Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – SP
vanessa.rooijen@mulheresjornalistas.com
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

A vacina é uma das formas mais eficazes de prevenção contra o vírus, que pode se desenvolver para câncer de colo de útero

Para a biomédica Jordana Dionísio, falar sobre HPV não é um tabu. Aos 18 anos de idade, a profissional de saúde descobriu a patologia e foi graças à informação que tudo pôde ser resolvido com tranquilidade. “Adquiri o vírus através de um companheiro que tinha várias parceiras, enquanto eu estava no relacionamento de forma monogâmica. Descobri em casa. Como eu já era da área da saúde, ao me tocar eu senti que existia uma ‘bolinha’ na minha parte genital. Usei um espelho para enxergar e pude vê-la. Então procurei uma ginecologista no outro dia mesmo, fiz os exames e foi confirmado o diagnóstico para HPV”, lembra. Hoje Jordana está curada, graças ao diagnóstico precoce.

HPV-vírus-vacina
Jordana superou a doença devido ao conhecimento prévio sobre HPV. Foto: Arquivo pessoal

“Se eu não soubesse o que é o HPV, eu não saberia o que seria aquela bolinha em mim. A informação faz você se conhecer. Infelizmente, o preconceito ainda está presente em nossa sociedade e as pessoas não buscam entender sobre. Por ter informações, procurei rapidamente um médico, tive os cuidados necessários da medicina e família, consegui me curar e evitar um câncer”, destaca.

O HPV, abreviação de Papilomavírus humano, é um vírus que infecta a pele e mucosa das pessoas. Ele ganha grande destaque por ser o principal agente causador do câncer de colo uterino. Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV e cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital.

O vírus do HPV é o responsável por quase 100% dos casos de câncer de colo de útero. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são aproximadamente 570 mil casos novos por ano no mundo de câncer do colo do útero, tornando este o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. Ele é responsável por 311 mil óbitos por ano, sendo a quarta causa mais frequente de morte por câncer em mulheres (IARC, 2020). O INCA estima ainda uma tendência de que surjam 16.590 novos casos da doença entre 2020 e 2022.

Um dado mais alarmante ainda, divulgado pelo Ministério da Saúde, mostra que mais da metade dos jovens brasileiros entre 16 a 25 anos têm o HPV. A pesquisa do órgão revelou ainda que 54,6% dos indivíduos na faixa etária analisada estão infectados pelo vírus e que 38,4% desse número apresentaram HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer.

A transmissão do vírus ocorre por contato direto com a região infectada, sendo a via sexual a principal forma, mas não a única. Ou seja, pode ocorrer por contato oral com a genitália, o contato genitália-genitália, além do contato mão-genitália. Além dessas formas, existe a possibilidade de transmissão durante o parto, quando a mãe possui lesões ativas.

Vamos falar de HPV!

HPV-vírus-vacina
Dra. Mariana Carvalho orienta sobre a importância do diálogo e de orientações sobre a doença. Foto: Arquivo pessoal

O Instituto Mulheres Jornalistas conversou com a dra. Mariana Carvalho sobre a importância de debater o que é e como prevenir o HPV. A profissional é médica Ginecologista, especialista em Patologia do Trato Genital e Colposcopia, responsável técnica pela Clínica Resolutiva medicina especializada e professora do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (Unifamaz). Ela também dá orientações por meio das redes sociais, visando o maior alcance do público, tendo como base o acesso à informação, por meio do perfil @dramarianacarvalho.gineco.

MJ: Qual o público mais atingido pelo HPV? O vírus passa a afetar as pessoas a partir de qual idade?

Dra. Mariana Carvalho: O HPV atinge a população sexualmente ativa, independente da idade, acometendo mais homens que mulheres. Estima-se que 80% das mulheres sexualmente ativas serão, em algum momento, infectadas por um ou mais tipos de HPV. Entretanto, a infecção pelo HPV costuma ser transitória e poucas mulheres, de fato, desenvolverão lesões.

MJ: O HPV atinge homens. Qual a importância de falar sobre isso com eles?

Dra. Mariana Carvalho: Primeiro, porque o homem pode abrigar tipos cancerígenos de HPV, considerados HPV de alto risco e transmiti-los para a parceira sexual. Além disso, o HPV também é responsável pelo câncer de pênis, de ânus, orofaringe e boca. Ou seja, a infecção do HPV em homens gera a mesma preocupação que a infecção em mulheres, pela possibilidade de transmissão e por gerar lesão pré-malignas ou malignas em homens e mulheres.

MJ: Qual é a importância da informação?

Dra. Mariana Carvalho: Devemos destacar a importância de pais e educadores na formação e orientação das nossas crianças e jovens. Estimular o conhecimento sobre o assunto e a prevenção, especialmente através da vacinação, é a grande chave para acabarmos com os casos de câncer causados pelo HPV. Além disso, precisamos reforçar que ter HPV não significa que você terá câncer. O acompanhamento médico especializado pode trazer orientações direcionadas e tratamentos mais assertivos, para os casos que necessitem.

Prevenção é o melhor remédio

A dra. Mariana Carvalho explica que a principal forma de prevenção é a vacinação. A vacina quadrivalente contra o HPV, adotada pelo Ministério da Saúde, previne contra lesões genitais pré-malignas e malignas de colo do útero, vulva e vagina nas mulheres e contra verrugas genitais em mulheres e homens, relacionados ao HPV 6, 11, 16 e 18. Existe a distribuição gratuita para meninas entre 9 a 14 anos e meninos entre 11 a 14 anos, além da distribuição para imunossuprimidos.

O uso de camisinha em todas as relações e a manutenção de hábitos de vida saudável para estimular o sistema imune são essenciais. Outra forma de prevenção que não pode ser esquecida é a visita ao ginecologista para a coleta periódica do exame de Papanicolau (preventivo, colpocitologia oncótica), para a prevenção do câncer do colo do útero. A detecção de lesões precursoras (pré-câncer) permite que seja instituído o tratamento precoce com 100% de chance de cura.

HPV-vírus-vacina
Adriele acredita que campanhas mais efetivas nas escolas são eficazes para a melhor conscientização dos jovens e famílias. Foto: Arquivo pessoal

A técnica de enfermagem e acadêmica de fisioterapia, Adrilene Carvalho, tem uma filha de 9 anos, a Ághata Antonella. A mãe preza pelo conhecimento e saúde da criança, por isso, concorda com a vacinação contra o HPV. “Vacinar precocemente, além de prevenir doenças que podem vir a se desenvolver futuramente, como o câncer de colo de útero, é um ato de amor para com nossos filhos e filhas. Quanto mais cedo há essa imunização, melhor é a resposta imunológica da vacina”, afirma.

Para Adriele, seria importante que mais campanhas fossem desenvolvidas nas escolas para um alcance maior das pessoas, quando seria possível o esclarecimento de diversas dúvidas. “É preciso romper o estigma e o preconceito em torno da vacina do HPV e as consequências futuras do vírus. O que gera o preconceito é a falta de conhecimento sobre o assunto. As pessoas ainda ligam muito a questão do vírus com a promiscuidade, o que não pode ser feito. Informação é conhecimento e conhecimento é liberdade”, afirma.

Fique atento ao sintomas

Os sintomas de HPV podem demorar entre meses e anos para se manifestar, dependendo do sistema imunológico da pessoa e a sua carga viral. Além disso, os sintomas podem variar entre homens e mulheres.

Nas mulheres, os principais sinais e sintomas indicativos de HPV é a presença de verrugas na região genital, que também são conhecidas como condiloma acuminado (crista de galo). Elas podem surgir na vulva, nos pequenos e grandes lábios, no ânus e no colo do útero.

Outros sintomas de HPV na mulher são vermelhidão local; ardor no local da verruga; coceira na região genital; formação de placas com verrugas, quando a carga viral é elevada; e a presença de lesões nos lábios, bochechas ou garganta, quando a infecção foi por meio da relação sexual oral. Para identificar os sintomas da região interna, presentes no colo do útero, as mulheres devem realizar exames como papanicolau e colposcopia.

Já nos homens, também podem surgir verrugas e lesões na região genital, principalmente no corpo do pênis, saco escrotal e ânus, ou na parte interna da bochecha ou garganta, caso a infecção tenha ocorrido por via oral. Contudo, na maioria dos casos, as lesões são tão pequenas que não conseguem ser enxergadas a olho nu. Para diagnóstico, é necessário a realização do exame de peniscopia.

O Ministério da Saúde desenvolveu o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que orienta pessoas sexualmente ativas e alinha ações para o combate à transmissão de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) em todo o país. No Sistema Único de Saúde (SUS), tem tratamento e testes para várias dessas doenças, além de ser referência no tratamento do HIV.

Tratamento

Na maioria das mulheres, o organismo se encarrega de eliminar o vírus ao fim de 1 a 2 anos desde o surgimento. Contudo, isso não ocorre com todas. O diagnóstico precoce possibilitará o início do tratamento, que consiste em retirar as verrugas com o uso de pomadas específicas ou tratamento por cauterização, laser ou bisturi, em que as verrugas serão retiradas uma a uma, de acordo com a recomendação do ginecologista. Esse tratamento pode durar cerca de meses a 2 anos, dependendo do tamanho das verrugas e da extensão das lesões.

Por se tratar de um vírus, o tratamento do HPV tem como objetivo apenas reduzir as verrugas e o desconforto da mulher, por isso, para que o vírus seja eliminado do corpo, o ginecologista que acompanha o caso pode indicar uso de remédios e suplementos vitamínicos para fortalecer o sistema imunológico da paciente.

Nos casos em que o corpo não consegue eliminar o vírus, a infecção pode progredir para outra doença, como o câncer de colo de útero. A prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais para que a situação não se evolua neste sentido.