Benefício criado pelo governo no enfrentamento à pandemia ajuda a esquentar o comércio após o
primeiro lockdown

Por Daniele Haller
daniele.haller@mulheresjornalistas.com

Criado em abril pelo Governo Federal, o auxílio foi a renda principal de muitos brasileiros que se viram desamparados diante da pandemia. O benefício, que foi estendido até 31 de dezembro de 2020 por meio da medida provisória nº 1000, pode ainda ter data de encerramento prorrogada para março de 2021, caso o projeto apresentado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Esperidião Amin (PP/SC) seja aprovado. No entanto, ainda não há confirmação do congresso sobre a prorrogação do benefício.

A notícia pode ser recebida de forma positiva por muitos comerciantes, que viram no auxílio emergencial um meio de continuar vendendo ou prestando serviços, mesmo diante das dificuldades: “O auxílio emergencial foi positivo, porque influenciou muito no comércio”, conta Maria Sinésio, que tem uma loja de vestuário em um centro comercial em Fortaleza. Apesar do movimento positivo nas vendas, ela completa: “Mas ainda temos algumas dificuldades, pois os fabricantes não têm fornecido mercadoria suficiente. Cliente nós temos, mas pouca mercadoria”. Segundo a comerciante, a pandemia tem dificultado o acesso à matéria-prima e causado a falta de produtos.

pandemia, comércio, mulheres jornalistas
Foto- Arquivo pessoal comerciante

Para o empresário Francisco Antônio, fabricante têxtil, uma das maiores dificuldades foi lidar com os pagamentos pendentes, a falta de receita para “honrar” os compromissos com funcionários, impostos e fornecedores, mas conta que o crédito concedido pelo governo e a suspensão de pagamento de impostos o ajudou. Sobre o retorno às atividades do comércio, ele diz: “a sensação era de alívio por poder finalmente voltar a trabalhar, porém, com muitas incertezas sobre o futuro”. Questionado sobre o impacto do auxílio emergencial no comércio, ele completa: “O auxílio emergencial injetou muito dinheiro no mercado impulsionando a economia e salvando muitas empresas do colapso certo”.

De acordo com o IBGE, o auxílio emergencial chegou a 29,0 milhões de domicílios em outubro. Ainda segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o benefício evitou uma queda mais brusca no consumo das famílias, no entanto, os dados divulgados em setembro mostram que o consumo das famílias caiu 12,5% no segundo trimestre de 2020.

Previsto para encerrar no 31 de dezembro de 2020, o fim do auxílio emergencial irá impactar na vida de inúmeros brasileiros, desde desempregados, autônomos, mulheres chefes de família e microempreendedores. Diante do cenário de instabilidade e insegurança, os comerciantes temem que o fim do benefício possa gerar prejuízos também no comércio: “Sem dúvidas irá impactar na vida de muitos que tinham no auxílio emergencial sua principal fonte de renda, que gastava parte desse dinheiro com alimentos, vestuário, produto de limpeza, higiene pessoal, etc. Então, sem esse dinheiro no mercado, todos os setores irão sentir o impacto”, comenta o empresário Francisco Antônio.

As festas de final de ano significam, normalmente, lucro para o comércio, mas, diante da situação atual, a queda em

pandemia, comércio, auxílio emergencial, jornalismo, mulheres jornalistas
Foto- Arquivo pessoal dos entrevistados

relação aos anos anteriores é evidente e foi preciso buscar outros meios de alcançar a clientela: “sentimos uma ligeira queda nas vendas presenciais, o que foi compensado pelas vendas on-line, a qual até então não praticávamos, porém, com a ausência dos clientes durante o lockdown, a alternativa foi buscar o cliente em casa através das redes sociais, o que deu muito certo”, comenta o empresário, que apostou nas mídias digitais para engajar suas vendas durante a pandemia.

Enquanto algumas empresas sofreram as consequências do coronavírus, outras partiram para as redes sociais e conseguiram manter seus negócios. Pesquisas mostram que o uso de mídias digitais aumentou 40% durante a pandemia. A valorização do comércio na internet ajudou não apenas a manter, mas inovar e garantir vendas e prestação de serviços das empresas. O benefício concedido pelo governo também foi um dos responsáveis por esse consumo, uma vez que possibilitou que a população tivesse poder aquisitivo para consumir durante a pandemia.

Caso o projeto de Lei n° 5495, que estende o auxílio emergencial e prorroga o estado de calamidade pública até 31 de março de 2021 seja aprovado, os comerciantes podem ter um final de ano mais “tranquilo”. O senador Alessandro Vieira se pronunciou, através de uma rede social, sobre a importância da aprovação do projeto: “O fato é que, por conta da inércia do governo federal, simplesmente não teremos um programa nacional de vacinação em execução antes de março. É preciso fazer essa ponte para manter o mínimo de estabilidade social até lá”, concluiu.

Em novembro, o ministro da economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo não iria prorrogar o auxílio emergencial, mas que o ministério da economia está pronto caso haja uma segunda onda da Covid-19. Inicialmente, o auxílio estava previsto para ser encerrado em julho, no entanto, a data foi adiada duas vezes; a primeira para setembro e a segunda para fim de dezembro.