A falta que faz
Há dois anos, o Brasil perdia Ricardo Boechat. Difícil mesurar a falta que ele faz para o jornalismo, especialmente nos dias atuais
Por Melissa Rocha
melissa.rocha@mulheresjornalistas.com
Esta semana foi marcada por uma triste data para a imprensa brasileira. Há dois anos, o país perdia um dos grandes nomes do jornalismo: Ricardo Boechat, morto em um acidente de helicóptero, em 11 de fevereiro de 2019.
Difícil mesurar a falta que ele faz para o jornalismo, especialmente nos dias atuais. Crítico, imparcial, de humor sarcástico e profundo em suas análises. Essas são algumas das características que faziam de Boechat tão querido entre ouvintes, leitores e telespectadores – e uma referência para colegas da categoria.
Mas acima de tudo, Boechat era um apaixonado pela profissão. Tinha um perfil irrequieto, daqueles que não se conformam em fazer um jornalismo declaratório. Daqueles que apuram e contestam, sem medo, seja quem for. E que não se furtava de expor suas opiniões, mesmo as mais polêmicas. Mesmo quando sabia que estava indo contra a corrente dominante de pensamento. Sua intenção, como bem explicou em uma entrevista dada em 2012, era estar em paz com sua consciência. E para isso precisava fazer a coisa certa.
Impossível não se perguntar o que estaria dizendo Boechat sobre a conjuntura política atual. Qual seria sua opinião sobre a condução da pandemia no Brasil? Uma coisa é certa: ele estaria do lado da população, e não haveria linha editorial ou tentativa de censura que o calasse. Porque Boechat era o oposto do jornalista chapa-branca – termo que usado no ramo da imprensa para designar aqueles fazem uma branda ou quase nenhuma oposição ao governo.
Ademais, Boechat não era do tipo que se rendia à vaidade. Era um dos jornalistas mais aclamados do país, mas não deixava que isso o desviasse de suas funções. Em uma época em que o culto à personalidade segue a pleno vapor, ele entendia aquilo que muitos de sua profissão não entendem: que o jornalismo é uma ferramenta da sociedade. E que o jornalista não é a notícia, mas sim um servidor do povo, que tem como dever usar seu trabalho de informar e questionar para construir uma sociedade mais justa.
Jornalistas como Boechat são precisamente os que mantêm acesa a chama da imprensa, mesmo em tempos críticos para a categoria. Sua morte veio pouco menos de um ano após o Brasil perder outra grande referência do jornalismo: Alberto Dines. Alguns poderiam dizer que as duas mortes, em tão curto espaço de tempo, indicam que o jornalismo está ficando escasso de talentos, uma espécie de apagar das luzes da profissão. Mas isso não é verdade. As trajetórias de jornalistas como Ricardo Boechat e Alberto Dines servem de exemplo e inspiração para as gerações seguintes.