Por Luiza Pinheiro, repórter Rio de Janeiro
Por Luiza Pinheiro, repórter Rio de Janeiro
Promover a reabilitação de pessoas que sofreram amputação, considerando suas peculiaridades e visando melhoria da qualidade de vida. Esse é o objetivo do Programa de Atendimento Especializado de Amputados, criado pelo Ministério da Saúde e coordenado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. A amputação é a retirada de uma extremidade do corpo por meio de cirurgia ou acidente. Na medicina, a prática é vista como recurso para controlar a dor ou uma doença que está afetando o membro em questão.
De acordo com dados de 2017 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% das amputações realizadas no Brasil são feitas em decorrência da diabetes. Os demais casos provém de fatores como acidentes de trânsito, tabagismo, câncer e outras doenças.
Aos cinco anos, a publicitária Letícia Silvério começou a mancar do nada e sua família descobriu que ela estava com um câncer que já corroía seu osso do joelho. Após fazer quimioterapia e cirurgia para curar a doença, ela não conseguiu mais mexer direito sua perna. Havia duas coisas possíveis a se fazer: tentar a fisioterapia ou amputar. No início, sua família escolheu a primeira opção. Então, a jovem teve de fazer enxerto (transferência de células ou de tecido de um local para outro do corpo) e alongamento.
A publicitária acredita que no Brasil há diversos recursos para ajudar pessoas com deficiência, como o cartão para vaga especial de carro, mas observa que existe muita burocracia para obter estes benefícios e, por isso, nem sempre é possível conseguí-los. Ela acrescenta que a mobilidade ainda é um problema no país. “Eu peno muito em calçada e olha que tenho facilidade pra andar. Agora, você imagina o cadeirante, já cansei de ver eles andando na rua, porque é inviável na calçada”, relata.
Letícia diz que nota ainda outro problema na sociedade, que não consegue se colocar no lugar do outro e entender as dificuldades das pessoas com deficiência. “Sabe o que eu percebo? A falta de empatia em pensar como um todo. Você tem de estar com a mente muito aberta e um olhar bem clínico para começar a pensar de outra forma, porque parece que só começam a incluir as pessoas com deficiência quando acontece um caso na família”, desabafa.
Apesar de a inclusão estar evoluindo, a sociedade ainda possui algumas ideias preconcebidas em relação à capacidade dos deficientes físicos de realizar determinadas atividades. Letícia conta que já passou por isso uma vez quando um grupo de amigos estava combinando de fazer uma trilha, mas acabou desistindo por achar que seria muito difícil para ela. “Passou um tempo, fiz uma trilha, tirei várias fotos e ainda joguei na cara”, diverte-se.
De acordo com a jovem, o processo de reabilitação que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece é fraco e poderia ser melhorado. Ao realizar esse procedimento, ela conta que adquiriu escoliose e desgaste em seu outro joelho. “Eu levanto muito a bandeira de que o esse processo é extremamente importante, você pode estar com a prótese simples, mas se fez a reabilitação, a sua vida vai ser outra”, defende.
O recurso da prótese é algo que promove muitas facilidades para o paciente. Aos 14 anos, Letícia descobriu sobre isso e decidiu que faria a cirurgia para amputação. “Foi a minha redenção. É meio louco falar isso, mas eu ter amputado a minha perna me trouxe uma mobilidade que eu não tinha antes, eu me sentia presa”. Apesar da melhora de qualidade de vida, as próteses mais modernas têm um alto custo, o que impede que essa facilidade seja para todos.
No entanto, aos poucos surgem alguns projetos para incluir pessoas amputadas que não têm como arcar com as despesas de uma tecnologia tão cara. No Distrito Federal, por exemplo, o Núcleo de Produção de Órteses e Próteses (Nupop) da Secretaria de Saúde (SES) entregou 72 próteses ambulatoriais a pacientes da rede pública. Além disso, pessoas inscritas no banco de dados do programa de órteses e próteses da SES ganharam 15 peças feitas sob medida, de acordo com site da Agência Brasília. Já na Bahia estudantes desenvolveram uma prótese feita a partir de materiais reutilizados para pacientes amputados que não tem condições de pagar pelo equipamento que tem no mercado atual.
O protótipo funciona através de um leitor de impulso nervoso conectado ao antebraço da pessoa que lê comandos e os converte no movimento. Apesar de todas as dificuldades que já passou, Letícia se orgulha em dizer que não mudaria em nada o seu caminho até hoje. “Acima de tudo é ter perseverança, se amar, não se importar com outras coisas e ser você. Eu particularmente não mudaria o que passei, porque tudo na minha vida serviu para me tornar o que sou hoje e sou feliz”, declara.