Luiza Pinheiro Repórter Rio de Janeiro
 
 
Toda relação entre pessoas é permeada pelo envolvimento emocional. Nós nos envolvemos porque começamos a nutrir sentimentos, seja amorosos ou fraternos. No entanto, em diversas situações é comum ver algum lado não atuando de uma forma empática com relação ao outro, ou seja, agindo de maneira inadequada e desrespeitando os sentimentos alheios. Neste caso, não há responsabilidade afetiva. Isto nada mais é do que se colocar no lugar da pessoa, entender o que ela quer e se responsabilizar pela expectativa dela que é criada por você.

Dizer mil coisas legais, fazê-la esperar que algo aconteça e depois não realizar isso, sem se importar com os sentimentos dela, é irresponsabilidade afetiva, que abrange não só relacionamentos amorosos, mas também relações entre irmãos ou pais e filhos. Isso pode acontecer em todos os ambientes, seja no físico ou virtual. A tecnologia, inclusive, é algo que pode intensificar e expor essa falta de empatia com o outro, já que atualmente muitas pessoas costumam se mostrar nas redes sociais e falar sobre suas vidas. Até onde é possível expor a privacidade sem afetar a de um terceiro? É algo a se pensar.

Existem diversas discussões acerca da escassez de responsabilidade emocional e de como muitas pessoas acabam se colocando em primeiro lugar, esquecendo totalmente os sentimentos dos outros. O professor do departamento de psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Adriano Pereira, acredita que atualmente há uma crise envolvendo a grande dificuldade de empatia. “Talvez uma das explicações esteja no fato de que nós avançamos na capacidade comunicacional em uma velocidade maior do que na capacidade emocional”, afirma. E explica: “Nós estamos preparados para lidar com fatos, informações e ideias. Sensações também. Mas, definitivamente, não estamos preparados para lidar com as demandas emocionais potencializadas por esses contatos expandidos”.
 
 
A falta de responsabilidade afetiva pode fazer muito mal a uma pessoa e até mesmo causar determinados traumas. Em um mundo em que é costume se expor nas redes sociais, onde os sentimentos são efêmeros e que se envolver pode levar tempo, observa-se que é complicado lidar com o outro se a pessoa não se abrir para a sua própria realidade.

Adriano explica que, para se abrir para alguém, é necessário estar bem consigo mesmo, pois, senão, não pode haver uma relação segura entre as duas partes.  “Se, primeiro, eu não estiver aberto para outras perspectivas dentro de mim, não terei como me abrir ao outro fora de mim”, esclarece.

Ele destaca, então, que é preciso acolher a realidade afetiva do outro, ou seja, lidar com os sentimentos dele. Quando se consegue entender que essa pessoa é, de fato, alguém que também tem sentimentos e com quem você se importa, as próprias percepções são afetadas e, então, é mais fácil se colocar em seu lugar.

A capacidade de empatia do ser humano, segundo Adriano, é algo a ser desenvolvido para que, só assim, a demanda emocional que as relações afetivas requerem seja atendida. Com isso, a convivência e a responsabilidade com os sentimentos do outro podem andar juntos. Para se alcançar isso, o professor garante que não há uma receita certa e que vai de cada um. “Não há fórmulas prontas, o árduo trabalho é de natureza psicológica”, conclui.