Notícias falsas minam democracias e, em tempos de pandemia, colocam vidas em risco. Não é possível tolerar mais tamanha onda de desinformação  

Comentarista Melissa Rocha- Rio de Janeiro
melissa.rocha@mulheresjornalistas.com

O avanço da tecnologia experimentado nas últimas décadas mudou em muito a forma como consumimos informação. Hoje, as notícias estão a um clique de distância, bastando apenas um segundo clique para repassarmos o conteúdo adiante. 

Em grande parte, essa mudança se deu com o advento das redes sociais. Criadas para aproximar amigos e familiares, elas ganharam espaço como fontes de notícia. No Brasil, o WhatsApp se tornou o principal canal usado para busca de informação.

Porém, na esteira dessa tendência, surgiu um grande perigo: as notícias falsas, também chamadas de fake news. Diariamente, nossas redes sociais são inundadas de informações falsas ou distorcidas, que minam democracias, pervertem o debate político e, por vezes, geram discórdia entre amigos e familiares. 

Em tempos de pandemia, como a que vivemos agora, esse potencial danoso tem um viés ainda mais grotesco: vidas são colocadas em risco através de notícias falsas, que trazem “receitas milagrosas” para combater o novo coronavírus ou médicos de fachada divulgando falácias. Alguns conteúdos vão além, chegando a negar a existência da pandemia, classificando-a como uma farsa criada por interesses políticos. 

Tais conteúdos falsos ameaçam, em especial, os idosos, que estão entre os grupos mais vulneráveis à Covid-19, e são os mais suscetíveis às fake news. Segundo uma pesquisa, feita entre usuários do Facebook nos EUA, pessoas acima de 65 anos compartilham sete vezes mais notícias falsas que usuários mais jovens.  

Nesse contexto, dar um basta na replicação de fake news se mostra uma tarefa urgente e humanitária. Não é possível tolerar mais tamanha onda de desinformação. A troca de informação precisa ser baseada em fatos e dados, de forma a munir a população de conhecimento. 

Em Brasília, duas medidas sobre o tema correm em paralelo e merecem ser acompanhadas com atenção. Uma é a CPMI das Fake News, que visa investigar e desarticular milícias digitais que proliferam notícias falsas. O trabalho da comissão atinge em cheio a gestão Bolsonaro, que fez das fake news uma arma política, usando conteúdos falsos ou enviesados como tática para manobrar a opinião pública.  

Fervilha também no Congresso o debate em torno da chamada PL das Fake News. O projeto de lei visa criar mecanismos para punir o compartilhamento de notícias falsas e conteúdo de ódio. O texto, no entanto, é alvo de críticas de órgãos como a OAB, a ONU e a OEA, que alertam que seu trâmite acelerado pode resultar em censura ou aplicações arbitrárias. 

Enquanto ainda não há uma lei aprovada sobre o tema, existem algumas pequenas medidas que podemos tomar para conter as fake news. A principal delas é verificar todo conteúdo que nos chega através das redes sociais. Confira sempre a fonte original, quem são os autores e quais são seus interesses em repassar a mensagem. Busque se guiar por canais oficiais, principalmente quando o assunto for a pandemia. 

Caso identifique alguma notícia falsa em uma rede social, denuncie o conteúdo à plataforma. Pequenas ações como essas levam apenas alguns minutos e podem contribuir em muito para o combate às fake news.