Por Letícia Fagundes, Jornalista

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Parece tão burocrático esse 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, com centenas de nós ainda em frente a judiciários erguidos por homens, em pleno 2024, pedindo socorro com panos embebidos por tintas vermelhas, outras com seus colos de fora e amamentando seus bebês. Tudo sexualizado, marginalizado e cuspido. Assim, que a sociedade erguida pelo conservadorismo enxerga estas mulheres, fazendo essa “palhaçada sem pudor”, aos berros.

Tudo que é e foi feito por mulheres que foge do padrão comportamental dos livros de psicologia e psiquiatria, escritos por brancos que surravam escravos, fica por conta da interpretação de olhares, que obviamente insinuam que elas estão fora de si.

Crescemos sendo infantilizadas e tratadas como propriedade de alguém. Ou seja, como é possível a propriedade de alguém criar vida, pensamentos e sair por aí comunicando qualquer coisa?

Jardins sem cultivo. Flores de plástico, mortas, mas ali duradouras e bonitas, mas falsas!

Vivemos séculos imitando comportamentos de livros escritos por pessoas que nada sabiam de comportamentos. Até hoje fazemos isso!

Por isso, quando alguém vê um seio amamentando ou um seio em passeata, se apavora em 2024 e despeja na rede social o “pra quê isso?”.

Fomos instrumentos nas mãos de homens por séculos e ainda somos. Há quem diga que somos ressentidas, vingativas, não aceitamos bem tudo isso que nos proporam. Afinal, nos propuseram coisas ótimas, não é mesmo?

Nascer, ser violentada talvez, ter filhos e ser empregada da própria família.

Você já ouviu falar isso? Ai da mulher que apanhar e ir se queixar na delegacia. Essa aí não aceitou bem o término do relacionamento com o marido. Aquelas que não arrumaram um filho até os 30 anos, comecem a criar angústias e procurem imediatamente terapia -tão em alta – para pensar em não surtar. Afinal, não somos autorizadas a pensar sobre o que fazer sobre os nossos próprios corpos. A indústria, que nada tem de santa e sabe tudo isso, verbaliza e comunica assiduamente um Dia das Mães cheio de pomposidade como o dia o Dia da Mulher.

Imploramos por séculos por coisas básicas e ainda não temso várias!

Imploramos por colocar nossos nomes nas pequisas, nos livros, nas artes, mas era feio ser atriz, era profissão de “mulher da vida”, afinal ser mulher da vida é coisa ruim, não boa. Experiementa não dar sorrisinhos enquanto gostaria de estar chorando.

Mulher muito arrumada, muito enfeitada causava e causa estranhesa. Como pode uma propriedade de alguém, ter vida própria e autoestima?

Se você é muito dona de si, cuide-se vai ser agredida mais cedo ou mais tarde, porque a liberdade te dá acessos e os acessos não foram feitos para mulheres. Lembramos as que viajam e sofrem assédio, são estupradas. As que são empresárias e tem que além de tomar conta da família e filhos, ser constrangida e ter que se explicar porquer teve o mesmo comportamento que um homem e nada lhe ocorreu.

Trajes ou o próprio corpo alegre aumenta o risco de violências. Ai de você se sair por aí de ombros de fora!

Espíritos brincalhões femininos, curiosidade, elevada inteligência…Iiiiih, não queria lhe dizer nada, mas esse passaporte de uma mente saudável curiosamente é o mesmo que lhe dará acesso a enfrentamentos dolorosos. E, se você é uma mulher negra, a sua pressão será dar conta de ser tudo para todos, ou seja, uma profunda exploração que começa velada dentro de casa.

Mulheres classificadas erradas, que fogem desse boçal, que esperneiam contra um comportamento vendido à semelhança de uma princesa perfeita, que apenas é propriedade de alguém é ERRADA.

A teoria psicológica tradicional -que se manifestem as mulheres modernas da saúde mental e apoiem a destruição desse comportamento doentio vendido em livros- é muitas vezes omissa quanto as questões mais profundas sobre sexualidade feminina, ciclos, intuição, o jeito de ser mulher. Esculpiu-se a imagem de uma alma feminina adequada a uma cultura intelectualmente masculina- se é que possamos chamar de cultura.

Nos contos de fadas não há relatos da nossa selvageria, desde que parimos pelas entranhas crianças ou não as queremos de jeito algum.

Mas veja bem…Contudo fomos sagazes.

Impossível esvaziar a mente feminina que atingiu uma pista de avião para andar a mais de 300km/h. Seria como parar toda potência no meio da partida e pedir que se redima a um único gesto de carinho e afeto, dos séculos de tédio paralisantes, cheios de sombras e trevas.

Qual mulher quer tolerar distrúrbios sociais que não foi escrito por elas?

Ainda bem que mulheres querem direitos e não vingança, porque estas “mulheres vingativas”, não serão mais propriedades.

Elas estão correndo como lobas selvagens, em uma psique institinva, junto de grupos que as motivaram deixarem de serem de plástico para viverem seus ciclos naturais, por si mesmas.

Quando felicitar uma mulher, pense o quanto você está descontruindo seu papel de privilégio para se colocar no lugar de todas nós, não apenas das mulheres que você escolheu, somos plurais.