Saiba quais são os lugares reservados para as mulheres entre os maçons e porque os segredos são exclusivamente masculinos
A segregação feminina na maçonaria
Por Regina Fiore Ribeiro- SP
A atriz britânica Emma Thompson afirmou em entrevista, em 2018: “É impossível eu sentir simpatia por qualquer instituição que sistematicamente oprime as mulheres. Por isso sou ateia. Porque a religião tem uma longa história de opressão à mulher”.
Emma Thompson se referia aos dogmas de diversas religiões que, ao serem consolidadas a partir de um sistema patriarcal, acabaram excluindo as mulheres de locais de liderança ou de decisões. As religiões cristãs, por exemplo, são praticadas por 2,3 bilhões de pessoas ao redor do mundo, em diferentes vertentes. Sua base fundamental, a Bíblia, traz trechos que colocam o homem como alguém superior à mulher.
Ao longo dos séculos, as religiões perseguiram a figura da mulher tendo como base os dogmas estabelecidos em sociedades patriarcais. Exemplos disso são a Inquisição, ordenada pela Igreja Católica, o uso de burcas por mulheres muçulmanas e até mesmo alguns ritos de mutilação genital praticados em tribos africanas e orientais. A maioria das religiões ou filosofias religiosas usa seus dogmas para excluir as mulheres da liderança.
A liderança masculina na maçonaria
A filosofia não-religiosa mais conhecida que exclui de sua prática central a figura feminina é a maçonaria, criada há mais de 300 anos. É possível ser praticante do catolicismo e ser maçom assim como ser budista e participar das reuniões.
Os criadores da maçonaria moderna, no entanto, eram pastores protestantes ingleses, portanto a maioria das doutrinas respeitam os dogmas protestantes: a fraternidade entre os irmãos maçons, os princípios de trabalho e a filantropia. Muitos símbolos maçônicos têm origem no judaísmo, assim como a existência de um único Deus, o Grande Arquiteto do Universo. Por ter sido criada na Inglaterra, grandes nomes da maçonaria foram Winston Churchill e Oscar Wilde.
Os maçons geralmente se reúnem para expandir e compartilhar conhecimentos e manter a união do grupo para perpetuar sua existência. A entrada na maçonaria é feita por meio da indicação por um padrinho, membro do grupo. A maçonaria também é bastante associada à riqueza e liderança de áreas de grande poder da sociedade, como alto escalão de empresários e presidentes.
A classe feminina na maçonaria
Tradicionalmente, as mulheres são excluídas das Lojas Maçônicas, como são chamados os lugares onde os maçons se reúnem. A liderança é exclusivamente masculina desde a fundação da maçonaria, apesar de ao longo da história algumas mulheres terem se destacado.
A decisão de não aceitar mulheres nas reuniões é embasada em diversas justificativas. A primeira delas é a manutenção das tradições da origem da maçonaria, onde a palavra “maçom” se referia aos obreiros e pedreiros da época, profissões exercidas apenas por homens. Socialmente, as Lojas eram localizadas no fundo de tabernas, lugar onde a presença feminina era inaceitável.
Além das tradições, existem especulações como a suposta natureza emocional da mulher, que impede a tomada de decisões e o cumprimento de certas regras, as cláusulas pétreas dos mandamentos maçônicos, que incluem a exclusão de mulheres, e até algumas teorias sobre a atração sexual entre homens e mulheres, que poderia causar distrações para os membros.
No entanto, existem grupos conhecidos como “paramaçônicos” feitos especialmente para abrigar as mulheres e realizar trabalhos e estudos voltados ao público feminino, como é o caso da Ordem da Estrela do Oriente, frequentada por mulheres com mais de 18 anos, as Meninas Arco-íris, onde meninas e mulheres mais jovens também são aceitas e a Ordem Internacional das Filhas de Jó, que segue doutrinas bíblicas.
As ordens maçônicas voltadas para mulheres estão sob a responsabilidade da maçonaria tradicional masculina. Assim, as mulheres precisam ter vínculos de parentesco com maçons e apresentar um comportamento moral adequado, caracterizado por princípios conservadores. Dentro das Lojas Maçônicas ainda existem os Clubes das Acácias, que são encontros realizados entre as esposas dos maçons.
Na Inglaterra, há mais de 100 anos existem associações maçônicas exclusivamente femininas que são representativas, super secretas e com certo poder. Enquanto a maçonaria, no geral, possui cerca de 6 milhões de membros estimados, a maçonaria feminina chega a 5 mil participantes concentradas no Reino Unido. No Brasil, a maçonaria reúne cerca de 170 mil membros, sem estatística certa para o número de mulheres.
Existem algumas Lojas que são mistas, ou seja, podem ser frequentadas por homens e mulheres. No entanto, são consideradas também subordinadas às Lojas masculinas. A modernização e a mistura dos sexos na maçonaria são temas amplamente discutidos, principalmente pela evolução do feminismo e da busca pela igualdade. No entanto, maçons mais fundamentalistas defendem a segregação dos sexos e a manutenção do poder masculino entre a fraternidade.