Homens ainda ocupam os maiores cargos no audiovisual, prejudicando a representatividade feminina 

Por Giulia Ghigonetto-São Paulo
giulia.ghigonetto@mulheresjornalistas.com

Nos últimos tempos, a sociedade tem presenciado mudanças culturais e de valores que favoreceram (mesmo que em pequenos passos) os diretos das mulheres. 

Apesar disso, alguns desafios para alcançar a equidade de condições com os homens no mercado de trabalho permanecem, principalmente em relação à hierarquia dos cargos de comando e tomada de decisões, pois elas ainda apresentam baixa representação nos cargos de maior prestígio. Na indústria cinematográfica mundial não é diferente.

Consequentemente, a escolha da temática e da forma como a mesma será apresentada e tratada no filme são decisões que serão tomadas por aqueles que estão no comando, neste caso, por homens majoritariamente brancos. 

Uma publicação feita pelo Geena Davis Institute em parceria com a ONU e a Fundação Rockefeller demonstrou que embora as mulheres sejam metade da população do mundo, dos 5.799 personagens falantes ou nomeados da tela, avaliados para a pesquisa, apenas 30,9% são do sexo feminino.

Nos filmes analisados, além de personagens femininos serem menos proeminentes, a pesquisa também revelou uma falta de diversidade étnica nos heróis, heroínas e vilões, sendo que quase metade (47%) dos personagens dos filmes com maior bilheteria de 2018 eram brancos.

O instituto conhecido por pesquisas na indústria do entretenimento sobre gênero, também avaliou que no cinema americano, apenas 8% dos diretores são mulheres, 19% são produtoras e 13,6% são roteiristas. 

No caso do Brasil, o percentual de cineastas, roteiristas, produtoras, diretoras de fotografia, de arte, entre outros cargos no mercado cinematográfico, ainda é pouco se comparado aos homens. Em uma avaliação feita pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE), constatou-se que nos lançamentos brasileiros de 2016, das 1326 pessoas avaliadas, apenas 38% eram do sexo feminino.

A disparidade não envolve só a questão de gênero, mas também a racial, mostrando que o Brasil é um país que não se vê nos filmes. É um enorme território miscigenado, negro, branco, indígena e pardo, e com mais mulheres do que homens (51% da população brasileira são do sexo feminino), mas o cinema é praticamente branco e masculino. Isso é expressado pelo fato de que dos 142 longas-metragens lançados em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens brancos, de acordo com a ANCINE.

Ou seja, a mulher passou a ver e interpretar as imagens pelos olhos masculinos, incorporando e retransmitindo o que vê. Não só a representação da mulher no cinema foi a partir de valores masculinos, como os próprios meios de comunicação nutriam a sua posição inferior na sociedade.

Em entrevista, a fundadora do Instituto citado anteriormente e atriz, Geena Davis disse que as mulheres estão seriamente sub-representadas em quase todos os setores da sociedade, não apenas na tela, “na maioria das vezes, não estamos cientes dessa realidade, e as imagens da mídia exercem uma poderosa influência sobre isso, perpetuando nosso viés inconsciente”.

Retomando e concluindo o raciocínio da pesquisa inicial, as meninas e mulheres necessitam de exemplos na tela e fora, precisam se ver nas histórias que as cercam para ser reconhecida e incentivada. 

Mas, para que isso aconteça, os filmes devem conter histórias com liderança feminina e, portanto, equipes que contenham diversidade de gênero, raça e orientação sexual por trás das câmeras, criando múltiplos pontos de vista.