Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

O crânio do bebê é todo dividido por suturas cranianas, isso ocorre porque a cabeça precisa reduzir seu tamanho durante o parto e, posteriormente, crescer. Além das suturas, o bebê possui também um crânio mais maleável (por ser mais cartilaginoso e menos calcificado) do que o crânio de um adulto. Estima-se que uma criança aos 2 anos de idade já possua 90% do tamanho da cabeça de um adulto.

No entanto, nos últimos dias, chamou a atenção da internet o formato da cabeça de Phoenix, filho de dez meses da socialite Paris Hilton, casada com Carter Reum. Em meio a muitos questionamentos sobre a saúde do pequeno, a modelo lamentou os diversos comentários odiosos sobre a aparência do bebê e garantiu que seu filho é perfeitamente saudável. 

Segundo a fisioterapeuta, especialista em assimetrias cranianas e órteses, Ana Luiza Soares, embora seja perceptível um alargamento da região lateral, que nos leva a pensar em uma braquicefalia posicional, não é possível avaliar se há ou não assimetria craniana sem exames específicos, tais como o scanner 3D.

Voltando-se para a realidade brasileira, os casos de tratamento para correção da assimetria craniana de bebês (plagiocefalia posicional e braquicefalia/assimetria craniana) não constam no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No entanto, o plano de saúde deve cobrir integralmente os custos, inclusive, o custeio do capacete (órtese craniana).

Mas afinal, o que é assimetria craniana?

Assimetria craniana é qualquer deformidade no formato do crânio do bebê. Elas podem ser congênitas (craniossinostoses) ou posicionais. Craniossinostose se refere à deformidade do crânio devido ao fechamento precoce de uma ou mais suturas cranianas. São raras e acomete 1 a cada 3000 bebês.

Essas assimetrias são causadas pelo apoio excessivo por muitas horas no dia no mesmo lugar da cabeça do bebê. Contribui para isso crescimento aceleradíssimo do crânio do bebê nos primeiros meses de vida. O princípio envolvido na prevenção do problema é a constante mudança de posição do bebê. Para garantir essa troca, existem algumas manobras que os pais podem realizar facilmente. 

Os principais tipos de assimetria craniana são: 

– Braquicefalia, onde há um achatamento de toda a parte posterior da cabecinha do bebê e pode apresentar o rosto mais largo quando visto de frente e possuir a parte posterior da cabecinha mais alta;

– Plagiocefalia, é o achatamento de apenas um lado da cabecinha do bebê, na parte posterior, apresentando assimetria facial;

– Escafocefalia, há um achatamento bilateral da cabecinha do bebê, aumentando o crânio anteroposteriormente e dando a aparência de um crânio mais alongado.

Microcefalia, macrocefalia e hidrocefalia

A microcefalia é uma condição neurológica caracterizada pelo tamanho diminuto da cabeça e do cérebro de um bebê, comparado aos valores de referência para sua idade e tamanho. Algumas crianças com microcefalia podem ter um desenvolvimento e uma inteligência normal, mesmo com o cérebro em menor tamanho, na modalidade da condição chamada de microcefalia leve. No entanto, outras crianças podem ter atrasos e problemas de desenvolvimento mental, físico e motor, que estão diretamente relacionados ao tamanho reduzido do cérebro.

Por sua vez, a macrocefalia é o oposto da microcefalia, ou seja, é quando a cabeça da criança apresenta um tamanho maior do que o esperado para a idade e sexo. Da mesma forma que a microcefalia, existe a macrocefalia primária, chamada de familiar ou constitucional; e a secundária, quando está relacionada a alguma doença, como a hidrocefalia.

Uma cabeça excepcionalmente grande pode ser um sintoma de hidrocefalia, que é um acúmulo de líquido excedente nos espaços normais dentro do cérebro (ventrículos) e/ou entre as camadas de tecido interna e média que recobrem o cérebro (o espaço subaracnóideo). Esse líquido excedente normalmente causa um aumento do crânio e problemas de desenvolvimento.

Diagnóstico e tratamento para assimetria craniana 

O diagnóstico é clínico. A desconfiança geralmente parte dos pais e pode ser confirmada por pediatras, fisioterapeutas e neurocirurgiões. A gravidade da assimetria é determinada por escalas e índices avaliados pelo neurocirurgião pediátrico durante a consulta a partir do exame físico e das medidas retiradas da cabeça da criança. 

As medidas podem ser realizadas de duas formas: ou uma medida manual, através de um craniômetro, ou uma medida digital a partir de um scanner 3D (geralmente este scanner está disponível em clínicas especializadas em produção de órteses cranianas). 

Fisioterapeuta Ana Luiza Soares | Imagem: divulgação

O tratamento em bebês com assimetria craniana de até 4 meses pode ser feito com reposicionamento e fisioterapia. Para bebês entre 4 meses e 1 ano e 2 meses que possuam assimetrias moderadas e severas, a indicação é o tratamento com órtese craniana (capacetinhos para bebês). Casos leves devem manter reposicionamento e fisioterapia. Em bebês acima de 1 ano e 2 meses, o tratamento é neurocirúrgico.

Para casos de microcefalia, o tratamento existe apenas se for ocasionada por uma causa reversível cirurgicamente, como cranioestenose (restrição óssea ao crescimento cerebral). Em casos de infecções congênitas, síndromes genéticas, malformações, etc., não há como reverter ou curar a microcefalia com medicamentos ou outros tratamentos específicos. Mas é possível melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança com o acompanhamento por profissionais como fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.

Já a macrocefalia secundária, geralmente, tem tratamento cirúrgico, na qual é tratada a doença relacionada como a hidrocefalia, tumores e hematomas. Após o tratamento, a tendência é a cabeça do bebê se normalizar em tamanho. Os casos de macrocefalia familiar não têm tratamento porque na realidade não são doenças, e sim uma característica genética familiar.

Para maior parte das assimetrias cranianas graves é indicada a colocação de órtese craniana (“capacetinho”), pois sabe-se que nestes casos a assimetria dificilmente vai se reverter apenas com medidas de reposicionamento e fisioterapia. O capacete permite “apoiar” as áreas certas e o crescimento de outras partes da cabeça compensa o formato “torto” em que ela se encontrava. Lembramos que para as assimetrias posicionais não está indicado tratamento cirúrgico. Porém, esse capacete não é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), já que não consta no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mas é dever do plano de saúde cobrir os custos do tratamento. 

Após receber a prescrição médica/laudo médico com indicação expressa sobre a necessidade do tratamento com o uso de órtese craniana, e a carta de negativa do plano de saúde em custear referido tratamento, os pais do bebê ou responsável poderão ingressar com ação judicial com pedido de liminar (também conhecido como tutela de urgência), objetivando que a Justiça determine o custeio integral da órtese pelo plano de saúde, não sendo necessário o gasto com o tratamento nas vias particulares. 

A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) é uma organização sem fins lucrativos focada em garantir assistência médico-terapêutica de excelência em Ortopedia e Reabilitação, pioneira neste tipo de tratamento no Brasil, atendendo cerca de 2000 pacientes nos últimos anos.