Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – PA
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O aleitamento materno reúne o amor incondicional e as primeiras dificuldades no ser mãe

Mãe da Maria Eduarda, de 2 aninhos, Tatiane Malheiros conta que amamentar é um ato de amor. “Sinto que a amamentação é o nosso momento de profunda conexão, ela [a filha] me olha, faz carinho no meu rosto, se está com medo, se está feliz ou se quer dormir pede para mamar. Me sinto como um porto de segurança para ela. Amamentar vai muito além de alimentar… é amor, carinho, segurança e aconchego. É incrível e mágico. Também fui doadora de leite materno da Santa Casa, comecei a doar quando minha filha tinha 4 dias de vida e segui até os 6 meses dela, e meu coração ficava preenchido de uma felicidade inexplicável, sempre que eu conseguia encher mais um potinho de LM. Eu pensava: estou levando amor e alimento para outros bebês”, conta emocionada.

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Tatiane amamentando Maria Eduarda: um ato mágico. Foto: Edwin Malheiros

O testemunho de amor dado por Tatiane mostra a importância desse ato. Mesmo com tanto amor envolvido, o aleitamento materno traz suas dificuldades e é um dos desafios em ser mãe. Para Tatiane não foi diferente. O início do processo de amamentar não foi fácil e foi preciso muita persistência. Foi nesse momento de emoções e sensações, como amor, afeto, descobertas e machucados – sim, machucados -, que Tatiane viu a oportunidade de ajudar outras mamães. Junto à felicidade de amamentar, vieram fissuras, lesões e outras dificuldades. Pensando nisso, Tatiane criou a Matka, uma linha de roupas para tornar o aleitamento materno mais acessível, onde quer que seja. As roupas possuem aberturas nos seios e a proposta é oferecer praticidade para o ato, seja onde for, porque amamentar é vida e deve ser feito em qualquer lugar.

“A Matka tem um significado muito especial, por experiências vividas e por questões históricas. A palavra Matka é de origem polonesa e significa mãe. A Polônia é considerada um país ultraconservador e, historicamente, as mães polonesas lutam pela liberdade e o direito de amamentar em espaços públicos e tornaram-se símbolos na Europa, consequentemente no mundo todo. Por isso, traz na sua história e essência o apoio e incentivo ao aleitamento materno. Nós, da Matka, trouxemos todo esse conceito para apoiar e incentivar o aleitamento materno”, conta. Assim como Tatiane, outras mães buscam e executam novas ideias para que as mães sejam respeitadas em todos os lugares, principalmente no momento de amamentar.

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Além de empresária, Tatiane é modelo das peças da Matka. Foto: Edwin Malheiros

Então, no dia 1º de agosto é celebrado o Dia da Amamentação. Uma data significativa para mostrar ideias como a de Tatiane e lembrar sobre a importância do aleitamento materno. A data é comemorada anualmente dentro da Semana Mundial de Aleitamento Materno, entre os dias 1º e 7 de agosto. A homenagem foi criada no ano de 1992 pela Aliança Mundial de Ação pró-amamentação (World Alliance for Breastfeeding Action – WABA) e tem o objetivo de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, assim como a criação de bancos de leite, com o intuito de garantir melhor qualidade de vida de crianças em todo o mundo. Alusivo a esta data, o Instituto Mulheres Jornalistas conversou com especialistas sobre a importância, o processo de adaptação e os problemas existentes neste ato materno.

Segundo Luísa Carneiro, nutricionista, doutora em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará, especialista em Nutrição Clínica e Tecnologia de Alimentos e coordenadora do Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, no Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), a amamentação tem todos os nutrientes para o bebê: proteínas, carboidratos, gorduras, água, vitaminas e sais minerais para favorecer o crescimento e o desenvolvimento do bebê. Fortalece o sistema imunológico, diminuindo o adoecimento. Proporciona o maior contato com a mãe, melhorando o cuidado e o afeto. Melhora a digestão e minimiza as cólicas. Desenvolve a inteligência quanto maior o tempo de amamentação, pois desenvolve o sistema nervoso.  Reduz o risco de doenças alérgicas, diabetes, obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias e outras. Estimula e fortalece a arcada dentária, evitando a respiração pela boca. Previne anemias e diarreia. Está sempre pronto para ser consumido. A amamentação tem muitos benefícios não só para o bebê, mas para a mãe, família, sociedade e economia.

Quando a dificuldade surgir, o que fazer?

Diversos estudos e trabalhos são desenvolvidos sobre o aleitamento materno e tudo que se refere a este ato. A dra. Luísa Carneiro, junto com demais profissionais da área, coordenam estudos sobre a amamentação na Amazônia e as dificuldades vividas pelas mulheres. Um dos projetos desenvolvidos é a “Prevalência de Problema de Mama em uma Maternidade de Referência em Belém-PA”, pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Os problemas com a mama puerperal podem evoluir para um ingurgitamento mamário (leite empedrado), fissuras de mamilo, traumatismos mamilo-areolares, mastites e abcessos mamário, e o objetivo da pesquisa é verificar a prevalência desses problemas nas novas mães. De acordo com a especialista, o manejo adequado da amamentação é imprescindível, pois, se não tratados adequadamente, os problemas de mama, com frequência, levam ao desmame precoce e “retirada da criança do peito”. “A maioria dos problemas comuns relacionados à lactação pode ser prevenida com esvaziamento adequado das mamas. Uma vez presentes, os problemas devem ser manejados adequadamente, evitando-se, assim, o desmame precoce e sofrimento da mãe”, explica.

A médica Laélia Brasil, doutora em Doenças Tropicais pela UFPA e mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), coordenadora do Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança (CASMUC) da Faculdade de Medicina da UFPA e vice coordenadora da Especialização em Pediatria e do Programa de Residência Médica em Pediatria, ambas também da UFPA, é parceira de Luísa nos estudos sobre amamentação na Amazônia. Ela explica como o aleitamento afeta as mães, além do ato de amamentar. “As experiências de vida são diferentes de pessoa para pessoa, cada mulher traz consigo uma bagagem, quer estar ou não grávidas, quer amamentar ou não seus filhos e essa mulher também tem o direito ser orientada, assistida e respeitada nas suas decisões.

Quando as mães participam de grupos de apoios, seja de iniciativas públicas ou privadas, deste o pré-natal, o momento do parto, o pós-parto e a amamentação, são mais fácies de serem enfrentados. A exemplo de algumas unidades de saúda pública que tem uma iniciativa chamada “PROAME – Programa de Apoio e Incentivo ao Aleitamento Materno”, por meio do qual as mães recebem orientações, cuidados de saúde e acompanhamento para seus filhos. Essas mulheres costumam dar depoimentos maravilhosos, mas novamente cada caso é um caso”, afirma.

A especialista alerta para a importância do aleitamento materno e afirma que a prática está ameaçada pelo desconhecimento dos seus benefícios e pelas propagandas comerciais indevidas de mamadeiras, bicos, chupetas, leites artificiais e alimentos ditos “alimentos para crianças”, que fazem a população acreditar que o leite materno é fraco.

A médica explica que, para amenizar as consequências físicas, como machucados, e a adaptação ao aleitamento, é necessário que haja o manejo da amamentação. Essa técnica envolve a mamada preferencialmente na primeira hora após ao parto para aproveitar a hora de alerta do bebê, pois depois desse tempo ele costuma querer dormir. Envolve também a pega do bebê no peito da mãe, a posição do bebê no colo da mãe, a posição da mãe para amamentar, observar se o bebê está retirando o leite da mama, entre outros detalhes. “Quando a mama já está ferida e se feriu foi muito provável por causa de uma pega incorreta, essa mulher tem que ser assistida por um profissional de saúde que ajudará no posicionamento do bebê, na postura da pega e, às vezes, será necessário procedimentos mais complexos, como é o caso das mastites”, explica.

O que fazer quando não produz leite?

A médica Luísa Carneiro explica que são raros os motivos para uma baixa produção de leite, chamada hipogalactia. Uma delas é o desconhecimento de como esse leite é produzido dentro do corpo da mãe e a influência negativa do estresse na mãe, o qual impede a ação do hormônio ocitocina que é responsável pela saída do leite.

“Ou seja, quando a mãe fica preocupada o leite não sai, o bebê para de mamar e chora. O bebê parando de mamar, deixa de estimular ao desmane. Pois, qual é a mãe que consegue ver seu filho chorando de fome? Nesses casos, logo vem uma introdução de leite artificial que será muito prejudicial à criança”.

É preciso entender: a mulher que amamenta deve ser acolhida, escutada, acompanhada por uma equipe capacitada em “manejo da lactação” e estar em um ambiente tranquilo e saudável.

Hora do desmame?

A Opas, a Organização Mundial de Saúde e o Ministério de Saúde do Brasil recomendam: o aleitamento materno deve ser exclusivo nos seis primeiros meses de vida e complementado até os 2 anos ou mais de vida. Quando se fala de “aleitamento materno exclusivo” é alimentar a criança só com leite de peito da sua mãe, sem dar água, chá ou outro alimento.

O tempo que ele irá mamar além dos dois anos de idade será determinado pelo binômio mãe bebê. A criança mamando exclusivamente até os 6 meses de idade estará pronta para receber alimentos saudáveis consumidos pela mãe, ou seja, carnes, cereais, frutas e legumes. Isto seria o ideal, mas também é aceitável para a mãe que trabalha iniciar a introdução alimentar um pouco antes.