Registrando altas de audiência, o programa da Globo tem aumentado buscas no Google e plataformas de streaming

Por Giulia Ghigonetto
giulia.ghigonetto@mulheresjornalistas.com

O reality show mais comentado do momento, o Big Brother Brasil da Rede Globo, tem sido há anos palco de discussões sobre diversos aspectos da sociedade como misoginia, homofobia, racismo, xenofobia, intolerância religiosa, relacionamentos abusivos, entre outros. 

“Sendo um dos programas de maior audiência da TV brasileira, é natural que ele acabe virando pauta, trend topics [do Twitter] e conversa entre familiares no WhatsApp”, destaca Pedro Falcão, ex-participante do BBB 17, o primeiro apresentado por Thiago Leifert. 

O ex-brother acredita que, nos últimos anos, justamente por envolver mais a internet e a criação de conteúdo em massa, essas discussões têm saído cada vez mais da tela e invadido o cotidiano de todos, o que foi potencializado com a entrada de pessoas já conhecidas pelo público como influencers e artistas multifacetados.

Com a nova edição, esses e outros assuntos vieram à tona, sendo o principal deles sobre abuso psicológico. As atitudes da rapper Karol Conká em relação ao ator Lucas Penteado lhe renderam cancelamentos de contratos e uma alta de pesquisas no Google. Segundo o Google Trends, a busca por “tortura psicológica” teve um aumento de 610% no Brasil entre janeiro e fevereiro, chegando ao maior patamar da série histórica de registros do Google, desde 2004. O termo “abuso psicológico” também foi pesquisado mais vezes desde então. 

Em entrevista para o jornal Estado de Minas, Daniel Martins de Barros, psiquiatra e professor do Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, diz que a tortura psicológica consiste em “imposição de um sofrimento em alguém de maneira que a pessoa não consiga resistir”. Esse sofrimento vem em forma de xingamentos, acusações, críticas maldosas, ofensas, desprezo, ironias e ameaças veladas. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (1987), tortura, seja física ou psicológica, é todo ato com a intenção de causar dor ou sofrimento intencionalmente. Na constituição brasileira, ela está marcada no artigo 1 da Lei 9.455/97, sendo o fato de ‘constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça causando-lhe sofrimento físico ou mental’. Nesses casos, a vítima se sente paralisada, começa se questionar, enquanto o agressor inverte as situações ao seu favor, ironizando, criticando e ignorando o sentimento do outro. 

Podendo ser praticado no coletivo ou individualmente, o abuso psicológico geralmente vem em uma estrutura de poder. Quem é abusado tem menos força em termos físicos, emocionais e até mesmo sociais. Ou seja, isso pode acontecer vindo de um grupo de pessoas, um pai/mãe contra o filho(a), um chefe ou um cônjuge. Um caso como esse sendo exposto em rede nacional pode ajudar a educar a sociedade, uma vez que a violência acaba quase sempre atrelada ao lado físico e não ao psicológico. 

“Nem sempre os comentários e as situações que se formam lá dentro são ideais, acabando até de forma abusiva, mas pode ser um aprendizado”, reflete Falcão. “Temos visto nessa edição a questão do cancelamento e da superioridade sendo imposta e acho que é uma discussão interessante que ela trouxe de ter um debate mais aberto e humano, que gere um aprendizado”, complementa.

Mas é preciso tomar cuidado pois, apesar de dar acesso à discussão, com a situação sendo televisionada pode gerar a impressão de banalização do ato e de que é comum fazer tortura psicológica com o outro. Por isso, o tema deve ser trabalhado com cuidado, sem deixar que a pauta caia no esquecimento. 

Outros aumentos na internet

A 21ª edição do BBB, além de influenciar em debates éticos, vem gerando outros aumentos de pesquisa na internet. Depois que a participante paraibana Juliette Freire contou versos da música “Deus me Proteja”, de seu conterrâneo Chico César em parceria com Dominguinhos, a busca pela canção disparou nas plataformas digitais. 

No YouTube, a procura pelo vídeo com a versão da música gravada em estúdio cresceu mais de 900%, passando de 7 mil visualizações em janeiro para 74 mil em fevereiro. Os dados foram informados pela assessoria de comunicação do músico ao G1. Já no Google, ela atingiu um pico de buscas pela primeira vez em cinco anos, no dia 3 de fevereiro. A canção também entrou na 25ª colocação entre as 50 músicas que viralizaram no Brasil, no Spotify. 

Isso reforça cada vez mais o poder que o programa exerce sobre a população, ditando desde pautas de discussão até preferências musicais, e como a internet e redes sociais amplificam essa influência.