Por Adriana Buarque, Jornalista – SP
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Estilo, educação, tecnologia e viagem são nichos que atraem o público platinado oferecendo novas perspectivas

Se o conceito do ancião remonta às origens da Grécia Antiga, o padrão de beleza esteve em constante mutação através da história. Nos últimos 50 anos, desde a popularização dos concursos de beleza, o que se viu nas passarelas foi uma grande diversidade. E como isso influenciou no mundo contemporâneo?

Como o bem-estar e a aparência permanece na pauta do cuidado da saúde, a moda traz à tona a discussão. Vera Kowalska, atriz e modelo de 57 anos, começou a carreira nos anos 1980 aos 23 (segundo ela, tarde para os padrões), por acaso depois de fazer fotos para um escritório de arquitetura. “Estudava no último ano da faculdade de Belas Artes e na época o consenso de beleza era a juventude eterna”, relembra Vera.

Vera Kowalska/ Imagem: Felipe Lima

Para ela, é libertador que as mulheres deem uma virada por intermédio das várias formas de beleza. Capitaneada atualmente pela Rock Management Agency, de Clóvis Pessoa, ela assegura que “agora há novos mercados para novos perfis, o que não era possível em anos anteriores”. Por incrível que pareça, as imperfeições corporais estão em alta, ressaltando a beleza real, sem data de expiração, e a terceira idade está na crista da onda abrindo novas frentes de mercado.

Tanto é que uma das maneiras de se reinventar é buscar atualização por intermédio do estudo. Um exemplo são os cursos da USP 60+ do núcleo de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo. Marcelo Vieira, docente da instituição, ressalta que os programas são bastante disputados por meio de sorteio de vagas, bem como divulgados especialmente por meio da propaganda ‘boca-a-boca’. “Os professores oferecem cursos voluntariamente nas áreas físico-esportiva, didático-cultural e nas disciplinas da graduação”, complementa.

A programação favorece tanto a independência quanto à mobilidade, já que o estudante pode se deslocar para o campus facilmente. “Com a pandemia, nossos alunos e alunas aprenderam a se integrar no universo tecnológico com ajuda dos monitores”, observa Vieira, “o que criou novos vínculos com os professores e amigos.”

Alunos USP 60+/ Imagem: Marcelo Vieira

Incorporar-se ao mundo da tecnologia é um dos maiores desafios para quem está com a idade mais avançada: como tudo muda todo o dia, a adaptação diária pode tornar-se difícil para quem acaba de aprender onde está o botão que precisa apertar no controle remoto para ligar a televisão, por exemplo. Com o objetivo de proporcionar educação tecnológica para idosos, a ONG InCEC abrirá a partir de agosto o programa Viver Bem Conectados – Inclusão Digital Saudável e Responsável na Terceira Idade.

“O alvo não é somente ensinar a mexer no celular, no Office ou nas redes sociais”, informa Paulo Falçarella, presidente da instituição, “mas orientar para um uso saudável e moderado da tecnologia.” Como ele mesmo relata, o local não é uma “lan house para idosos”, já que eles com a tecnologia têm mais poder para se expor, entretanto busca instruir para uma segurança cibernética e familiar.

Na toada também da digitalização, o site Family Search quer trazer experiências com banco de dados digitalizados sobre cartórios, arquivos públicos, prefeituras, detentores de registros disponibilizados gratuitamente. Presente na última Bienal do Livro, a organização foi fundada em 1894, chegando ao país em 1974 de acordo com Mario Silva, gerente de relações institucionais no Brasil.

E a literatura?

Ainda sobre a Bienal do Livro 2022, dois assuntos não são muito procurados no mercado editorial: velhice e morte. Assim confirma Jiro Takahashi, editor executivo da Editora Nova Aguilar. “A velhice, mesmo com o sucesso que Gabriel García Marquez fez com o ‘Amor nos tempos do cólera’, uma incrível história de amor na terceira idade, não vinga esse tema entre livros”, assevera.

“A morte ainda tem seu grande espaço nos romances de guerra e policiais, pois pode ser um gatilho para essas publicações”, sustenta Jiro. “Infelizmente, acho que a bibliografia é mais rica no mercado exterior”, declara.

De qualquer forma, talvez aos poucos a perspectiva é que as obras impressas ou digitais comecem a olhar para o público mais vetusto, como a Maurício de Sousa Produções com a criação de uma Turma da Mônica na terceira idade por meio de uma personagem que poderia amadurecer. Segundo o próprio Maurício, o escolhido quem sabe fosse o Franjinha, que é cientista e poderia acompanhar os avanços da ciência.

Imagem: iStock

Enquanto isso não acontece e o deslocamento pela imaginação por intermédio dos livros não é possível, os seniores vão até as agências e compram seus bilhetes para os mais variados destinos. A consultora de viagem do grupo BeFly, Andreia Alencar, informa que com liberdade financeira maior os mais velhos investem em conforto e luxo nesta fase da vida em que já cumpriram com suas obrigações, na maioria das vezes, familiares. “Antes a questão econômica era a reforma da casa”, atesta, “agora é aproveitar a vida da melhor maneira possível”.

Independência conquistada

“Posso e quero fazer tudo o que sempre quis, mas tenho que respeitar meu tempo e minha condição. Não preciso fazer tudo de uma vez, criei meus filhos e hoje em dia faço as coisas mais bem feitas porque tenho mais experiência”, rememora Maria Marini, professora de História da Arte. “Não tive muito tempo para pensar em frustração porque cuidei o tempo todo de membros da família e agora tenho tempo de cuidar de mim”, avalia.

Provavelmente, o cerne da questão seja saber encarar com prudência a última milha. Depois de tantos percalços que a vida traz, chega certa altura que a alma pede descanso, temperança e discernimento, virtudes que só o tempo é capaz de trazer. O temor é que a consciência não brade ao final da jornada a sentença: “Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio” (SHAKESPEARE, William. Rei Lear, Ato I, Cena V).