representa a maior convocação feminina brasileira na história dos Jogos Paralímpicos tanto em quantidade quanto em termos percentuais. Em números, as atletas que estarão na capital francesa vão superar a quantidade convocada na edição de 2016, no Rio de Janeiro, quando o Brasil teve 102 mulheres, o que representou 35,17% do total da delegação. 

E por fim, o Brasil ampliou a diversidade de medalhas com três modalidades que nunca tinham alcançado o pódio. No badminton, o paranaense Vitor Tavares conquistou o bronze na classe simples SH6. No tiro esportivo, o paulista Alexandre Galgani conquistou a prata na classe R5 carabina de ar 10m, posição deitado misto SH2. E no triatlo, o paranaense Ronan Cordeiro conquistou a prata na classe PTS5.

Por que o Brasil virou uma potência paralímpica?

A resposta é complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa. As principais razões que apontam o país como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Tayana Medeiros, uma das últimas medalhista de ouro do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris | Foto: Ana Patrícia/CPB

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custaram R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimentos não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

Além disso, as conquistas brasileiras nas Paralimpíadas têm um impacto profundo. Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação.

Elas ajudam a conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão e das oportunidades para pessoas com deficiência. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) tem trabalhado para promover o desenvolvimento de novos talentos e melhorar a estrutura dos esportes paralímpicos no país. Com centros de treinamento especializados e políticas de incentivo, o Brasil espera continuar crescendo e se firmando como uma das grandes nações do esporte paralímpico.

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